NICOLAU SAIÃO

Dar testemunho (02)

   Os confrades e leitores de excelente memória ou alguma atenção aos meus escritos, nomeadamente de recorte político-social, terão decerto notado que algumas vezes – ainda que de forma serena e educada embora algo irónica – dirigi críticas a certas performances do Presidente da República constitucionalmente em exercício.

   Isso tem sido efectuado e decorre de três circunstancias: haver ainda liberdade de palavra neste país, ser o TriploV um dos locais onde ela efectivamente se exerce e, por último, eu ter o direito enquanto cidadão de exprimir as minhas opiniões. Sem estar ligado a obrigatoriedades de partidão ou sector – mesmo correndo o risco de em determinados mentideros ser apelidado de coisas pouco amáveis, postas a correr com bonomia (presumo) e até de forma, em geral, carinhosamente discretas. E digo isto por não me parecer que o fazem por pura cobardia. Diria memo que o farão por, até, doçura de maneiras e por repúdio de violências expressas…Mas isto sou eu a falar, com a cortesia que tradicionalmente me exorna. Adiante!

  Nesta conformidade, creio que tenho autoridade moral e ética – e aos que não a reconheçam agradeço sinceramente a ideia ainda que a não subscreva – para dizer que o que se tem passado, a nível de "críticas e comentários" dirigidos a Cavaco, toca as raias da difamação e do atentado ao Estado de Direito. Com efeito, desde o insolente e sobranceiro Lello até ao enxovalhante Silva Pereira, a campanha - pois duma clara campanha se trata - orquestrada pelo líder do PS, José Sócrates (pois Seguro é apenas um manequim provisório) contra o Presidente constitucionalmente em exercicio, tem sido não só uma vergonha infame mas uma manobra evidente de sedição! O ex MNE Amado chega a dizer que o PR foi inoportuno - como se este tivesse que controlar a sua CONSTITUCIONAL liberdade de expressão, andando a reboque dos alegados interesses ilegais de Sócrates e dos seus áulicos.

  Independentemente de Cavaco ter sido ou não prestes em demitir Sócrates na horinha (coisa que aliás sugeri neste mesmo TriploV com pseudo-escândalo de alguns anónimos que fazem o favor de comentar os meus textos tão logo eles saem…) isso não obsta a que seja um serviço republicano o ter vindo, agora, a referir as manobras inconstitucionais do indivíduo que, a meu ver por demasiado tempo, chegou a ser ministro desta Nação!

  Tudo o que Cavaco tenha feito pode colocar-se sob a égide da inabilidade ou mesmo da “habilidade incapaz” de um magistrado que merece críticas, nomeadamente contundentes. Mas isso não chega nem de longe ao proceder irregular e inconstitucional do outro prócere. Que, esse sim, tem acrescidas e muito violentas culpas pelo estada de desmazelo, de miséria ética e de depauperamento sócio-económico e político a que a Nação chegou.

  Finalmente, é necessário tirar tudo isto a limpo. E se houve culpas graves, sejam elas de quem forem, é preciso que elas se apurem no lugares próprios que, em sociedades de Direito, protegem a legalidade, a honra e a vida de relação dos cidadãos e dos Países.  

 
 

 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.