O poeta Augusto Rodrigues nasceu em Goiânia em 1974 e
morou praticamente a vida toda no Campus II da UFG, em um bairro chamado
Itatiaia. Sua família é da Cidade de Goiás – antiga capital do estado –,
onde ele tem estudado a procissão do fogaréu há três anos. Hoje mora em
Brasília e tornou-se Professor Adjunto de Literatura Brasileira da
Universidade de Brasília. Sua vida continua, dessa forma, ligada ao
campus universitário. Considera-se um poeta goiano-brasiliense, como
José Godoy Garcia, de quem sofreu influência decisiva: “o poeta que
ilumina a minha forma e minha sonoridade e até mesmo o trato com as
imagens... durante muito tempo foi Drummond, Bandeira e Murilo Mendes...
hoje estou mais pro ZéGarcia e pro João Cabral...”, confessa.
O goiano-brasiliense Augusto Rodrigues conheceu a
Capital da República ainda na infância, quando ia visitar a madrinha em
Formosa. Na adolescência, andou por aqui com movimentos estudantis
(sempre na condição de poeta) e para assistir a shows da Legião Urbana.
Desde então, ele encantou-se de fato pela Capital da República. Foi
seduzido pela modernidade de sua arquitetura e de seu plano urbanístico.
Como o poeta Nicolas Behr (ressalvadas as devidas diferenças de estilo e
tom), elegeu Brasília como tema. Em Onde as ruas não têm nome (Thesaurus
Editora, 2010; Prêmio Fernando Mendes Vianna, ANE), segundo livro do
poeta e professor da UNB, essa relação de encantamento com a paisagem
brasiliense se aprofunda: “esta noite sonhei que voava/era deserto/era
brasília/era concreto concreta construção/voava baixo nesta
noite/prédios baixos/céu alto autos/o cerrado cerrado na escuridão/alto
e plano da noite arquitetei/era poema/era poesia/reinvenção/pleno no
plano da noite veloz/era eu a cidade/era eu uma vez/imensidão” (concreto
deserto decerto).
Já no livro de estreia, Nyemar (Editora Vieira,
2008), Augusto Rodrigues mergulha nos labirintos arquitetônicos e
urbanísticos de Brasília. A sua poesia busca os primórdios da cidade, a
gênese do seu corpo, as formas que brotaram da prancheta de Niemeyer e
Lúcio Costa: “era asa estava/na asa da ave/aérea aeronave/luz
escuridão/as asas no chão/as asas no ar/casa de borboleta/estrelas
balão/era noite capital/no alto era o ar/no chão as asas/indicavam a
direção” (Alas aéreas). Nesse livro, o seu lirismo não abarca ainda o
homem que haveria de habitar Brasília ou nela labutar.
O que acontece agora, nesse seu segundo livro, é que
a cidade se povoa. O poeta enxerga os seus habitantes ou os que nela
labutam. O seu lirismo torna-se mais intenso que no livro de estreia:
“Nos olhos d’água mora um homem/do lado de fora/dos olhos d’água/ele
mora nos olhos dos homens/ele fala sozinho/ele bebe sozinho/ele dorme
sozinho/paratodos/quando sonha seus amigos chegam/um a um – chapéus e
chaplins/amigos preenchem o vazio de ser/nos olhos do mundo mora um
homem/do lado de fora/da humanidade/ele dorme nos olhos dos homens” (sem
temer o chapéu dos olhos). “primeira manhã de março/uma vontade de
caminhar no eixo/uma vontade de comprar jornal na banca/uma vontade de
nadar naságuas minerais do fim do mundo” (primeira manhã de março).
O que se deve observar, no entanto, é que Augusto
Rodrigues continua fiel ao seu projeto de desvelar a Capital da
República, seja para si mesmo, seja para os leitores. É um projeto
poético que tem início, meio e fim. Começa com Nyemar, passa por esse
Onde as ruas não têm nome e culmina no A Cidade de poeira, livro ainda
no prelo. Vale a pena acompanhar a trajetória poética desse goiano que
adotou Brasília de corpo, alma e poesia. |
Geraldo Lima.
Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira,
escritor, dramaturgo, Geraldo Lima nasceu em Planaltina, GO,
Brasil, em 1959. Atualmente reside em Sobradinho, Brasília, DF. Ganhou
alguns prêmios literários, como o 1º lugar no Concurso Nacional de
Contos de São Bernardo do Campo, SP, e o Bolsa Brasília de Produção
Literária. Publicou os seguintes livros: A noite dos vagalumes
(contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF), Baque
(contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil,
LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). O seu livro de
micronarrativas Tesselário será publicado pelo selo 3X4, da
Editora Multifoco. Participou da Antologia do conto brasiliense
(Projecto Editorial, org. por Ronaldo Cagiano), da antologia Todas as
gerações - o conto brasiliense contemporâneo (LGE Editora, org. por
Ronaldo Cagiano) e do Projeto Portal: revista Solaris e revista
Neuromancer, org. por Nelson de Oliveira. Tem textos publicados em
jornais, revistas impressas e eletrônicas. É autor das peças de teatro:
Error (encenada pela Oficina do Teatro de Periferia) e Trinta
gatos e um cão envenenado (cuja leitura dramática foi realizada, em
2009, na 5ª Mostra de Dramaturgia de Brasília).
Bloga em:
www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com e
www.o-bule.blogspot.com
e-mail: gera.lima@brturbo.com.br |