O cristianismo, para D. António da Costa, não só operou na história um grande progresso como é visto como a fonte do verdadeiro progresso. Escreve o nosso pensador a este respeito: "sentiam-no aqueles a quem por toda a parte chegava a Boa Nova. Acordava os corações. Era o progresso que agitava a humanidade. E que não cessou de agitar, acrescento. A filosofia cristã, principiando por declarar o homem livre e imortal, emancipou o escravo e enobreceu a todos. Foi um instrumento, de cujas cordas fizesse o aperfeiçoamento de harmonia sem limites de possibilidades nem tempo." (1)
Nesta época, os valores chaves proclamados pela Revolução Francesa eram apregoados a sete ventos na sociedade dita secular. Muitos católicos viam esses princípios como sendo de natureza contrária à religião cristã. D. António contraria esta corrente, demonstrando o oposto, isto é, empreende o desafio de fundamentar que a fonte destes valores está no Cristianismo. Estes foram decisivos para criar condições em ordem à evolução da humanidade e para a promoção do homem individualmente entendido.
Nesta linha de pensamento, defendia que a doutrina de Jesus Cristo veio dar a devida importância ao homem como pessoa e promovê-lo na sua dignidade de filho de Deus e, ao mesmo tempo, veio projectá-lo para a universalidade da relação com os outros homens de todas as raças, línguas, culturas e condição social. Esta universalidade tão publicitada no séc. XIX é inspirada pelo desejo de fraternidade universal que D. António da Costa fundamenta teologicamente à luz dos textos paulinos do Novo Testamento:
"A terra toda é habitada por uma grande família de irmãos, filhos do mesmo Deus, e regidos pela mesma lei moral. Ao ódio das nações sucede o amor da humanidade. Diante de Deus todos os homens são iguais, não formam senão um só corpo, não havendo mais gregos, judeus, bárbaros, gentios, livres, escravos, homens nem mulheres, porque não são todos senão UM em Jesus Cristo." (2)
Ao fundamentar cristãmente o valor da fraternidade, alicerça também em Cristo o valor da igualdade, abatendo os preconceitos de muitos acerca deste último valor revolucionário.
A liberdade é cantada poeticamente, num capítulo à parte da sua apologia e é apresentada como a menina dos olhos do próprio Deus, qual valor inestimável dado ao homem desde o princípio do mundo. Vale a pena saborearmos alguns extractos deste hino à liberdade rico em prosa poética:
"Liberdade! a natureza toda é um espelho onde a tua grandeza se reflecte. Livres vêm as aves cantar o hino à criação ao levantar-se o astro que ilumina a terra. Livres percorrem as brisas a imensidade do espaço. Livres se convertem as águas em estradas de amplo comércio (...).Disseram aos homens que tu eras a felicidade, mas entre ti e eles mediava o sangue, a morte, o impossível, e apesar disso o género humano arremessou-se para ti, como levado por uma corrente magnética (...).Debaixo de todas as fórmulas, de realezas, de repúblicas, de impérios, chamaram livre ao homem, e não era ele senão escravo, mas, como escravo, tinha gravado no íntimo da alma o instinto da sua liberdade (...). Filha de Deus, eleita dos povos, tu reinarás sobre o universo." (3)
É curioso observar que toda a sua obra está recheada da palavra liberdade . Ele era realmente um apaixonado pela liberdade e revelou ser um seu ilustre defensor ao longo da sua vida política e social. A filosofia cristã é realmente aqui apresentada como a grande inspiradora dos valores supremos da humanidade e o motor da sua evolução em direcção a uma perfeição cada vez maior para a qual possui um íntimo e constante apelo.
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