Morreu nesta sexta-feira (18) o escritor português e
prêmio Nobel de literatura José Saramago, aos 87 anos, na cidade de Tías,
Lanzarote, Espanha, onde morava desde 1993.
José Saramago havia tido uma noite tranquila e a
morte ocorreu por volta das 8h desta sexta-feira, após tomar seu café da
manhã ao lado da mulher, a tradutora Pilar del Río. Eles estavam
conversando quando o escritor começou a sentir-se mal e logo depois
faleceu. Nos últimos anos, ele foi hospitalizado em várias
oportunidades, principalmente deivdo a problemas respiratórios.
José de Sousa Saramago nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga,
província de Ribatejo, no dia 16 de novembro de 1922, embora no registro
oficial conste o dia 18. Filho dos camponeses sem terra José de Sousa e
Maria da Piedade, mudou-se para Lisboa aos 2 anos, onde viveu grande
parte de sua vida.
O escritor deveria ter sido registrado com o mesmo nome do pai, mas o
tabelião acrescentou o apelido pelo qual o chefe da família era
conhecido na aldeia, Saramago, que também dá nome a uma planta que serve
de alimento para os pobres em tempos difíceis.
Saramago concluiu os estudos secundários em uma escola técnica, mas não
pode cursar a universidade por dificuldades financeiras. Sua primeira
experiência profissional foi como mecânico. Fascinado pela literatura
desde jovem, visitava com grande freqüência a Biblioteca Municipal
Central Palácio Galveias, na capital portuguesa. Foi só aos 19 anos, com
dinheiro emprestado de um amigo, que conseguiu comprar pela primeira vez
um livro.
Além de mecânico, o escritor português trabalhou como desenhista,
funcionário público, editor, tradutor e jornalista. Durante doze anos,
foi funcionário de uma editora, onde ocupou os cargos de diretor
literário e de produção.
Publicou o seu primeiro romance, Terra do Pecado, em 1947. Em 1955,
começou a fazer traduções de autores como Hegel, Tolstói e Baudelaire
para aumentar os rendimentos. Seu próximo livro, Clarabóia, foi
rejeitado pela editora e permanece inédito até hoje.
O escritor só publicaria um novo livro, Os Poemas Possíveis, (1966),
dezenove anos depois do primeiro. Entre 1972 e 1973, foi comentarista
político do Diário de Lisboa, coordenando durante alguns meses o
suplemento cultural do jornal. Em um espaço de cinco anos, publicou sem
grande repercussão mais dois livros de poesia, Provavelmente Alegria
(1970) e O Ano de 1993 (1975).
O escritor fez parte da primeira diretoria da Associação Portuguesa de
Escritores. Entre abril e novembro de 1975 foi diretor-adjunto do Diário
de Notícias, quando os militares portugueses, reagindo ao que
consideravam os excessos da Revolução dos Cravos, demitiram diversos
funcionários. A partir de 1976, o escritor português passou a viver
exclusivamente de seu trabalho literário.
No ano seguinte, o autor voltou a escrever romances, gênero que o tornou
mundialmente conhecido. A partir desta época, sua produção literária
cresce consideravelmente, mas é em 1980 que Saramago dá uma grande
guinada em sua produção literária, com a publicação de Levantado do
Chão.
Segundo diversos críticos, a obra marca o início do estilo que o
consagrou, destacado por frases e períodos extensos, que as vezes ocupam
mais de uma página e são pontuados de maneira anti-convencional. Os
diálogos entre os personagens costumam aparecer inseridos nos próprios
parágrafos que os antecedem, de forma a extinguir o uso de travessões em
seus livros.
Com a censura do governo português à apresentação do livro O Evangelho
Segundo Jesus Cristo (1991) para o Prêmio Literário Europeu sob alegação
de que a obra ofendia os católicos, o escritor mudou-se para a ilha de
Lanzarte, nas Canárias.
Em 1993, Saramago começou a escrever um diário, Cadernos de Lanzarote,
em cinco volumes. Dois anos depois, publicou o romance O Ensaio Sobre a
Cegueira, que será transformado em filme em 2008, com direção assinada
por Fernando Meirelles.
No mesmo ano em que publicou Ensaio Sobre a Cegueira, recebeu o prêmio
Camões e em 1998, foi laureado com o prêmio Nobel de literatura, o
primeiro dado a um escritor de língua portuguesa.
"Estava no aeroporto prestes a embarcar quando chegou a notícia de que
tinha ganho o Prêmio Nobel. Houve um momento de alegria, os meus
editores de Madrid, que estavam comigo, abraçaram-me. Depois
encaminhei-me na direção da saída e, por mais estranho que pareça, era
um corredor muito comprido e deserto. Eu com a minha malinha de mão, com
a minha gabardina no braço, passei de repente da alegria enormíssima da
notícia que tinha recebido, para a solidão mais completa. Naquele
momento a sensação que tive, claro que eu dava por mim numa grande
alegria, era uma espécie de serenidade: pronto aconteceu", afirmou o
escritor sobre o prêmio.
Considerado por especialistas um mestre no tratamento da língua
portuguesa, em 2003 o escritor português foi considerado pelo crítico
norte-americano Harold Bloom como o mais talentoso romancista vivo. Seus
livros foram traduzidos para mais de vinte línguas, como sueco, romeno e
húngaro.
Comunista ferrenho, Saramago teve sua carreira pontuada por polêmicas
causadas por suas opiniões sobre religião, terrorismo e conflitos. Em
entrevista ao jornal O Globo, Saramago criticou a posição de Israel no
conflito contra os palestinos, afirmando que "os judeus não merecem a
simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto".
A Anti-Defamation League (ADL), um grupo judaico que defende direitos
civis, caracterizou estes comentários como sendo anti-semitas.
O ano de 2004 destaca-se pela publicação de Ensaio Sobre a Lucidez. No
ano seguinte, Saramago escreveu As Intermitências da Morte, em que
divaga sobre a vida, a morte, o amor e o sentido, ou a falta dele, da
nossa existência, fazendo uma crítica a sociedade moderna.
O escritor lançou também As Pequenas Memórias, em 2006, A Viagem do
Elefante, 2008, e Caim, no fim do ano passado. O último retorna ao tema
da religião em um romance que lembra seu controvertido O Evangelho
Segundo Jesus Cristo (1991), obra que despertou forte polêmica em
Portugal, país de grande tradição católica.
No início do ano, José Saramago lançou uma nova edição do livro A
Jangada de Pedra (1986), que teve toda a sua renda revertida para as
vítimas do terremoto no Haiti.
Atualmente estava preparando um livro sobre a indústria do armamento.
"Não será sobre o Corão, mas será sobre algo tão importante quanto todos
os corões do mundo: por que não há greves na indústria do armamento. Uma
greve na qual os operários digam: 'Não construímos mais armas'",
afirmou, em entrevista em novembro.
Saramago no cinema
Em 2008, o cineasta Fernando Meirelles fez o filme Ensaio sobre a
Cegueira (Blindness), baseado no livro homônimo do escritor, lançado em
1995. A produção abriu o Festival de Cannes do ano em que foi lançada.
No elenco estão os veteranos Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover,
Gael García Bernal e a brasileira Alice Braga. O filme foi gravado em
Toronto (Canadá), Montevidéu (Uruguai) e São Paulo (Brasil).
Família
Saramago casou-se pela primeira vez em 1944 com Ilda Reis, com quem teve
uma filha, Violante, que nasceu em 1947. O escritor permaneceu casado
com Ilda por 26 anos.
Após se divorciar, em 1970, iniciou um relacionamento com a escritora
portuguesa Isabel da Nóbrega, que duraria até 1986.
Em 1988, o prêmio Nobel de Literatura casou-se novamente com a
jornalista e tradutora espanhola María Del Pilar Del Río Sánchez, com
quem permaneceu até a sua morte.
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José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda não perfizera três anos de idade. Toda a sua vida tem decorrido na capital, embora até ao princípio da idade madura tivessem sido numerosas e às vezes prolongadas as suas estadas na aldeia natal. Fez estudos secundários (liceal e técnico) que não pôde continuar por dificuldades económicas.
No seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico, tendo depois exercido diversas outras profissões, a saber: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, editor, tradutor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance ("Terra do Pecado"), em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966. Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na Revista "Seara Nova".
Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do Jornal "Diário de Lisboa" onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante alguns meses, o suplemento cultural daquele vespertino. Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do "Diário de Notícias". Desde 1976 vive exclusivamente do seu trabalho literário.
Prémio Nobel da Literatura, 1998 |