De um lado a Latinidade. Num outro vector o Modernismo. Ainda um terceiro quadrante: a Tradição (o eterno retorno, por ora destituído do aparato mítico, mas irreverentemente anti-conservantista). A Revista Portuguesa tudo concilia e tudo percorre nas suas páginas: Da Nação Portuguesa à Seara Nova, de Dostoievsky a António Sardinha, de Augusto da Costa a Diogo de Macedo. Contradições? Desníveis? Absurdo? Na esteira da inconformidade face a um status, harmonizam-se e atenuam-se os choques ideológicos, singram-se trilhos de ousadia ao mesmo tempo que se não abdicam os princípios de valoração nacionalista (ou expansionista). Matriz de uma sociedade insatisfeita, em busca do infinito, do distante e do impessoal a Revista Portuguesa reflecte um estado de espírito, pontua na encruzilhada de esperanças e desesperanças que os anos vinte singularmente caudilharam. Talvez que o resultado de uma leitura atenta nos forneça pontos de referência epocais úteis para o estudo da mentalidade, dos hábitos, dos sonhos, dos preconceitos, das condutas, da sensibilidade, do gosto. Assim sendo encontra-se legitimada uma reedição. Melhor: quantas reedições de tantas outras revistas, panfletos, obras de vária ordem, poderiam, tal puzzle esfíngico mas aliciante, devolver-nos memórias gastas, mitos, fragmentos de ideologia de uma contemporaneidade que permanece reclusa, apesar do esforço de a vivificar, de a intuir? Estas páginas, de uma revista cujo espaço de existência não transcende os seis meses, valem como testemunhos, apenas e unicamente. Leiamo-las. Apreciemos os desenhos de um Stuart, de um Diogo de Macedo, de um António Soares, de um Cristiano Cruz (alguns bem pouco conhecidos).
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