Afundo-me, na roda atordoada dos crisântemos
loucos, que fazem e desfazem a roupagem da névoa,
o destino do vento, o rastro telúrico, o percurso solar.
No turbilhão das estrelas, fazer e desfazer
é árdua tarefa, se o prémio a alcançar,
não é, como para Penélope, o amor perdido
de um homem que regressa.
Afundo-me, nos nós desfeitos, numa manhã de bruma,
escrevendo o espelho, a ferida,
a resposta fendida, na cianose lunar.
As searas adormeceram já, na magoada surdina,
apenas as musas feiticeiras que trepam pelo fio
das aranhas invisíveis inventam a cor
dos desordenados girassóis.
Afundo-me, no rasto dos cristais pendentes,
ateando a lira e a palavra,
enquanto as neblinas azuis rebentam no corpo
de fragilíssimos nenúfares,
e, no leito das palavras adormecidas,
na água acesa, ecoa, sempre vivo,
o doce rouxinol do canto.
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