Al Mu’tamid traçara-lhe o destino, a rota do Sul,
as cores fortes, a fronte clara, a herança mourisca.
Dois dias depois, uma a uma, guardo todas as suas pétalas,
os seus ramos altos, as suas reminiscências odorosas,
os seus átrios de luz e poesia,
Nos seus rios, correm lendas antigas, desdobradas
em murmúrios ávidos, incendiados junto às laranjeiras
abertas, em suas copas de magia.
Dois dias depois, recordo a sua igreja, o seu castelo,
a sua terra vermelha,
o Foral que lhe concedeu a liberdade.
No seu hálito fulvo e branco, há cálices, redomas
onde a palavra arde e o silêncio urge.
Nas ruas, há relatos, centelhas, clamor, memórias claras,
fruto e seiva que se desprende das árvores e das libélulas
inebriadas, sobre espáduas de harmonia.
Dois dias depois, sobre clepsidras antigas, recordo
a sua candura, as suas gentes, as fontes e os dias floridos,
acesos, sobre candelabros flutuantes,
junto aos ramos de perfume e os beirais
onde os pássaros debicam, na frescura da noite,
seu corpo azul de alegria.
|