Uma estrela dupla habita a luz, a imperfeição,
o espaço terreno.
Nas sementes do corpo, o céu espraia-se nos dedos,
nas rimas, nas sombras reunidas,
na língua deslumbrante dos diademas, pousados no peito.
Há pouco, dizias que os meus olhos eram nuvens
de orvalho e que as palavras eram rebanhos
que, no meu silêncio, apaziguavas.
Acreditávamos nas cerejas, nas nectarinas,
ou nos goivos,
que em nossos corpos se enlaçavam.
Era minha a música das tuas pétalas.
Dormíamos na imensidão, no clarão das tamareiras
junto ao mar.
No trânsito inconfinado, o ser, a metáfora
era uma harpa, um vitral, uma árvore, uma ficção.
Em ecos reunidos, as sombras ao relento
aclaravam a áscua que inspira, o movimento
que retarda a secreta dimensão,
os pilares verticais, a memória nocturna,
a matéria densa,
o sílex da palavra que perfura a cal, a pele,
na mágica volúpia que habita o espaço.
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