Num rosto de sílabas brancas te escrevo, templo de luz,
útero de estrelas, semente de douradas neblinas.
De fábulas e perfume é o teu nome,
relógio onde a claridade pára e se incendeia.
cristal que arde, na lonjura do tempo.
Nos teus hortos, há jasmim e hortelã, silfos, sílfides,
flautas de Pã, que recriam a flor cristalina,
a herança taifa, na cal perfurada de raízes brancas.
Na tua água, deslizam palácios mouros, qasîdas brilhantes.
Junto aos poços de ouro profundo, repousam as garças.
Nos teus jardins, princesas submersas, em jardins
de outrora, envoltas em candelabros luminosos,
níveos perfumes, tangem alaúdes, harpas,
laranjais de mistério, nas sílabas embriagadas
dos jardins da aurora.
Num rosto de sílabas brancas, és chama de um deserto
ardente.
Ver-te, uma vez só, é aspirar à glória de ‘Itimad,
ser nuvem, sol, nívea cintura, centáurea azul,
água e murmúrio, ressonância de frutos, aves,
rumor deleitoso, nascente da algas, citrinos,
no corpo das raparigas morenas.
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