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TERESA FERRER PASSOS
A festa do Natal
«A Minha doutrina não Me pertence,
é d’Aquele que Me enviou»
Jo 7, 16

E foi como se o Céu tivesse descido à Terra. Num dia, esperado há muito tempo, uma virgem chamada Maria, na cidade de Nazaré, recebeu o Anúncio de um Anjo. Do seu corpo, todo cheio de Graça, brotaria um Filho por obra do Espírito Santo. O tempo do prometido Salvador estava próximo. E Maria o consentiu, porque era necessário que assim fosse.

Esse Filho devia chamar-se Jesus, o Cristo, e seria a própria imagem do Pai, o Criador de todas as coisas. Ele daria testemunho da Vontade do Pai de todas as criaturas humanas, concebidas à sua semelhança, porque não eram apenas matéria perecível, mas também espírito eterno.

Ele era o Filho de Deus anunciado pelos profetas na terra de Canaã. Deveria nascer de uma virgem, a quem Ele deixaria a missão de ser a Mãe de todos os homens. Ela fora eleita pelo Espírito Santo para Mãe daquele que seria a sua própria Imagem e a sua própria Palavra, como diria Jesus aos seus discípulos. E a virgem, cheia de humildade, o consentiu porque a sua vontade estava pronta para ser apenas a Vontade de Deus.

É este Nascimento, ocorrido há dois mil anos, que os cristãos festejam todos os anos. Esta intervenção divina na história do Homem é celebrada com o nome de Natal. Por isso, este tempo de Advento, ou tempo de chegada do dia da Festa do Seu Nascimento, está envolto numa misteriosa alegria que todos os anos se repete, tanto entre aqueles que acreditam que Ele é o Filho de Deus, como mesmo entre aqueles para quem o Natal é uma festa laica, profana, sem sentido de ligação ao sagrado.

O milagre que o Natal de Jesus provoca, todos os anos, na sociedade consumista-materialista do mundo contemporâneo, é precisamente o facto de o acontecimento abranger todos os sectores da vida da sociedade, não se limitando, por isso, às casas ou aos templos dos cristãos. A Festa do Natal espalha-se e toca a todos, mesmo àqueles que não acreditam na sua divindade.

As ruas têm iluminações coloridas com sinos, anjos, velas, imagens de Maria com o Menino ao colo e, entre outras coisas, está o Pai Natal a chegar numa rena vinda das altas montanhas com simbólicas prendas a significar o que o Pai ofereceu à humanidade através do Nascimento de Jesus.

Nas montras das pequenas lojas assim como nos grandes centros comerciais surgem belos presépios alusivos ao Nascimento de Jesus, há enfeites com fitas douradas e prateadas, bolas de variadas cores. Nas praças das cidades constroem-se grandes árvores de Natal cheias de luz (Jesus, «a luz do mundo»), de anjinhos a lembrar a Anunciação do Anjo a Maria, sinos como que a repicar e a significar uma grande alegria. As árvores dos passeios cobrem-se de fios donde saem focos de luz. Entre as sofisticadas modas explodem imagens representando o nascimento de Jesus cercado pelos reis magos e pelos pastores que o presenteiam em sinal de gratidão.

Toda a actividade comercial se centra no espírito do Natal: a publicidade faz os seus anúncios recorrendo à palavra mágica que é a palavra «Natal»; todos se apressam nas ruas, se acotovelam entre embrulhos, pacotes e sacos carregados de prendas para oferecer às crianças, aos familiares, aos amigos, a instituições de solidariedade social, desde os hospitais às prisões. Organizam-se «Vendas de Natal» para angariar meios financeiros para os marginalizados da sociedade egoísta em que nos inserimos.

Ninguém escapa ao espírito do Natal de Jesus Cristo, de tal modo ele avassala todas as actividades da vida social. O Natal é para muitos apenas a Festa da família porque não crêem que Jesus é o Filho desse Deus que o ofereceu como «Cordeiro da Paz» ao juízo implacável dos homens.

Ninguém consegue fugir à ideia de amor fraternal na Quadra do Natal. E reparemos como é milagroso fazer-se ainda uma Festa da família, quando esta se dissolve na multiplicação dos divórcios decididos apressadamente ou em uniões de facto inconsistentes que revelam a fragilidade dos sentimentos afectivos. A família a ser ferida pelas decisões abortivas de um filho que se rejeita, a família que usa a violência com os filhos como escape das frustrações dentro do casal… 

A Festa do Natal é tão contagiante que ultrapassa as maiores celebrações revolucionárias, políticas e culturais. É que o Natal transmite a força de Jesus Cristo: a força da paz, a força da alegria, a força da fraternidade. Uma só vez por ano, mas pelo menos uma vez por ano, estas três forças unem a sociedade em volta do mesmo espírito de Amor ao próximo e aos mais distantes. Esta é a Festa maior apesar de se celebrar numa sociedade materialista-consumista.

E todo este movimento entusiástico em torno  do Natal surge, tendo como agente, tendo como motor invisível o espírito de Jesus. O Filho de Deus nasce em cada coração sem se fazer notar. E transmite, sem ruído, no silêncio e na paz toda a força da alegria, da confiança e da fraternidade que ensinou.

Alheio aos desencontros hostis desta civilização consumista e materialista em que estamos mergulhados, o Natal consegue elevar-se a uma altura imprevista, sem que ninguém se aperceba como tudo acontece. Afinal, o próprio consumismo materialista acaba por contribuir, sem se dar conta, para os princípios-chave do cristianismo: o Amor, a Paz, a Alegria.

Os humildes, os fracos, aqueles que têm sede de Amor, aqueles que vivem no abandono e no meio da indiferença, alcançam na Quadra Natalícia pelo menos, um olhar mais atento dos que passam sempre por eles com o desprezo próprio desta sociedade, a globalizar-se num ambiente tecnológico desencarnado.

Neste clima mental em que se atenta cada vez mais contra os valores que Jesus tão claramente transmitiu aos seus discípulos, a Festa do Natal é um «suave milagre» do Céu, a abençoar esta civilização a perder-se, cada vez mais, dos caminhos da fé.

Teresa Ferrer Passos