|
REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
|
|
|
|
|
Adelto Gonçalves |
|
Para entender o mundo
corporativo
|
|
101 reflexões para evitar
que sua empresa entre em crise, de Rivaldo
Chinem. São Paulo: Editora Ideias & Letras, 117 págs., R$ 20,90, 2016.
Site: www.ideiaseletras.com.br
E-mail:
vendas@ideiaseletras.com.br
|
|
I |
À época em que era escrita
apenas para a publicação em jornal diário, a crônica tinha caducidade
precoce. Talvez por isso o gênero tenha sido sempre visto como pouco
merecedor de tratamento crítico, o que nunca o impediu de ser cultivado no
Brasil desde o século XIX por escritores eminentes como José de Alencar
(1829-1877) e Machado de Assis (1839-1908), passando por sua fase de ouro
com João do Rio (1881-1921) e Rubem Braga (1913-1990), que seriam seguidos
por mestres do quilate de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Fernando
Sabino (1923-2004), Paulo Mendes Campos (1922-1991), Henrique Pongetti
(1898-1979), Luis Martins (1907-1981), Lourenço Diaféria (1933-2008),
Raquel de Queiroz (1910-2003) e outros tantos.
Agora, em época de Internet, essa caducidade já não é
tão precoce, mas o gênero igualmente precisa do papel impresso para ganhar
perenidade e talvez a pretensa eternidade dos arquivos e bibliotecas
públicas, que o preservariam do esquecimento. Além disso, a crônica,
espécie de conversa à beira do fogo ou debaixo da árvore, é ainda a melhor
maneira de se dizer de maneira simples verdades que ditas de forma mais
pomposa ou solene talvez não conquistassem tantos corações e mentes.
Foi o que “descobriu” Rivaldo Chinem (1952), experiente
jornalista formado nas redações das principais publicações do País e hoje
consultor da área empresarial, ao escrever, em formato de crônica, textos
dirigidos ao mundo corporativo. Inicialmente destinadas a sua coluna num
site da Internet, estas crônicas ganham agora a edição impressa com o
livro 101 reflexões para evitar que sua empresa entre crise (São
Paulo, Editora Ideias e Letras, 2016), que coloca em debate uma série de
temas comuns no dia a dia das empresas. “São provocações relacionadas ao
vastíssimo universo da comunicação, resultado de suas andanças,
conhecimentos, conversas, entrevistas e observações do mundo”, diz o
jornalista, comunicador e escritor Luiz Márcio Ribeiro Caldas Junior,
autor do prefácio.
|
|
II |
Bem lidas por empresários ou executivos de baixo ou
alto escalão em suas horas de descanso, estas reflexões, por certo,
ajudarão os leitores a colocarem em prática no dia seguinte algumas
providências que podem mudar o rumo de suas empresas nestes dias de
angústia provocada por uma crise político-financeira originada da
insensibilidade daqueles que deveriam bem cuidar dos destinos da Nação.
Seus temas são atuais, variados e constantemente discutidos em locais de
trabalho e nascem da leitura de jornais, sites, redes sociais ou mesmo de
livros recém-lançados. São todos, porém, vistos sob a luz da comunicação,
sejam de fundo científico, econômico, literário ou ainda notícias a
respeito de figuras notórias na vida nacional. Em cada crônica, o
consultor/cronista nunca deixa de reservar as últimas linhas para uma
reflexão sobre o caso abordado, aplicando-o à rotina da empresa e do
andamento dos negócios.
Em “Bioética em questão”, por exemplo, Chinem discute a
afirmação do psicólogo norte-americano Howard Gardner, criador da Teoria
das Inteligências Múltiplas, segundo a qual a ética neste século XXI vai
valer mais que o conhecimento. E o que isso pode significar na vida das
empresas, ou seja, cada vez mais o empresário e os gestores de empresas
deverão estar atentos a questões morais, condutas e políticas. Tal como
hoje no campo da bioética já não é admissível experimentos médicos sem o
consentimento das pessoas ou que idosos sejam obrigados a tomar
medicamentos contra à própria vontade, nas empresas é preciso vigilância
para que nenhum funcionário seja constrangido por superiores hierárquicos.
Um caso de assédio sexual, por exemplo, pode colocar em xeque a imagem de
uma empresa, jogando por terra anos de trabalho sério.
Mais adiante, na crônica “Jornais empresariais”, Chinem
resenha o livro Jornalismo organizacional – produção e percepção
(São Paulo, Summus Editorial, 2011), da professora Marlene Branca Sólio,
para concordar com a autora que, em geral, os jornais empresariais são
pobres em pautas e que lhes falta qualidade na produção de textos. E que
tudo isso resulta da ingerência de leigos em jornalismo que se sentem com
autoridade para cortar, rabiscar ou vetar textos mais apurados, em nome de
interesses mesquinhos ou a pretexto de não promover possíveis
concorrentes. Em consequência, o que se vê são jornais corporativos com
textos mal escritos, repetitivos, bajuladores, cheios de erros de
gramática, “o que desmotiva o leitor”, diz Chinem.
Em outro texto, “Os press releases”, Chinem
cita pesquisa que envolveu quase 500 profissionais de imprensa do Brasil,
Estados Unidos e Europa e apontou que a primeira fonte dos jornalistas
ainda são os press releases das assessorias de comunicação. No
Brasil, onde foram ouvidos 84 profissionais, 62% recorrem às assessorias
de imprensa e 59% aos porta-vozes das empresas. Para checagem, 66,6%
recorrem ao Twitter, 59,3% ao Facebook e 57,1% aos blogues. No País, 32,1%
dos repórteres usam o press release como primeira fonte, seguido
dos sites com 16,6% e os porta-vozes com 14,2%. É de se observar que, no
tempo em que Chinem dava seus primeiros passos na imprensa, todo bom
profissional tinha uma caderneta, geralmente sebenta, com os telefones de
suas fontes e não passava a maior parte do tempo na redação, mas atrás de
notícias na rua, que era o lugar de todo bom repórter.
O livro termina com uma crônica, “Voz da razão”, que
pode ser lida como uma homenagem aos 80 anos de Alberto Dines, em que esse
mestre de todos nós lembra que há centenas de jornalistas com 65 ou 70
anos sem espaço nas redações porque empresários botaram na cabeça que o
profissional, chegando aos 60, está na hora de ser cortado. “Eles
inventaram esse raciocínio de que o novo custa menos. Não, o novo custa
mais, porque faz coisas ruins, vai levar tempo para aprender e acaba
prejudicando os outros”, ensina Dines.
Por estes exemplos, o leitor pode ter uma ideia do que
o espera ao ler este livro que tem como pano de fundo o fascinante mundo
da comunicação.
|
|
III |
Rivaldo Chinem, jornalista e consultor na área de
comunicação empresarial, formado em 1974 pela Faculdade de Artes e
Comunicação Social (Facos) da Universidade Católica de Santos (Unisantos),
começou a trabalhar como repórter no extinto diário Cidade de Santos
em 1972 e, depois, foi para a Agência Folha, Folha de S. Paulo,
O Estado de S. Paulo e revista Veja. Dirigiu o
jornalismo da TV Gazeta e da Rádio Tupi, em São Paulo. Foi ainda um dos
jornalistas que enfrentaram a ditadura militar (1964-1985) colaborando com
a imprensa alternativa, tendo passado pelas redações de Repórter,
Versus, Opinião, Movimento e de O São Paulo,
então combativo jornal da Cúria Metropolitana de São Paulo, que tinha à
frente o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.
Apresentou o programa Imprensa e Comunicação em
Debate na Rádio Bandeirantes. Foi articulista da Agência Estado com a
coluna Leitura do Empresário, do site Topnegócios, do portal
Terra, com a coluna Marketing Empresarial, e do portal
Megabrasil, com a coluna O dia a dia das assessorias de comunicação,
que mantém até hoje.
Prestou assessoria de imprensa para empresas
multinacionais, associações de classe, empresários, políticos em São Paulo
e em Brasília, governo e embaixada. Foi assessor de imprensa do
ex-presidente Jânio Quadros (1917-1992). Ganhou o Prêmio Wladimir Herzog
de Reportagem, instituído pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Deu cursos no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),
Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB),
Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Pontifícia
Universidade Católica (PUC), de São Paulo, e Universidade de São Paulo
(USP).
Publicou os livros Terror policial (São Paulo,
Editora Global, 1980), em co-autoria com o jornalista Tim Lopes
(1950-2002), Sentença: padres e posseiros do Araguaia (Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1983), Imprensa alternativa – jornais de
oposição e inovação (São Paulo, Editora Ática, 1995), Assessoria
de imprensa – como fazer (São Paulo, Summus, 2003), Jornalismo de
guerrilha – a imprensa alternativa brasileira da censura à Internet
(São Paulo, Editora Disal, 2004), Comunicação empresarial – teoria e o
dia a dia das assessorias de comunicação (Vinhedo, Editora Horizonte,
2006), Marketing e divulgação da pequena empresa (São Paulo,
Editora Senac, 2009), Introdução à comunicação empresarial (São
Paulo, Editora Saraiva, 2010); Comunicação corporativa (São
Paulo, Editora Escala, 2011); e Comunicação empresarial: uma nova
visão da empresa moderna (São Paulo, Discovery Publicações, 2012).
|
|
Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
|
|