Caros amigos,
Faleceu ontem, em Fortaleza, um grande amigo, o Embaixador Dário Moreira
de Castro Alves.Não escrevi imediatamente porque, confesso, fiquei um
pouco perdido.
No início, nos anos 1960 e 1970, ele era muito amigo do meu pai.
Depois, nos anos 1980, 1990 e 2000 foi um grande amigo meu.
Durante alguns anos, nos anos 1990, todas as Quintas Feiras
combinávamos de sair para descobrir alguma nova tasca em Lisboa, algo
simples e que trouxesse descobertas inesperadas sobre a cultura
gastronómica. Eram momentos inesquecíveis.
Nesses almoços, ele explicava os segredos dos vinhos; do vinho do
Porto - que é uma arte especial; os segredos de Eça de Queiroz, que ele
conhecia como ninguém; e de Pushkin, que ele tanto amava.
Trazia, tantas vezes, no bolso um pequeno pedaço de papel e
fragmentos da sua magistral tradução de Eugene Onegin, obra maior de
Pushkin. E íamos viajando, palavra a palavra, nos seus sonhos.
Tudo corria leve e magicamente para as questões de estratégia, de
geopolítica. De repente, estávamos mergulhando na história.
Herdei os discos da Rina. Não conheci Dinah Silveira de Queiroz, mas
admirava eternamente a Helena Silveira. E, entre todos eles, emergia
sempre o meu querido Jorge Medauar.
Foi Presidente do Tribunal Europeu do Ambiente - que ajudei a fundar;
escreveu a introdução de um dos meus livros.
Era um homem pequeno e sorridente, os dentes quase nunca se viam. Voz
mansa, olhar doce, profundo, brilhante.
Descobrimos que naquela minha juventude tudo girava em torno dos
autores Anglo Saxões, Germânicos, do Realismo Fantástico e do universo
concreto. Ele estava rodeado pelos Franceses, pelos Russos. Dominava o
cirílico como poucos. Foi um dos mais importantes embaixadores do Brasil
no século XX.
Para além disso, poeta, pensador, um grande amigo - para quem não
havia barreiras de idade, credo ou raça.
Dário de Castro Alves, tão amado em tantos lugares, era uma daquelas
pessoas que nunca deveria morrer. |