Ninguém penetra nas coisas se os dias estão cheios.
Por isso, a respiração dos pássaros é urgente.
Perto, estão ainda as rotas da seda, as encruzilhadas
do sonho,
a luz oblíqua incidindo na calcite amena das cidades
majestosas.
Penso em Alepo, Palmira ou na colunata radiosa
da antiga cidade de Apameia.
E corro com os pés vazios, enrolados em serpentes,
rosas e violinos,
o tempo suspenso na grande noite clangorosa de pilares
obscuros,
Na malha do silêncio, o fogo oculto, a lira vermelha
desoculta, na lenta combustão, o deserto irado e triste,
a água submersa de um veneno a florir,
num eixo descoordenado e cego de vinhas
sanguinolentas, os pés moldados num grito
de acordar de outra forma,
essa, outra, lenta, resguardada de cantar a giesta nocturna,
no vinho turvo, dolente das roseiras altas de inventar
os muros, na aura ígnea das estrelas maceradas,
na pedra líquida,
nas malhas de sangue espesso que transcrevo
num grito lúcido, frio,
transcendente,
amanhã.
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