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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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A história do capitalismo brasileiro |
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Empresários Brasileiros,
de Latif Abrão Jr. e Marcos Barrero. São Paulo: L2M
Comunicação/ADVB, 467 págs., R$ 189,90, 2014. E-mail:
advb@advbsp.org.br . Site:
www.advbsp.org.br |
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I |
Composto pelas histórias pessoais e
empresarias de 51 empreendedores em atividade entre 1962 e 2013, o livro
Empresários Brasileiros ajuda a compreender a construção do
capitalismo no País. Escrita pelo administrador, empresário e poeta Latif
Abrão Jr. e pelo jornalista e escritor Marcos Barrero, a obra,
luxuosamente produzida em formato mesa (30x25cm) e com capa dura, reúne as
biografias de líderes empresariais que, ao longo daquele período,
conquistaram o título de Personalidade Nacional de Vendas, instituído pela
Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). E marca,
ao mesmo tempo, não só a contribuição da ADVB para a sociedade brasileira
em seus quase 60 anos de existência como reconstitui a história do
empreendedorismo, a saga do comércio e da indústria do Brasil.
Obviamente, o leitor arguto irá desconfiado ao encontro
deste livro, imaginando que terá pela frente uma obra encomiástica, tal
como aquelas que empresas e entidades costumam fazer para comemorar datas
redondas, cheias de louvações a capitalistas antigos ou a outros ainda em
ação, mas, desde logo, adverte-se aqui para o engano. Na realidade, este é
um livro surpreendente da primeira à última linha porque as histórias aqui
resgatadas são apresentadas sem nenhuma complacência com seus personagens,
mas atreladas apenas à verdade dos fatos.
Mais: foram escritas ao estilo do new journalism
norte-americano de Trumam Capote (1924-1984), Gay Talese (1932), Norman
Mailer (1923-2007) e Tom Wolfe (1931), levando o leitor a uma viagem pelo
Brasil que trabalha e constrói. Até porque um de seus autores, o
jornalista Marcos Barrero, é reconhecidamente dono de um dos melhores e
mais brilhantes textos de sua geração.
De se observar é que, das 51 personalidades escolhidas
pela ADVB, apenas uma é mulher, o que pode significar que o capitalismo
brasileiro tem sido majoritariamente obra de homens, deixando concluir que
o País ainda está muito distante na luta pela igualdade dos sexos. A
honrosa exceção é a empresária Sônia Hess de Souza, sexta filha de uma
costureira e de um poeta que, em 1957, criaram uma firma para coser
roupas. Com tenacidade e destemor para enfrentar um mundo de homens, Sônia
fez da obra dos pais, a Dudalina S.A., a maior camisaria da América
Latina.
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II |
Seja como for, a leitura destes perfis ajuda
também a compreender a própria história do capitalismo brasileiro que
nasce, a rigor, depois da morte da Velha República em 1930, com o
afastamento do poder de alguns grandes proprietários de terras,
especialmente cafeicultores. Mas foi a partir do final da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) que o Brasil começou a se modernizar, com a abertura
de algumas indústrias, que puderam ajudar o governo a colocar em prática a
política da substituição das importações.
A essa época, São Paulo já aparecia como o mais
importante centro industrial da América Latina. Muitos empreendedores já
eram filhos e netos de imigrantes italianos que assumiam e comandavam os
negócios de seus ancestrais. No mundo, os Estados Unidos surgiam como os
líderes do bloco capitalista, aumentando sua influência sobre os vizinhos
latino-americanos. O seu modelo de vida começava a chegar aos brasileiros,
através das ondas do rádio, dos jornais e revistas e pelos filmes que
vinham de Hollywood.
Como mostra o livro de Latif e Barrero, o principal
legado do período que vai de 1945 a 1960 foi o avanço da industrialização
do País. Foi a partir de 1962 que a ADVB começou a contemplar os pioneiros
na produção de bens, serviços e consumo (Johnson & Johnson, Artex, Pão de
Açúcar, Varig, Grupo Gerdau, Eucatex, Duratex e Wallig) e uma poderosa
mídia criada para sustentar o avanço da indústria brasileira (Rede Globo,
TV Record, grupo Manchete e agência Salles/Interamericana). Sem esquecer,
à época da ditadura militar (1964-1984), de destacar empresas vencedoras
como Banco Bamerindus, Lojas Marisa, Supermercados Bompreço, Cofap, Fiat,
TAM, Sharp e Melita. Ou ainda de homenagear empresas que, mesmo
enfrentando os tempos revoltos dos anos 1990/2000, conseguiram sobreviver
e crescer, como GM, Nestlé, Vale, Kia Motors, Casas Bahia, Claro, Avon,
Sadia, Dudalina e o Grupo Dória.
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III |
À frente de seus negócios, nem sempre os
empreendedores foram exitosos. Quer dizer, se à época da contemplação do
prêmio Personalidade Nacional de Vendas viviam o auge de sua vida
empresarial, muitos tiveram de conviver mais tarde com decepções e até
mesmo enfrentar os caminhos da Justiça comum. Entre as biografias daqueles
que são exemplos de empreendedorismo, estão as de Roberto Marinho
(1904-2003), Samuel Klein (1923-2014), Abílio Diniz (1936), Mauro Salles
(1932), Roger Agnelli (1959-2016), Eugênio Staub (1942), Rolim Adolfo
Amaro (1942-2001), Luiz Fernando Furlan (1946), Abram Abe Szajman (1939) e
José Luiz Gandini (1957), entre tantos outros. Mas há outros tantos que
não tiveram tanto êxito assim, como Victor Pike (1923-1995), executivo
norte-americano que veio para montar a divisão da Chrysler do Brasil, mas
que acabaria seus dias recolhendo frutas rejeitadas nas feiras-livres do
bairro do Brooklin, em São Paulo, depois de ter sido passado para trás por
colegas da própria empresa.
Ou ainda o banqueiro Edemar Cid Ferreira (1943),
fundador do Banco Santos e conhecido mecenas das artes, que acabaria
punido pela Justiça, acusado de golpes no sistema financeiro, e Paulo
Roberto de Andrade (1947), antigo dono da Fazendas Reunidas Boi Gordo,
igualmente acusado de fraudes, protagonista do maior escândalo do
agronegócio no País, como se lê no livro. Ou ainda o executivo Walter
Clark (1936-1997), tido como o criador da TV Globo, que casou e teve
filhos com as mais belas atrizes e socialites de sua época, mesmo sendo
empregado, sem nunca ter chegado a patrão, a par de exibir um dos mais
altos salários do País. E que morreu quase na pobreza, a ponto de ter tido
seu funeral custeado por um ex-colega da TV Globo.
O livro, porém, começa com um vendedor de publicidade,
Mário Pacheco Fernandes (1928), que, se não chegou a se tornar um gigante
empresarial, passou para a história da indústria automobilística nacional
como o inventor da Romi-Isetta, uma versão nacional de um exótico carrinho
fabricado na Itália que chegou ao Brasil em 1959, depois de uma associação
da indústria italiana Isetta com um grupo paulista. A história da
Romi-Isetta se confunde com a história da construção de Brasília e com o
auge do cinema nacional e do início da TV no Brasil como veículo de
massas, já que das campanhas publicitárias do mini-automóvel participaram
os grandes artistas da época.
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IV |
Latif Abrão Jr., nascido em Franca-SP,
administrador pela Fundação Getúlio Vargas e bacharel em Direito pela
Universidade de São Paulo (USP), é presidente da ADVB e superintendente do
Instituto de Assistência Médica dos Servidores Públicos Estaduais
(Iamspe). Empresário, sócio-proprietário do Hotel Terras Altas, em
Itapecerica da Serra-SP, é autor dos livros de poemas Criado-Mudo
(Editora Callis, 2005), ilustrado por ele, e O Sentimento da Pedra
(L2M, 2013). É autor também do livro de ensaios Administração & Poesia
(L2M, 2013). Como executivo, atuou nas empresas Companhia Energética de
São Paulo (Cesp), Corporação Bonfiglioli, Vasp-Companhia Aérea de São
Paulo e no grupo Notre Dame Intermédica, onde ocupou a presidência da
empresa. Foi professor de Economia Brasileira e Teoria Geral de
Administração e consultor nas áreas de Gestão e Saúde.
Marcos Barrero, nascido em Assis-SP, jornalista,
é escritor e professor de Jornalismo em São Paulo. Autor dos livros
Assis de A a Z – a Enciclopédia do Século, Catchup, Mostarda e Calorias
(poesias), História dos Campeonatos Regionais (esportes),
Casa da Fazenda (co-autoria) e Dez Décadas – a História do Santos
FC (co-autoria). Foi roteirista e diretor da Rede Globo e o primeiro
ombudsman de rádio do mundo na Bandeirantes/AM, em 1996, conforme registra
a Organization of News Ombudsman, de San Diego/Califórnia. Atuou
como professor de Jornalismo, Telejornalismo e Radiojornalismo na
Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, de 1990 a 2004.
Foi apresentador, diretor artístico e um dos fundadores
da allTV, com a qual ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição
ao Telejornalismo Brasileiro em 2005. Formou-se em Jornalismo pela
Faculdade Casper Líbero, de São Paulo, e possui curso de especialização em
jornalismo brasileiro pela mesma instituição. Foi repórter, redator e
editor na revista Manchete, nos jornais O Estado de S.Paulo,
Gazeta Esportiva e Diário de S.Paulo, na Editora Abril,
e nas rádios Jovem Pan e Bandeirantes. Escreveu para Veja,
Isto É, Folha de S.Paulo e Leia Livros.
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Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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