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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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Homenagem ao filósofo José Maurício de Carvalho |
Pravda,
01.07.2017:
http://port.pravda.ru/sociedade/cultura/01-07-2017/43558-jose_mauricio_de_carvalho-0/ |
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Filósofo, psicólogo, pedagogo, pesquisador e articulista, José
Maurício de Carvalho, nascido em São João del-Rei-MG, tem se
destacado por sua disposição de tornar pública a reflexão
filosófica no Brasil, o que o levou naturalmente a se enveredar
pelo pensamento filosófico de Portugal. |
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I |
Se não é o principal
filósofo brasileiro hoje, José Maurício de Carvalho (1957), sem dúvida,
está entre os mais respeitados não só no Brasil como em Portugal. Por
isso, a homenagem que os professores Mauro Sérgio de Carvalho Tomaz,
Adelmo José da silva e Paulo Roberto Andrade de Almeida lhe fizeram, ao
organizar o livro Uma Filosofia da Cultura: escritos em homenagem a
José Maurício de Carvalho(Universidade Federal de São João del
Rei-UFSJ, 2016), é mais do que justa. A obra reúne ensaios sobre aspectos
de sua extensa obra, além de textos do próprio homenageado e recensões de
seus livros. Filósofo, psicólogo, pedagogo,
pesquisador e articulista, José Maurício de Carvalho, nascido em São João
del-Rei-MG, tem se destacado por sua disposição de tornar pública a
reflexão filosófica no Brasil, o que o levou naturalmente a se enveredar
pelo pensamento filosófico de Portugal. Por isso, seus escritos
encontraram sempre grande receptividade na imprensa portuguesa,
especialmente no suplemento semanal Das Artes Das Letras, do
diário O Primeiro de Janeiro, do Porto, que, extinto em 2008,
teria continuidade em maio de 2009 com o quinzenário As Artes entre as
Letras, igualmente sob a direção da jornalista Nassalete Miranda.
Mestre e doutor em Filosofia, com estágio de
pós-doutoramento na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na
Universidade Nova de Lisboa, Carvalho aposentou-se recentemente como
professor titular de Filosofia Contemporânea do Departamento de Filosofia
da UFSJ. Atualmente, é professor do Instituto de Ensino Superior
Presidente Tancredo de Almeida Neves (Iptan), membro do Instituto
Brasileiro de Filosofia, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, da
Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Mantiqueira de
Letras. Publicou 30 livros e capítulos em outras l5 obras, além de mais de
uma centena de artigos em revistas e jornais.
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II |
Um dos mais instigantes
ensaios deste livro é "Sampaio Bruno e o Brasil mental", do
próprio homenageado, redigido para o congresso A Obra e o Pensamento
de Sampaio Bruno, realizado na Universidade Católica Portuguesa, no
Porto, entre os dias 4 e 6 de novembro de 2015. Nesse texto, Carvalho
lembra que o filósofo portuense Sampaio Bruno (1857-1915), considerado o
fundador da Filosofia portuguesa, autor do livro O Brasil Mental (1898),
apesar de seu esforço na tentativa de reaproximar a intelectualidade
portuguesa da brasileira, não "enxergou as novidades nem viu valor nas
considerações filosóficas da Escola do Recife que ele avaliou com o mesmo
desdém com que condenou a ignorância de seus compatriotas do quadro
intelectual brasileiro".
Para Carvalho, as críticas de Bruno a Tobias Barreto
(1839-1899) e aos seus continuadores da Escola do Recife acabaram não
sendo exatas, porque Bruno parece entender as posições de Silvio Romero
(1851-1914) como uma continuação de Tobias, sem notar a inflexão que o
culturalismo sociológico de Romero representou em relação à herança do
mestre. Segundo Carvalho, havia na Escola do Recife outros pensadores
importantes como José Soriano de Souza (1833-1895) e João Mendes Júnior
(1856-1922), que não foram contemplados nas análises
de Bruno.
O volume traz também o ensaio "Sampaio Bruno e o Brasil
culto", do professor doutor António Braz Teixeira, da Universidade
Autônoma de Lisboa, que, a exemplo do trabalho de Carvalho, foi escrito
para o congresso em homenagem a Sampaio Bruno, o que significa que, ao
tempo, cada autor desconhecia o texto do outro e, portanto, não constitui
uma contestação ao que o filósofo brasileiro escreveu.
Neste trabalho, Braz Teixeira preferiu destacar a
preocupação de Bruno em chamar a atenção da "gente culta de Portugal para
as obras literárias, filosóficas, históricas, políticas de nossos irmãos
brasileiros". E para a benevolência do filósofo portuense em relação à
extensa crítica com que Euclides da Cunha (1866-1909) reagiu ao livro O
Brasil Mental em artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo,
nos dias 10, 11 e 12 de julho de 1898, pois, um decênio mais tarde, não se
recusaria a prefaciar a penúltima obra do autor de Os Sertões (1902),
o volume de ensaios Contrastes e confrontos, publicado por uma
editora portuguesa em 1907, dois anos antes da morte do escritor
brasileiro.
Já o professor doutor José Esteves Pereira, da
Universidade Nova de Lisboa e do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira,
em "José Maurício de Carvalho e os caminhos da moral moderna: notas
breves", reconhece que homenageado é hoje "um dos mais lúcidos intérpretes
da realidade político-cultural luso-brasileira", observando que suas
reflexões sobre o tradicionalismo, tomando como referência Pascoal José de
Melo Freire (1738-1798) e José da Gama e Castro (1795-1873) ou ainda o
mineiro José Severiano de Resende (1871-1931), vieram a abrir novos campos
de pesquisa sobre o tema.
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III |
Na
impossibilidade de se referir aos demais ensaios sobre a obra do
filósofo mineiro - de autoria de Antônio Paim, Ricardo Vélez
Rodríguez, Paulo Roberto Andrade de Almeida, Adelmo José da Silva,
Mauro Sérgio de Carvalho Tomaz e Selvino Antônio Malfatti -,
ressalte-se o texto "José Maurício de Carvalho e a pesquisa do
pensamento luso-brasileiro", de Anna Maria Moog Rodrigues, da
Academia Brasileira de Filosofia e do Instituto Luso-brasileiro de
Filosofia, que acompanha a trajetória do homenageado desde os idos
da década de 1980, quando este se apresentou como candidato ao
curso de doutoramento no Departamento de Filosofia da Universidade
Gama Filho, no Rio de Janeiro. Na abertura desse texto, diz a
professora Anna Maria que "inteligente, diligente, determinado,
eficiente e objetivo são características que se podem atribuir sem
exageros a José Mau ricio de Carvalho enquanto estudioso e
pesquisador das ideias".
Diz ainda a filósofa que Carvalho foi
introduzido no estudo do pensamento português pela obra do
historiador de ideias Joaquim de Carvalho (1892-1958), sobre o
qual escreveu o livro História da Filosofia e Tradições
Culturais: um Diálogo com Joaquim de Carvalho (Porto Alegre,
ediPUCRS, 2001). De Joaquim de Carvalho, o filósofo disse que foi
quem o ajudou "a perceber o filosofar como um diálogo com o
passado".
Delfim Santos (1907-1966) foi outro pensador
que se tornou um guia para Carvalho no estudo do pensamento
português. Foi tema de sua tese para o concurso de professor
titular, que resultou no livro A Filosofia da Cultura: Delfim
Santos e o Pensamento Contemporâneo(Porto Alegre, ediPUCRS,
1999).
Conhecendo profundamente a trajetória do pensamento português,
através da leitura das obras dos escritores moralistas portugueses
da chamada Segunda Escolástica, Carvalho, segundo Anna Maria, pôde
entender a contribuição da Contra-Reforma católica na cultura
luso-brasileira para, a partir daí, elaborar um novo esquema
interpretativo do desenvolvimento temático da moralidade
luso-brasileira desde a Renascença até o século XVIII.
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Uma Filosofia da Cultura:
escritos em homenagem a José Maurício de Carvalho, de Mauro
Sérgio de Carvalho Tomaz, Adelmo José da Silva e Paulo Roberto Andrade de
Almeida (organizadores). São João del-Rei-MG: Universidade Federal de São
João del-Rei, 312 págs., 2016. E-mail: segra@ufsj.edu.br Site: www.efsj.edu.br |
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Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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