Poeta fascinado pela vida urbana, Claudio Willer publicou na editora Lamparina (Rio de Janeiro, 2004), Estranhas Experiências e Outros Poemas. Na expressão Outros Poemas são publicados textos dos livro anteriores Jardim da Provocação (1981), Dias Circulares (1976) e Anotações para um Apocalipse (1976). Trata-se de um curioso conjunto de poemas intercalados por pequenos textos em prosa, criteriosamente seleccionados pelo autor. A primeira parte do título, Estranhas Experiências, constitui o corpus dos poemas inéditos.
Poesia enraizada no quotidiano da cidade, procura nela os momentos propícios à fantasia, ao sonho, à magia: «Meus pés se afundavam na pedra e no cimento dos caminhos e descobriam o hálito morno de cidade-fantasma e a pulsação mais íntima da alma que busca libertar-se» (p.135). Os sentidos atentos do Poeta aí estão para os transpor para a palavra. Como escreve num dos seus poemas, há «um eco rascante das sandálias sobre o chão de mármore» ou, em contraste, «o vazio (...) penetra até a medula dos ossos» porque, afinal, «o vazio que chega a nós com a simetria de um poema clássico» (p.33).
Escrever é a asa liberta do poeta, a asa à solta planando sobre os jardins ou a chuva, os livros ou o calor das noites de verão: «escrevo sobre o que está aqui: / as fotos em preto e branco / brilham loucamente / - são janelas» (p.33). Os pormenores fazem parte das noites de amor: «a colcha era verde e a lâmpada azulada» (p.29). Envolto em ritual, o amor ganha a força do sobrenatural, a que não podiam deixar de se juntar os livros, esses magos cobertos com uma capa sempre a velar pelos seus secretos caminhos.
No poema «Verdade», Claudio Willer lembra que «as fachadas dos edifícios são rostos». E, como esses rostos se cruzam com «todos os que agora vagam pelas ruas, os personagens fantásticos, os videntes, os marginais» (p.36). Para Willer, tudo parece fazer parte de um mesmo quadro, errante, fugidio, cheio de reflexos, de espelhos e de sortilégios: «a realidade é uma geometria de corpos» (p.53).
Enredando-se nos labirintos do quotidiano em que se move um tanto perdido, o poeta descobre nos versos o encanto e a fonte viva que desvenda os sinais do mar: «o mar e suas gavetas de cristal / seus andaimes de prata (...) / seu recheio de quadros abstractos / (...) suas mãos de dedos transparentes a perder de vista» (p.59).
No poema «A chegada do tempo», Claudio Willer canta a chegada da primavera como se fosse «modulações da claridade /sensagens de chuva e vento / música silenciosa vibrando no corpo / luz acariciante aos domingos pela manhã» Depois, conclui: «escrever é matar-se aos poucos / deixar de ser / alegremente» (p.42). Todo o maravilhamento das sensações transparece e a própria morte só tem algum consentimento neste ofício de letras navegando.
Entre real e irreal, o poeta de Estranhas Experiências joga com as imagens efémeras e esgotantes, mas sente a exaltação a aflorar no poema «Escritos ontem». Aqui, Claudio Willer acredita ainda na dimensão humana, às vezes sufocada, como se não a merecêssemos, às vezes impetuosa demais, como se fosse um impossível: «o Sol será nosso / o centro do universo fica aqui / resistimos / pelo sagrado direito ao sonho / e todos os seus mundos / resistimos / operações mágicas continuarão lícitas / neste dia de sombras vivas que se confundem com a alma / todos os seus desejos se realizarão / o que você pedir lhe será dado / profecias se cumprirão» (p.52).
As palavras são o arco-íris do poeta, porque as palavras criam mundos novos e rebeldes, mundos cheios de água viva e refrescante, mundos para olhar com o sorriso das sensações puras e que edificam o sentimento de que vale a pena a grande aventura do desconhecido que a vida encerra.
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