ADELTO GONÇALVES
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Em busca de Sodoma e Gomorra |
Quem sai de Eilat em direção ao Norte de Israel, acompanhando as montanhas da Jordânia, vai passar ao pé de Sidom. Por ali, em algum lugar, devia estar situada Sodoma, cidade bíblica que ficava na margem Sul do Mar Morto. Como se sabe, os pecados dos moradores de Sodoma e Gomorra chegaram a tal ponto que Deus irou-se e destruiu as duas cidades com uma chuva de enxofre e fogo (Gênesis, 19.24).
Quem for atrás de Sodoma ou de Gomorra não vai encontrar nada porque, até hoje, não se encontrou nenhum vestígio dessas cidades. Muitos arqueólogos identificam Bab ed-Dhra, que fica na Jordânia, como a provável Sodoma da Bíblia, mas não há provas definitivas. Por isso, a tradição continua a prevalecer, indicando o território israelense como o provável lugar de Sodoma. Por aqui há muitas salinas e é provável também que a passagem bíblica da mulher de Ló que ficou convertida em estátua de sal, ao olhar para trás (Gênesis 19.26), tenha ocorrido nesta região. Hoje, além de montes de sal, o que há para ver aqui é muito pouco: há os spas de Ein Bokek, Neve Zohar e o Ein Gedi Health Spa, que são conhecidos como centros terapêuticos e têm acessos privativos ao mar Morto. O governo israelense controla as águas do rio Jordão para que não entrem no mar Morto, perdendo sua utilidade, e sejam aproveitadas na agricultura. Também a Jordânia aproveita a mesma água. Por isso, a cada ano menos água entra no mar Morto, que está em vias de desaparecimento.O resultado é que há vastas extensões ressequidas e rachadas por onde até havia poucos anos corriam as águas do mar Morto. Há um projeto comum israelense-jordaniano para que águas do mar Vermelho sejam trazidas para o mar Morto com o objetivo de evitar o seu desaparecimento, mas a sua execução tem sido atrasada por causa das dificuldades financeiras por que passa o governo da Jordânia. Enquanto isso, o mar Morto já baixou mais de 20 metros em cem anos. As propriedades terapêuticas das águas e da lama negra do mar Morto são conhecidas desde os tempos antigos. Por isso, além de spas, há resorts e clínicas à beira do lago mantidas por redes famosas como Sheraton, Caesar Palace e Meridien. Mas não é preciso recorrer a esses lugares caros: em Ein Gedi, nas margens do mar Morto, há quiosques e banheiros e chuveiros públicos. No ar há sempre um cheiro desagradável de enxofre, mas não se deve atribuí-lo a pouca limpeza dos banheiros públicos, embora o aspecto visual não seja grande coisa. O cheiro é mesmo característico da forte presença de minerais no mar. Quem entra no mar Morto precisa, logo em seguida, passar por um banho de água encanada para tirar o sal. Até as roupas molhadas pelas águas do mar Morto precisam passar por uma lavagem imediata; caso contrário, estarão apodrecidas em pouco tempo por causa da ação do sal. A água apresenta muita solidez em razão da presença de tantos minerais: é possível flutuar e até ler jornal deitado no mar. Mas, cuidado: é perigoso deixar entrar água nos ouvidos. Pessoas que não sabem nadar podem se debater e espirrar água nos olhos dos outros. Nesse caso, o recomendável é que a pessoa saia imediatamente do mar e vá lavar os olhos no chuveiro ou na torneira pública. Diz-se que basta ficar com os pés à beira do mar para que as águas do mar Morto cicatrizem frieiras e curem até micoses. Também é recomendável aproveitar a estada à beira do mar para espalhar a lama negra por todo o corpo, deixando-a agir por alguns minutos. Depois, basta ir ao chuveiro público para retirar os resíduos de sal. A um quilômetro da praia está Ein Gedi, cujo nome significa "fonte da criança". Ein Gedi está citada na Bíblia nos Cantares de Salomão (Cânticos 1-14) e serviu como refúgio para Davi durante a fuga do rei Saul (Samuel 1.24), que teria ficado escondido numa caverna no local. É um oásis em meio a um cenário desolador. No local está o Parque Nacional Ein Gedi, que preserva a flora e a fauna do deserto. Quem entra no Parque sempre vê cabritos monteses por todos os lados. Pode-se fazer uma caminhada de uma hora até a cachoeira Shulamit. Perto do parque estão as ruínas de uma sinagoga do século V, com mosaicos e inscrições em hebraico e aramaico. MASADA Perto do mar Morto, mais adiante, no alto de uma colina, a mais de 400 metros de altura, está a fortaleza de Masada, construída por volta dos séculos I ou II a.C. e ampliada por Herodes o Grande, que ergueu vários palácios em seu interior. De Masada, Hollywood já fez um filme com Peter O´Toole no papel de Herodes. Hoje, para se chegar a Masada, usa-se um moderno teleférico que faz uma viagem de poucos minutos. Depois de Herodes, Masada passou ao controle dos romanos, até que judeus da seita zeolte a conquistaram em 66 d.C. Segundo relato do historiador romano Flávio Josefo, legiões romanas com 10 mil homens cercaram Masada, que era defendida por mil judeus. Os romanos fizeram um cerco na montanha e construíram uma enorme rampa na encosta. Depois, ergueram uma torre contra as muralhas. E atacaram com aríetes. Os judeus, para não cair nas mãos dos inimigos, preferiram o suicídio em massa. Segundo Josefo, cada homem era responsável por matar a sua própria família. Essa história o visitante acaba por conhecer antes mesmo de começar a sua visita em Masada, assistindo a um filme em inglês numa sala com ar-condicionado. Quem preferir, em vez de usar o teleférico, pode fazer uma caminhada pela Trilha da Serpente, o que exige um esforço de uma hora, mas não é recomendável. O teleférico funciona todos os dias das 8 às 16 horas. Lá no alto há muito que ver: uma sinagoga, erguida por Herodes, provavelmente a mais antiga do mundo; as termas, uma das partes mais preservadas do sítio arqueológico; parte do Palácio Suspenso, que serviu como residência para Herodes; o Palácio Ocidental, que era usado para recepção a hóspedes; e o Columbarium, onde há nichos para urnas funerárias. |
ADELTO GONÇALVES. Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br |