No céu de vísceras azuladas, visito os gritos, as suturas
roxas, os violinos nocturnos, a matéria que explode,
no verde, no azul, no leite,
a névoa entre os dedos evocando as janelas, a inocência,
uma ovelha, a infância,
um touro reclinado, uma vaca branca.
Quem plantou em mim a orquídea, o verso, o silêncio,
a nuvem, a vertigem,
o véu segredado numa página branca?
Quem vindimou o limbo, as paisagens,
as colinas do ser?
Quem se esgueirou entre os eucaliptos, os oráculos,
para ouvir a voz subterrânea de um templo
de Endovélico?
Numa estrela profusa, pulsam os ritmos, os resíduos,
as metáforas, uma árvore de frutos, flores, sementes.
Nos rios onde as minhas janelas flutuam,
há telas nocturnas, painéis secretos,
sons que na sua aura irradiam os meteoros,
as raízes ancoradas
nas arcas verdes da lembrança.
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Maria do Sameiro Barroso é licenciada em Filologia Germânica e em Medicina e Cirurgia, pela Universidade Clássica de Lisboa. Exerce a sua actividade profissional como médica, Especialista em Medicina Geral e Familiar.
Em 1987 iniciou a sua actividade literária, tendo publicado livros de poesia e colaborado em antologias e revistas literárias. A partir de 2001, a sua actividade estendeu-se à tradução e ensaio, tendo publicado, em revistas literárias e académicas.
Em 2002 iniciou a sua actividade de investigadora, na área da História da Medicina, tendo apresentado e publicado trabalhos, nesta área. |