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MÁRIO MONTAUT |
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Vocês tocam em questões pessoais, sociais, transcendentes. Impossível excluir a subjetividade. E a transcendência está sempre ali, na linha do horizonte. Parece que o Roberto Carlos cantou isso: "Além do horizonte, existe um lugar, bonito e tranquilo, pra gente se amar...". O Tom Jobim estava sempre contemplando o horizonte, assim como Chico, Caetano, Gil. O Rio, a Bahia fez muito bem a eles. É sempre bom uma geografia que personifique tanto a metáfora do horizonte. E são lugares bastante telúricos. A terra treme, de batuques, guerrilha urbana, não no tempo da bossa nova de verdade, quando eram mais suaves os tremores, e um céu tão livre de poluições que obras como as do Tom, sublimes, acabaram por sua legítima e incrível delicadeza, causando em gerações futuras, uma atonia que bem diriam os Tinhorões, coisinhas pequeno-burguesas, de barquinho, banquinho, violãozinho. Não digo as do Tom. E assim como Verdi comentou o silêncio da grande dor, Tom também falava nas dores do parto, de quando uma canção estava para nascer, que era algo tremendo. O poeta René Char dizia que não se deve confundir "agitação nas fronteiras com um horizonte revolucionário". Os bichos não humanos sentiram esse tremor de fronteiras íntimas coincidindo com o tsunami. Quanta arte para além do homem. Se ao fogo dos nossos terminais nervosos se alinham as energias de um pedacinho de céu, temos então um "horizonte revolucionário". E o céu não dá seu azul tão de graça. O céu quer sangue, nervos...e aquela intensa reflexão, cada vez menos frequente, porque se ainda ouço tiros nos morros, nos guetos, e se o superaquecimento global põe em questão até uma possível morte da Terra, então, não há como esquecer que as "épocas de ouro", iludiriam muitos garimpeiros, e, socialmente falando, ouro tem de ser facilmente reconhecível, ou não? Isso significa que no garimpo pode haver eleição de outras pedras, novos metais, mesmo que inferiores ao ouro. Perde-se o valor alquímico mas não a grana imediata(rs). E "Novas Tropicálias" exigiriam indivíduos, elementos raros. Sim, porque coletivamente as coisas até que caminham, ou dão a ilusão de caminhar. Mistura-se o rap ao samba, ao tango, e cadências bachianas atemporais, estão sempre na cozinha do cancioneiro coletivo, só que com todos os sentidos exauridos pelo excesso dos já insuportáveis estímulos sensoriais, e da concomitante supressão de qualquer critério, o que pode ser realizado socialmente, é vagaroso, repetitivo, e produz, com frequência, prazeres menores, aos quais muitos se agarram com excessivo contentamento. Viva o Prazer!(rs) Mas a Qualidade que reivindicava a participação do corpo, do espírito, parece não fazer parte do universo de Luiz Tatit, para quem o mundo seria uma ópera plena, em cada boteco, em cada cama, em cada esquina, bastando tão somente as "inflexões melódicas na palavra", o que inevitavelmente é um fato perene, aí concordo com o Luiz Tatit, e no limite, compraria até todos os seus discos(rs), não para ouvi-los, mas para ter garantida a minha exclusão desse universo cantante, onde com certeza teria de viver de ouvidos tapados. Aquela Qualidade vem realmente decaindo, e existem limites estruturais, o que comprovadamente ocorreu na música erudita. Que compositor nos daria um desdobramento visceral da Quinta de Beethoven, ou do Tannhauser de Wagner, em 2007?(rs)O ponto que me aflige não é esse, pois tudo o que faço em música, é por Paixão. Consequentemente, minhas fronteiras se agitam, agora se elas magnetizam fatias de ceuzinhos poluidões, já isso é outra coisa(rs). Tom Jobim, Caetano, Chico, Gil, eram indivíduos com extrema sensibilidade ecológica, social, e, creio, esse fato foi indispensável ao tamanho daquela Beleza. Hoje, incapaz de me render aos tribalismos, fico numa busca solitária, e desejando saber se existem ao menos outras ilhas, que um diálogo de ilhas seria fenômeno de ecos deslumbrantes; mas ao menos isso teria de existir. Tá bom, não existindo, fodam-se os arquipélagos(rs), pois continuo fazendo o que quero. Não lamento mas confesso(rs): estou com uma série de elementos sonoros intrigantes, e que podem até passar como sendo "canções", que com certeza vou registrar, pois fazem parte de um novo testamento, sem as mínimas vocações apocalípticas(rs). Quanto ao mercado, quero mais é que se dane. E de certa forma, eu com ele(rs), e para a partilha essencial de emoções , creio que a minha pureza é beneficiária de Esquecimento, divindade que não me esquece, embora suas visitas não sejam lá tão frequentes. Mas não precisamos atuar apenas"esquecidos", né? Quando percebi a preguiça do Graco em abordar o assunto em mensagem bem pequenina(rs), fui contagiado pela preguiça dele, e por isso fui breve, sintético, conciso. E revolucionário, claro(rs). Baccios!!!
(Mário Montaut)
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MÁRIO MONTAUT é brasileiro, paulistano, de ascendência italiana, espanhola, indígena, moura, francesa e outras. Desenvolve uma sequência de composições que vêm à luz, já em dois trabalhos: "Bela Humana Raça", Dabliú, 1999, e "Mário Montaut: Samba De Alvrakélia", a sair nos próximos dias pelo selo MBBmusic. São muitos anos de vivências artísticas, num panorama que inclui Dorival Caymmi, René Magritte, Manoel De Barros, João Cabral De Melo Neto, Borges, Chico, Caetano, Gil, Dalí, Fellini, Buñuel, Webern, Cartola, Breton, Blavatsky e muitos amores mais, indispensáveis à sua criação, que abarca, além das canções, poemas, textos, roteiros e outras coisas interessantes. Mário Montaut é basicamente um parceiro de todos os seus contemporâneos e ascendentes, humanos ou não, saibam eles ou não. Índios, Negros, Europeus, Sem-terra, Brisas, Baleias, Maremotos, Chuvas, Livros, Discos, Beijos e Trovões Em Todas As Roseiras. Atualmente grava um disco de parcerias suas com o poeta Floriano Martins, onde a talentosíssima intérprete Ana Lee canta grande parte do repertório. Mário Montaut é um pouco de tudo isso. E muito mais, com certeza, pode ser descoberto em seus discos lançados, em suas tantas canções já gravadas, poemas, textos, e múltiplos achados. |
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