REVISTA TRIPLOV de Artes, Religiões e Ciências
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Paulo
Azevedo Chaves |
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Tocam os sinos |
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Houve um tempo em que Natal significava união e congraçamento entre as
pessoas que se queriam bem em torno de um pinheiro na sala, em volta de
uma mesa com iguarias natalinas. Houve um tempo em que não era a festa
pagã de bebedeira e comilança, o valor financeiro dos presentes dados e
recebidos, o que importava. Houve um tempo em que a noite na véspera de
Natal culminava com a ida à Missa do Galo, ali se buscando uma comunhão
com Deus. Hoje, o Natal perdeu seu aspecto familiar, intimista,
religioso. Virou uma festa do consumo e de celebração não dos
sentimentos, mas dos sentidos.
Afinal, o que é o Natal? Tempo de
receber o 13º salário, ir aos shoppings, curtir o feriado nas praias, se
embebedar nos bares, gastar as sobras do mês assistindo shows de pop
stars? Tempo de comer tender, peru, presunto, beber muito vinho do
Porto, uísque e champanhe? Ao que parece,nos esquecemos do sentido mais
profundo e do significado primordial do Natal para os cristão. Alguém
realmente celebra o aniversário do nascimento de Jesus numa manjedoura,
em Belém, nesta data? Uns poucos, talvez.
Este Natal que agora
celebramos é o Natal da fome, do desemprego, da violência. E também o da
ira contra nossos governantes, que impera nas ruas de São Paulo, Lisboa
ou Madrid. Entretanto, a época é de sobrepor à agonia do presente a
esperança em relação futuro. É época de pensar no próximo e na
coletividade e não em transformar a data numa vendeta coletiva contra
tudo e todos. Acreditemos ou não na filiação divina de Jesus, a hora
deveria ser de refletir sobre o percurso terrestre daquele que morreu na
cruz para nos salvar. Ecce Homo.
Já se disse: “A religião é o
ópio do povo”. Haja vista esses crentes fanáticos.com sua religião de
almanaque, empunhando, como um troféu, suas Bíblias mal lidas e mal
assimilados, com seus sermões construídos de chavões e frases ocas. Eles
se acham sábios, mas são ignorantes e nos oferecem esse cálice vazio
como se fosse o Santo Graal. E há ainda os embusteiros da fé, que se
apropriam do dinheiro dos fiéis para encher o próprio bolso. Haja
paciência!
Divino ou não, Jesus foi uma figura admirável e seu
percurso de amor e sofrimento, em benefício da humanidade, um exemplo
para todos. Ele poderia mesmo ter dito, como a personagem Antígona, na
tragédia homônima de Sófocles: ‘Eu não nasci para partilhar de ódios,
mas tão-somente de amor”. Por outro lado, não esqueçamos a fera que
existe no ser humano e os exemplos são numerosos: os fundamentalistas
islâmicos, os ultradireitistas de Israel, o ditador sírio lançando
bombas de fragmentação contra o próprio povo e crianças inocentes, o
presidente iraniano Ahmedinejad, as bruxas más Christine Lagarde e
Angela Merkel... Enfim, neste Natal apocalíptico que todos vivemos
agora, devemos lembrar o que escreve Augusto dos Anjos em Versos
Intimos: “Acostuma-te à lama que te espera!/O homem que nesta terra
miserável/Mora entre as feras, sente a inevitável /Necessidade de também
ser fera”. E não devemos esquecer, igualmente, o que está escrito em
outros versos do mesmo poema: “O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
/A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Assim fez Judas com Jesus. E
assim fazem os homens, em sua maioria, com seus semelhantes. Ontem, hoje
e sempre. |
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PAULO AZEVEDO CHAVES (BRASIL)
Advogado, jornalista e poeta,
assinou no Diário de Pernambuco, nos anos 70/80, a coluna cultural
Poliedro, e de meados dos anos 80 até 1993, a coluna Artes e
Artistas, especializada em artes plásticas. Livros publicados:
Versos Escolhidos,Ed. Pirata,1982, traduções);Trinta Poemas e Dez
Desenhos de Amor Viril (Pool Editorial Ltda,1984, traduções); Nu
Cotidiano (Grupo X,1988, poesias); Os Ritos da Perversão (Ed.
Comunicarte, poesias, 1991); Nus (Ed. Comunicarte, 1991,
poesias). Em 2003, participou de uma coletânea de artigos publicados na
seção Opinião do Jornal do Commercio, com o título de Escritas
Atemporais (Ed. Bagaço). Em 2011, lançou um livro de prosa, poesias
e traduções de poemas com o título de Réquiem para Rodrigo N (Ed.do
Autor). Poemas Homoeróticos Escolhidos (em parceria com Raimundo
de Moraes) e Os Ritos da Perversão e Outros Poemas foram
lançados, em 2012, em edição digital, no site ISSUU.Todos os livros de
Paulo Azevedo Chaves tiveram seus projetos gráficos assinados pelo
designer pernambucano Roberto Portella.
http://issuu.com/paulo_azevedo_chaves/docs/a_sombra_da_casa_azul |
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