Nos campos verdejantes da vida
Há flores que não abrem
Pólenes que não fecundam.
São flores eunucas
Crescidas no frio da noite
Alimentadas no ódio
Com raízes profundas e folhas
amarelas.
São estas as flores que nos
governam,
Onde os grãos de pólen são intrusos
Na missão de fecundar
E os insectos não polinizam
Por não saberem como as amar.
Estas flores são negras
Como as pétalas das suas corolas,
São plantas sem plastos
Sem sol nas suas folhas,
Só vivem do escuro da noite
Na frieza dos seus mitos.
Mas é nas noites de lua cheia
Que as suas corolas se abrem
E os morcegos lhes sugam o néctar
E as deleitam no prazer momentâneo
do amor.
São estas as flores que nos
alimentam,
De sentimentos escuros e prazeres
reprimidos
Que nos fazem sentir
A pequenez de estarmos vivos,
Enterrados nas areias pantanosas do
tempo
A vida não tem sentido cartesiano,
Mas o mundo continua a ser nosso
Na ilusão dos nossos desejos.
José Nascimento
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