Um rio, uma grande flor dilatada, uma cabeça,
um corpo, um caudal imenso, uma passagem lenta,
uma fonte úbere, uma região erudita,
um nome apenas pensado.
Nos violinos da palavra, rododendros ocultos
perduram, num eco lentíssimo,
onde a incomensurável morte comenta o silencio,
as palmeiras lunares, nas formas,
nos veios de pedra, na névoa que canto,
na flor que vou bebendo, na bílis vermelha,
nas orquídeas verdes, na água dos mortos.
Nas fímbrias do tempo, na penumbra dolorosa,
no corpo brando, endurecido,
no cérebro de amar e florir a língua, as asas,
escuto a chuva, a febre, a lentidão,
o secreto devir.
Na sombra dos gladíolos, escuto as uvas,
o vinho, o movimento que sustenta a passagem
onde o dia e a noite se consumam,
na água, nos dias, nas galáxias soltas,
nas mãos intranquilas que agarram e desfazem
o silêncio,
onde a sombra se constrói
ou desmorona.
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