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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
SILVES, A CAPITAL DA PALAVRA ARDENTE,
DOIS DIAS DEPOIS

Al Mu’tamid traçara-lhe o destino, a rota do Sul,

as cores fortes, a fronte clara, a herança mourisca.

Dois dias depois, uma a uma, guardo todas as suas pétalas,

os seus ramos altos, as suas reminiscências odorosas,

os seus átrios de luz e poesia,

Nos seus rios, correm lendas antigas, desdobradas

em murmúrios ávidos, incendiados junto às laranjeiras

abertas, em suas copas de magia.

 

Dois dias depois, recordo a sua igreja, o seu castelo,

a sua terra vermelha,

o Foral que lhe concedeu a liberdade.

No seu hálito fulvo e branco, há cálices, redomas

onde a palavra arde e o silêncio urge.

Nas ruas, há relatos, centelhas, clamor, memórias claras,

fruto e seiva que se desprende das árvores e das libélulas

inebriadas, sobre espáduas de harmonia.

 

Dois dias depois, sobre clepsidras antigas, recordo

a sua candura, as suas gentes, as fontes e os dias floridos,

acesos, sobre candelabros flutuantes,

junto aos ramos de perfume e os beirais

onde os pássaros debicam, na frescura da noite,

 

seu corpo azul de alegria.

26-4-2005