(Carlota e Umbelina passeiam, com sombrinhas abertas. Gaudêncio passa, tira o chapéu diante de Carlota, que deixa cair uma luva. Ele apanha a luva e devolve-lha, juntamente com um bilhetinho (um papel dobrado, suficiente grande para ser muito visível.) Carlota esconde-o, de modo algo desastrado, na bolsinha.
Carlota afasta-se, em ar de passeio. Gaudêncio segue-a. Saem ambos e depois Umbelina).
(Reentra Umbelina – boneca, ou actriz simulando ser uma boneca - com um vestido exactamente igual ao da personagem. É uma figura mirrada e sumida, que durante parte da cena seguinte se comporta como um boneco “sempre-em-pé”, tornando a endireitar-se depois de cada paulada de Duarte Augusto. Debate-se, põe as mãos diante da cara, grita, geme, tenta falar mas não consegue, só diz “eu não eu não”. Finalmente começa a não conseguir levantar-se.
Entra Duarte Augusto, com cabeça ou cara de gigantone, brandindo a bengala e batendo-lhe com ela.
A cena é deliberadamente exagerada e grotesca, de modo a tornar-se cómica)
Duarte August, batendo com a bengala em Umbelina –
Não é a mim que alguém vai encornar! A mim não! Pois a senhora volte para de onde veio! Mas antes disso vou parti-la em migalhas! Vou moê-la na mó e fazê-la em farinha! E deito a farinha às cabras e aos porcos! Ou nem a esses, porque até os bichos morriam de peçonha, com tanta malvadez!
As mulheres são perversas e falsas, e nem os ossos e a pele se aproveitam! Nem deitando-lhes cal viva se mata o veneno delas! Nem atiradas aos cães! As mulheres só no fogo do inferno, e é para lá que a senhora há-de ir! E sem demora! No fogo do inferno é que é o seu lugar !
(Vêm todos a correr tirar-lhe a bengala, agarrar DA e Umbelina e pôr-se entre ambos. Falam ao mesmo tempo, as vozes atropelam-se. Sobressai o vulto de Carlota,muito aflita)
- Mas não é Umbelina que ele quer, é Carlota!
- Não é Umbelina!
- Gaudêncio namora Carlota !
- Namora Carlota!
DA, estupefacto, esbugalhando os olhos – Carlota ?
Todos – Siiiiiiiim!!!
DA, com o ar mais estúpido do mundo – Pois não namora a minha mulher Umbelina?
Todos – Nããããããoooo!!!!
DA, sem poder acreditar – Mas não foi Umbelina que ele cumprimentou, à saída da missa? Não lhe tirou o chapéu sem quase olhar Carlota, pelo menos que eu visse ? Não foi a Umbelina que ele tirou o chapéu e disse : Os meus respeitos, minha senhora? E logo hoje, que ela foi à missa de vestido novo?Tudo isso era para namorar Carlota?
Todos – Siiiiiiiiiimm!!!
DA, caindo em si, furioso com a figura que fez, e descarregando a sua vergonha e fúria em Gaudêncio, voltando-se para este
O senhor é uma besta! Um bruto! O senhor é o autor moral, e bem vistas as coisas também o autor material, de tudo o que aconteceu! Fique sabendo! Foi o senhor que desancou Umbelina! Não fui eu!
Pois para seu castigo não torna a ver Carlota! Vá para o inferno ! Vá para o Brasil tirar o chapéu às senhoras! Isso mesmo,o senhor não tem onde cair morto, vá para o Brasil! Volte rico e honrado e depois se vê se merece Carlota. Desapareça!
A luz muda.
Vozes dos actores, Inácio, Januário etc.
- A partir daí, Carlota esperava à janela.
(pausa breve)
- Mas esquecemo-nos de alguns factos
- O atrevimento de Gaudêncio
- A confusão que ele armou antes de partir
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