Isto para isso
Que vou comer ao pequeno
almoço?
Quem me dera umas ameixas
como as do poema de Williams.
Ele pediu desculpa à mulher
por comê-las
mas o que não fez
foi pedir desculpa àqueles
que viriam a ler o poema
e que também as não puderam
comer.
É por isso que gosto do poema
quando não tenho fome.
Agora mesmo não gosto dele
nem do seu poema. Isto é
apenas
para dizer isso.
À procura de pechinchas
para Tessie
Imagina que descobriste uma
pechincha tão inacreditável
que ficaste ali parado
estupefacto por momentos
incapaz de acreditar que
aquela coisa pudesse estar
à venda por um preço tão
baixo: é o que acontece
ao nascermos, e à medida que
os anos passam
o preço sobe sobe até que,
próximo do final
da vida, é tão alto que
ficamos ali
aturdidos para sempre.
O agrafador
Quando a minha mãe morreu
deixou pouca coisa: roupas velhas,
mobiliário modesto, pratos, alguns
trocos e
foi praticamente tudo.
Exceptuando o agrafador. Encontrei-o
numa gaveta atulhada com contas antigas
e extractos bancários.
Notei logo
a facilidade com que penetrava
resmas de papel, sem deixar marca
na palma da mão.
Funcionava tão bem que o trouxe para casa
com uma caixa de agrafos, da qual
só faltavam alguns dos 5000
iniciais. A
habilidade está em lembrar
como recarregá-lo – leva alguns minutos
a descobrir de cada vez, mas eu insisto até
Pronto, já está! A minha mãe está envolvida
algures nisto tudo e a pairar
como uma neblina tão fina que não se vê,
uma aragem, o contrário do agrafador.
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