Para: Padre Ignacio
de Madrid, El Monasterio de Santa Maria del Parral, Segovia
Esse, Ignacio, meu amigo, foi um momento
Que não esquecerei: quando tu com indiferença
Tiraste da prateleira um volume grosso em pergaminho
E colocando-o nas minhas mãos disseste que este,
Este era o exemplar de Erasmus dos Trabalhos
De São Jerónimo, e
Mira, disseste, “Olha”
Apontando para os sítios onde ele tinha riscado –
Obliterado completamente de facto,
Ideias com as quais não podia concordar.
Uma ideia que eu próprio acho difícil
De aceitar é que faz agora
Sessenta e oito anos que te tornaste
Membro desta Ordem. Tinhas então
Dezassete. Desculpa-me, mas aquela palavra
Obliterado
vem-me de novo à mente.
Que se lixe porém (desculpa) pareces
razoavelmente bem – menos os dentes;
mas a tua comida é verdadeiramente horrível.
Conhecer-te fez-me ter esperança em que possa
Haver um pós-vida – uma espécie de recompensa.
Mas o quê? Haveria seguramente algumas pessoas
Que nem tu realmente
quererias ver.
E quanto tempo pensas tu que
qualquer de nós
aguentaria ter
todos os desejos
Satisfeitos? E uma “eternidade
Fastidiosa de hinos gorjeados” era algo
Em que mesmo
Milton não conseguia pensar.
Talvez então, Ignacio, o tenhas aqui
Já: a frescura dos claustros,
Um céu castelhano sem nuvens,
cravos e rosas,
As fontes e os jardins de água,
E manusear livros que um dia
o próprio Erasmus teve nas mãos.
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