Move-se nas plumas um cântico nocturno de sombra
e de trevos, numa imagem densa colada à retina,
numa hélice conturbada de fontes turvas,
águas cristalinas.
Como saber da terra o gosto da serpente,
o ovo inicial, a água do deserto?
Como saber dos gumes, da seiva, dos corpos
encerrados, em meteoros translúcidos?
Nos teares magnéticos, as aranhas solares repensam
a névoa, a goma, a lua,
os nomes do avesso, as vísceras de sangue.
Nos teares de cinza, a luz e as fogueiras
são cada vez mais fortes.
Num eixo rigoroso move-se uma gaivota presa
nas hastes, nos açudes, nas hidrângeas,
num ciclo recorrente,
até que me liberte e nada mais pergunte,
dessa fluidez incandescente das fábulas, da música,
na febre das janelas, cartilagens,
das fibras, constelações, arestas frias, vertidas
no aroma pulsátil
das resinas da neve e do luar.
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