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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
CANCIONEIRO ENAMORADO

Nas asas do amor soberano, ditosas foram um dia

os poços, as fontes.

Nas praças, esvoaçavam libélulas, flores de laranjeira,

limoeiros frondosos.

Gazelas airosas, nos jardins amenos, recitavam

o vinho, a seda, as roséolas da aurora.

 

Num gahzal antigo, os alaúdes cantavam,

as pedras o seu destino azul confirmavam,

e as raparigas, em safiras brilhantes, sua herança

de luz transmudavam,

porque, das redomas de paixão, contemplando

a sua amada, Al Mu’tamid, dissera:

 

—Vem noite, sumptuosa e opulenta,

roseta de espirais fantásticas, flor de mel e carícias,

nas minhas pálpebras, acende os nenúfares,

as águas, os dedos de cetim.

Canta, para sempre, o paraíso que roubei ao tempo,

nos segredos brandos que guardei,

nos archotes túmidos

 

dos teus bosques de encantamento.