(Simultaneamente ao estampido e ao apagar da luz, ou um segundo depois, ouve-se a mesma música alegre do início, acende-se uma luz muito forte e aparece o Bonecreiro dando à manivela do realejo)
Bonecreiro, (jovial, com ares de dono deste mundo e do outro)
Mas nós estamos vivos, não é verdade senhoras e senhores, meninos e meninas? Estamos vivos, oh se estamos, muito mais vivos do que há um minuto atrás, mais vivos do que no princípio desta noite e deste espectáculo inesquecível.
Abracem o vosso par, beijem o par que trouxeram, aí tão bonito a vosso lado, pois é, jovens barbudos e donzelas casadoiras, felizes os que têm par, e os que não têm procurem depressa um, aproveitem cada minuto que passa, gozem as mesas e as camas, que são os lugares mais importantes do mundo.
E bendigam o teatro, que é um espelho para ver as vossas caras e a minha,
(tira um espelho de dentro do realejo, olha-se e vira-o para o público, depois deixa-o cair para dentro do realejo).
(Fingindo-se sério e quase zangado)
Porque se pensavam que vinham aqui só para passar o tempo estão redondamente enganados, senhoras e senhores, meninos e meninas.
Muitas coisas aconteceram aqui esta noite, e espero que fiquem nas vossas cabeças – não importa que sejam louras ou morenas, penteadas ou carecas, desde que não sejam cabeças ocas, e tenho absoluta certeza de que nesta ilustre assembleia e neste brilhantíssimo público não se encontra uma única cabeça oca, embora possa haver muitas cabeças carecas.
Por isso não duvido de que as vossas respeitáveis cabeças inteligentíssimas vão guardar tudo dentro delas, tão vivo e perfeito como está dentro desta caixa,
(bate no realejo).
não é verdade? Então digam comigo :
Esta noite foi-nos dado ver a vida e a morte, ou seja, o que há de mais importante no mundo, porque o que há de mais importante do que a vida e a morte? O dia de hoje não volta, o de amanhã não se repete,
(Tira de dentro do realejo uma taça de espumante)
(esfusiante)
À vossa! A esta Casa e a todas as casas! Viva a vida, senhoras e senhores, donzelas e cavalheiros! Aproveitem cada minuto, gozem cada minuto e sejam felizes, sejam felizes –
E agora já podem ir-se embora, mas vão devagar e com cuidado e pensem no que viram, durmam bem e tenham bons sonhos e amanhã e digam aos vossos amigos colegas e conhecidos, parentes compadres e vizinhos, que venham também ouvir esta história da Casa da Cabeça de Cavalo, uma Casa como nunca se viu ….
(Começa a repetir o discurso do início; por cima da voz, abafando-a, a música irrompe, alta e alegre, os actores e os bonecos saltam de dentro do realejo ou de detrás da cortina e dançam com o Bonecreiro, cumprimentando o público e acenando alegremente. Alguns trazem na mão pandeiretas, ferrinhos, castanholas e pirotecnias.)
|