ADELTO GONÇALVES
Crónicas de viagem

 
Em Petra, nas pegadas de Indiana Jones

A visão do templo Tesouro e do Mosteiro vale a caminhada de cinco
quilômetros por terra, montanha e calçamento de pedras sob sol escaldante

 
Se a vista do Monte Nebo é marcante, a cidade de Petra, encravada nas pedras, é inesquecível. Como fica a pouco mais de duas horas de Amã, exige que se hospede num hotel no vale de Wadi Musa ou vale de Moisés para que seja possível ficar ali pelo menos um dia inteiro.

É um dos sítios arqueológicos mais fascinantes do mundo que serviu de cenário para o filme Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), de Steven Spielberg, com Harrison Ford. Assim como Jerasah, Petra foi atingida por um terremoto em 747 d.C. Por mais de 500 anos, suas ruínas eram conhecidas apenas pelos moradores locais, até que, no começo do século XVIII, um explorador inglês, Johann Ludwig Burckhardt, atraído pelas histórias sobre uma cidade perdida nas montanhas, acabou por redescobri-las para o resto da Humanidade.

É inesquecível a visão da fachada do templo O Tesouro (Al Khazneh, em árabe), construção iniciada no século 1º d.C. pelos nabateus, mas que teve acréscimos feitos pelos romanos, com sua fachada em tons rosados encravada na pedra. Para chegar lá, faz-se uma caminhada puxada, mas em declive, de um quilômetro por uma estradinha que é ladeada por túmulos de todos os tamanhos. Como o sol é escaldante, pode-se diminuir as agruras da viagem seguindo no lombo de um cavalo, mas só até a entrada do Siq, um estreito desfiladeiro aberto na rocha.

O preço da viagem é um dinar. Também é possível ir de charrete para três pessoas ao longo do Siq, mas o custo é salgado: 30 dinares (US$ 24). No caminho, à esquerda, pode-se ver um pequeno aqueduto e uma canaleta, também esculpidos na pedra, que faziam parte do sistema hidráulico dos nabateus.

Dentro do Tesouro, não há muito o que ver, exceto uma câmara com 12 metros quadrados e uma fonte de ablução, o que significa que ali funcionou um templo. A sua entrada, hoje, está cercada por cavaletes e é preciso contorná-los para chegar até a porta principal. É que escavações recentes descobriram que há um outro templo debaixo do Tesouro.

No alto da fachada há a imagem da deusa da fertilidade de Petra, El-Uzza, além de várias divindades e mitos dos nabateus, esculpidos na pedra, como figuras eqüestres, amazonas e cabeças de Medusa. Ao redor, há marcas de balas que foram atiradas por beduínos que imaginaram que ali havia ouro escondido.

Deixando o templo, seguindo à direita, no meio de um vale, há o Siq Externo, uma estradinha em que se localiza, à esquerda, um anfiteatro para seis mil pessoas, construído pelos nabateus no século 1º a.C e ampliado no ano 106, depois que Petra foi conquistada pelo Império Romano.

Mesmo que o visitante já esteja extasiado com o que viu, é preciso não desistir porque o melhor ainda está por vir. Depois de uma hora subindo intermináveis escadinhas nas montanhas, descobre-se o segundo monumento mais bonito de Petra, o imponente Mosteiro, dedicado ao rei Obodas I, morto em 86 a.C. É outro templo esculpido na pedra, com aproximadamente 20 metros de altura.

VISÃO DO MAR MORTO

Mais acima, um mirante natural permite a visão do Mar Morto e, do outro lado, Israel. À frente, ao Sul, estão a paisagem desértica e lunar de Wadi Rum, a cidade de Aqba e, do outro lado do Mar Vermelho, a cidade israelense de Eilat. Para quem se cansar, é possível chegar até lá no lombo de burros puxados por beduínos que cobram 5 dinares (US$ 4,80). Mas, para alcançar o local que era usado para sacrifícios aos deuses, o jeito é subir mais escadas. Depois disso, só resta voltar com muita pena no coração porque a visão é deslumbrante.

Dali se vê, no alto da montanha, o Túmulo de Aarão, local onde se acredita que esteja enterrado o irmão de Moisés. Para chegar lá, é preciso recorrer ao serviço de guias, levar água em abundância e enfrentar mais três horas de um percurso acidentado a cavalo ou a pé. É o local mais sagrado de Petra.

Embaixo, o Siq Externo se abre numa planície. E por aqui ainda há muito o que ver: o Cardo em estilo romano, ruínas do Palácio Real, uma Torre Bizantina, o Grande Templo com as ruínas de um auditório para 600 pessoas e outras construções.

É claro que o pior é mesmo o retorno, quando, depois de descer as escadas, é preciso fazer uma longa caminhada em aclive para retornar ao ponto inicial. No total, são cinco quilômetros por terra e calçamento de pedras. Por isso, o passeio não é recomendado para quem está fora de forma física ou sofre de problemas cardíacos.

É importante nunca esquecer de levar garrafa d´água. No caminho, também é possível abastecer-se com água gelada porque sempre há barracas que vendem refrigerantes, filmes e souvenires. Não deixe de comprar um book com desenhos que reproduzem as obras de arte de Petra. Sai por menos de cinco dinares e quem não o compra na barraca que fica em frente ao Tesouro, dificilmente, tem outra oportunidade. Suas páginas são destacáveis e, emolduradas, podem decorar qualquer ambiente.

Na praça em frente ao Tesouro, há também sempre beduínos que cobram dois dinares (US 1,60) por uma voltinha de quatro metros em cima de um camelo. Vale pela fotografia. É uma lembrança para o resto da vida. (A.G.)
 
ADELTO GONÇALVES. Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br
 
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