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Alberto Augusto Miranda.. |
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Lembrandt |
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Sobrancilhas: sentar-me
nas silhas de ver o que vês, estofos de não te ver. Atirar o adeus à
água enorme. Chapar, Chiapar. Pela sonovia das carriças acontecer o
salpique reflexo em tua cintura. Para que te estertores, para que te
vires: por esta água segue o sôpro ligatório sem código. Do alto de um
mastro desequilibrado, as touras criancíferas repassam a história ainda
sem histórico. Poeiras de h2o refrescando a repetição das visões.
Anuncia-se, pelos foles da pentateuca fusão de um boeuf sur le toit,
a mixta, a pendurada no terrestre, a assolação dos concílios e
conciliábulos. Nesse álbum de generação iniciada, sempre em Aberto,
sempre Sem Chegar, a repentina emoção octópode infla-se como recheio e
design do vazio. Durante pequenos anos, o discreto som de ocarina entre
abelhas justificava, os órgãos justificava, essa transparente nave
bauhaus propagada até às abelharrações, sob common licenses do
arquivista baltrusaitis e a refracção melódica de luigi nono.
Ao conversar com eles por muito breves espaços, entornei na atmosfera
quântica certos gases de não-eliminação. O corpo medeiático assinalado
como eixo exilara conformadas fantasias ditas inábeis para consecuções
de fazer correr em simultâneo a transferência e a actualização.
A imagem não me larga, não
me alarga. No tubo cilíndrico da história, a desaceleração contrai-me a
velocidade em direção ao vórtice: apenho-me na fiação das rochas, no
sangue das falésias que me interditam o material de estar-te. São as
árvores as minhas cobridoras, cobrem-me dos céus e das terras,
obrigam-me ao frontal, ao lobo, ao sedento da inexistência. As carnes
quase rastejantes e pitáforas, não desenvolvem desejos mais além das
vulgaridades sem líbido galáctica, essa iniciação reduzida aos
transportes de metro, de centímetro, de solavancas sem frémito. Ao olhar
para trás da revista diante de mim, apanho o esplendor do trânsito. Que
a Casa me não Oiça. Os xamanes deleutéricos circuncisam-se em bodes de
expiação alcoólica. Os poderes rebatinam as três opções da cidadania
assumida. Tu tocas. Tu tocas-me. Esse instrumento imassificável tão
pouco está ao alcance das heranças. O seu acontecer exprime-se
raiadamente no desligar involuntário do raciocínio. Poderíamos ler Leão
Hebreu, sem suspeitar das electricidades de zeus às vezes. Sem suspeitar
da descontinentalização, da formação de ilhas como uma massa épica: "As
Ilhíadas". Do Século Sempre Antes De Nós. Mesmo nada havendo para
Cª_ºntar. Escrever é deixar ao Mundo uma Suspeita.
O rosto é um cavalo
marinho que ninguém levará para casa sob onda kitsch. O rosto é uma
circunstância de variedades. Proteu vigia a inércia, lança fungos de
vida-bolor aos estrati-ficados. Freme e brame o que virá. Nos episódios
de morrer, oitocentos mil cães ladram ao retorno anterior ao seu parto,
querem-se devolvidos à sua existência espectral. Eles vão espetando,
espectando. Sebastiões hermafoditas. Resignados do não. Da absência.
Contentes de suas personas. Eu amo os cabelos que não crescem como
estátuas. Que se cortam nas vibrações do outro. Que não se preparam.
Pelo googleearth não te conhecerei, não reponto a vascularidade da
viagem desmapada. Só um copo de quantum mar permite o estando, o
que se não deve, o corpo sem atilhos, o espírito sem instituição.
Os degraus são um fetiche
das organizações. As escaladas são objectivos e não sonhos. Os
Hemo-laias, a Subida sem Descenso, sem Competição, sem Feito. A Subida
ao Estar. Nenhum herói: a camisa que não se despe, o vemto nas mãos, a
boca soletrando o Trágico, o Nu. Deixar o Drama aos existentinhos.
Colocar um programa que interdite o copy-paste amoroso. Deixar
Sair. Deixar Existir. A sensorialidade única deste beijo a meio da tua
coxa esquerda. Sorver o litro da rótula imbela. Colocar no entre
a estupefacção. Abandonar a escrita, a estupeficção. Caminhar sem olhos.
Amputar as âncoras. Ser o Corpo que Começa. |
alberto
augusto miranda, lembrandt (2011) |
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Alberto Augusto Miranda nasceu no dia 21 de Fevereiro de 1956 em Vila Real. Foi professor do ensino secundário em Lisboa, dedicando-se actualmente à escrita, à tradução e à crítica literária. É colaborador permanente da RDP-Antena Um. Foi coordenador de Las Jornadas de Literatura Galega (Lisboa, 25 a 30 Maio 1998).
Até ao momento publicou dezasseis livros, dos quais se reconhece apenas em: Dá-me com a Noite (poesia); Portografias (narrativa); Nojo (teatro); Vento (histórias para a Inocência).
Como encenador pôs em cena: Alma Até Almada a partir da obra de Almada Negreiros (1989); Ninguém Ama Ema cruzamento de Húmus de Raul Brandão e Os Sítios Sitiados de Luiza Neto Jorge (2001/2002).
Como tradutor, traduziu Alejandra Pizarnik, Angelica Liddell, Anne Sexton, Antonin Artaud, Antonio Gamoneda, Carlos Edmundo de Ory, Claudio Rodriguez, Emily Dickinson, Eunice Odio, Fernanda Castell, Héctor Rosales, Ildefonso Rodríguez, Ilhan Berk, José Angel Valente, Laura C. Skerk, Maite Dono, Manuel Lourenzo, Paul Éluard, Sabine Sicaud, Sylvia Plath, Virgínia Woolf.
Criou e dirige as Edições do Destinatário, Edições Tema, Edições Fluviais, Edições do Buraco com propósitos vários: a) - atender ao dentro de cada um, se cada um é cada um; b) - mostrar o não mostrado pelos agentes - vários - da coisa literária; c) - criar percursos autónomos e livres para a criação e desaguação; d) - Atender ao específico e à diferença sem neles interferir; e) - particular atenção às línguas e culturas escondidas do mercado, com incidência forte na língua e cultura galegas e na criação poética latino-americana.
Estas Edições Tema, Edições Fluviais e Edições do Buraco são parte constitutiva do Departamento Literário da Sociedade Guilherme Cossoul (Av. D. Carlos I, 61-1º 1200-647 Lisboa - Portugal. Tm: 965817337; Correio electrónico: ahahmiranda@hotmail.com). Este Departamento não vende nem distribui comercialmente os livros que edita, confia noutra coisa.
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