As grandes editoras vivem à custa de livros cuja linguagem é simplista e pouco deve á imaginação. A literatura tornou-se um entretenimento, um «hobby», em que as temáticas abordadas são mais importantes do que a arte com que se transmitem as ideias. As técnicas literárias perderam a qualidade que era apanágio do escritor. Afinal, quem se preocupa com elas? Esqueceu-se a importância da estética em relação ao conteúdo. Quando os críticos literários abordam os livros mais vendidos, só constitui motivo dos seus artigos (Folhas literárias de jornais, de revistas, etc.), por vezes bastante longos, a temática sobre a qual o autor se debruça.
O que é importante, parece sê-lo cada vez mais, para a sociedade contemporânea, são os assuntos sobre os quais a narrativa se desenvolve até à exaustão, ao longo de muitas centenas de páginas. São vulgares os livros com quatrocentas, quinhentas ou seiscentas páginas. Também nas entrevistas aos autores, estes são confrontados com perguntas sobre questões exclusivamente respeitantes aos motivos ideológicos, pessoais ou sociais dos seus romances. A arte é uma anti-arte, cada vez mais acentuadamente.
O novo mundo aberto com a rede internética tem potencialidades que podem provocar o colapso da indústria livreira e de todo este flagelante universo literário. O ciberespaço é um «não lugar» em que todos os lugares podem surgir em simulações de novos espaços. A literatura, a ciência, a cultura em geral, descobriram que podem dialogar sem um lugar definido. Está a entrar em colapso a área demasiado restrita, que é a sede da editora. Esta é, não raras vezes, também um armazém de livros amontoados, à espera de um distribuidor que, às vezes, nunca vem, ou vem para deixar os livros em outros depósitos, os depósitos dos shoppings ou das livrarias das cidades.
A livraria é um lugar em que só os autores que têm um pesado marketing (cobertura) jornalístico têm espaço para entrar, e, em primeiro lugar, na montra. A confusão nos placares deixa o visitante/leitor numa angústia de escolha. Esta angústia é decorrente do facto de só saber o que deve comprar a partir do que dizem os críticos dos jornais ou revistas de larga difusão. Sem esses críticos que seria do leitor perante a panóplia de dezenas e dezenas de romances, desde os de autores estrangeiros aos nacionais?
Um portal internético com os seus links é acima de tudo um excelente «não lugar» porque está cheio de espaços novos, sem fronteiras, com resumos de obras editadas, sem restrições de gostos ou de interesses político-ideológicos. Os lançamentos em livrarias conduzem a gastos inconcebíveis com cartões enviados pessoalmente pelo correio (amigos, correligionários políticos, familiares, etc.). Depois as vendas são irrisórias porque na maior parte dos casos as pessoas presentes já receberam exemplares oferecidos pelo autor ou esperam vir a recebê-los. Mas o mais importante são os cocktails oferecidos pelo editor que nunca é compensado pelo número de exemplares vendidos aos convidados. Outras vezes, são salas de livrarias vazias ou anfiteatros de Universidades ou de Centros Comerciais, com lugares que ninguém ocupa.
As editoras que publicam apenas em suporte de papel, dentro de algumas décadas, não terão público leitor, a não ser a preços exorbitantes. O declínio da impressão em papel está à vista. O negócio editorial que se fundamenta na exploração do autor pelo grande editor, pelas grandes distribuidoras e pelas livrarias das grandes superfícies, está a caminho de futuras falências. Para adiar a falência, as grandes editoras esforçam-se por publicar obras menores (conteúdo e estética literária), mas com os ingredientes indispensáveis à sua massificada comercialização (por exemplo, espessos volumes com capas graficamente aliciantes). Muitas livrarias já fecharam, outras sobrevivem só graças aos livros ditos best-sellers, sempre êxitos comerciais. Até os grandes editores que nunca tiveram pejo em enriquecer à custa dos autores, oferecem-lhes pelas suas obras uns 8 a 10% ou menos, sobre o preço de capa no momento do lançamento das obras. É o caso de Publicações Europa-América que chegam a pagar ao autor, ao fim de décadas de comercialização actualizada do preço do livro, 10% sobre o preço já irrisório com que o livro foi posto à venda no primeiro ano de publicação.
Os pequenos editores recorrem aos Apoios Financeiros de Empresas mecenas ou a Câmaras Municipais, a quem os autores os solicitam, se eles próprios não têm possibilidade de o fazer. Quanto à distribuição das suas publicações encontram grandes entraves porque as distribuidoras só aceitam fazer um contrato, se o volume de obras for de milhares. Por outro lado, onde o livro ainda é relativamente bem vendido é nas grandes superfícies e nos Centros Comerciais das cidades de Lisboa, Porto e Coimbra. Mas aí só entram as obras, na maioria dos casos, de menor qualidade ou as de autores já muito conhecidos. O livro impresso tem os dias contados. Cada vez há menos pessoas a comprarem livros e menos ainda a lê-los. Tendem a tornar-se objectos decorativos de prateleiras ao lado de outros objectos decorativos.
Estamos numa época semelhante ao século XV em que o livro impresso retirou das bibliotecas o livro manuscrito. O livro manuscrito ficava caríssimo em relação ao livro impresso. Se o livro impresso tornou o livro acessível a um número de pessoas cada vez maior, o livro electrónico também se tornará quase gratuito para os leitores e estes só adquirem o livro impresso se o desejarem. Uma revolução cultural está em curso com o alargamento do uso do computador pessoal e a Internet a um número cada vez maior de internautas (milhares de leitores tornar-se-ão milhões).
No «não lugar» da Internet a palavra ganha as dimensões do planeta. A leitura dos jovens está a virar-se, de modo acelerado, para o ecrã computacional. Nem já a televisão ou o cinema colhem as antigas plateias de espectadores, a não ser aqueles que já ultrapassam a idade madura. A juventude aderiu em massas cada vez mais significativas à WEB. Os sites são visionados por públicos com uma diversificação ideológica impressionante.
Estamos a entrar numa civilização computacional que avassalará todos os anteriores instrumentos da escrita, até os substituir completamente. A imagem impera porque a imagem virtual seduz uma sociedade que nunca suspeitara da sua existência. O ecrã computacional oferece um manancial de respostas incalculáveis, nunca imaginado na História da sociedade humana. Cada vez mais a compra de livros em suporte de papel se torna uma atitude de intelectuais.
A facilidade com que se circula na Internet permite que tanto se possa consultar uma enciclopédia, um dicionário, um artigo, um romance, um conto ou um livro de poemas. Quem tem maior poder de compra pode adquirir um livro impresso em papel por via da Internet e recebê-lo poucos dias depois na sua casa. Aqueles que não têm tempo para folhear os livros nas livrarias, podem também ter acesso rápido à leitura, sempre que em casa tenham uns momentos de descanso. Folhear os livros torna-se possível num site cultural (ciência, literatura, teologia, tecnologia, filosofia, etc.), se o disponibilizarmos nessas espantosas imagens computacionais, a qualquer momento on-line. A civilização computacional está aí.
Estamos a construir um portal internético e editor chamado «Harmonia do Mundo». Destina-se àqueles que desejam navegar nos grandes espaços virtuais da Internet com o objectivo de ter acesso e colaborar na elevação da cultura universal, nas vertentes mais altas da dignidade humana, ou seja, inspirando-se nos valores do cristianismo, que construiu a civilização europeia a que pertencemos.