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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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Eça de
Queiroz: a biografia definitiva
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EÇA DE QUEIROZ.
UMA BIOGRAFIA,
de A. Campos Matos. Campinas: Editora Unicamp; Cotia-SP: Ateliê Editorial,
600 págs., 2014, R$ 100,00. E-mails: vendas@editora.unicamp.br;
contato@atelie.com.br
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I |
O mais produtivo dos pesquisadores ecianos, A. Campos Matos (1928) acaba
de lançar pela Editora Unicamp e Ateliê Editorial a edição brasileira
(revista e aumentada) de Eça de
Queiroz. Uma Biografia, considerada desde que lançada em 2009 por
Edições Afrontamento, do Porto, como a mais completa e mais rica biografia
do romancista português (1845-1900), ainda que trabalhos anteriores, como
Eça de Queiroz, o Homem e o Artista
(1945), reeditada em 1973 como Vida
e Obra de Eça de Queiroz (Lisboa, Livraria Bertrand, 3ª ed., 1980), de
João Gaspar Simões (1903-1987), e
Eça: Vida e Obra de José Maria Eça de Queirós (Rio de Janeiro, Record,
2001), de Maria Filomena Mónica (1943), constituam igualmente estudos
imprescindíveis.
Ao lado de informações até aqui pouco conhecidas sobre a vida de Eça de
Queiroz, o livro de Campos Matos traz vasta e preciosa iconografia, além
de reflexões críticas que permitem uma visão aprofundada do percurso
ideológico do escritor, da repercussão da sua obra e da sua figura pública
entre os contemporâneos. Nesta biografia, há ainda uma lista das
principais obras do autor de O Primo
Basílio, acompanhada de resumo do enredo e opiniões críticas.
Por isso, como observa o professor, crítico e poeta Paulo Franchetti na
contracapa, este é “um volume tão agradável ao leitor comum quanto
indispensável ao especialista e ao estudante interessado na cultura
luso-brasileira do século XIX”. Enfim, pode-se dizer, sem medo de errar,
que se trata da biografia definitiva de Eça de Queiroz.
Escrita inicialmente para o público francês, a obra foi publicada na
França de forma simplificada e com o título
Vie et Oeuvre d’Eça de Queiroz
(Paris, La Différence,
2012). Mas para a edição brasileira o autor introduziu alguns
complementos aos retratos psicológicos de Eça e de Emília de Castro, sua
mulher; apresentando novos elementos sobre o período obscuro do Colégio da
Lapa, no Porto. Por fim, o leitor encontrará também uma cronologia
rigorosamente revista, a mais completa até agora; entre outras
atualizações.
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II |
Como se pode ler na edição
portuguesa, cuja introdução de 13 páginas foi suprimida para a edição
brasileira, “para a não sobrecarregar”, a metodologia adotada nesta
biografia “baseia-se numa seleção ampla e criteriosa de documentos e de
comentários e de uma cautelosa interpretação dos mesmos, que são, em suma,
exigências fundamentais do historiador”. Essa interpretação procura
desvendar as motivações psicológicas de Eça de Queiroz, “uma criança em
bolandas”, ou seja, que viveu aos trancos e barrancos, sem um lar seguro.
Diz o autor: “Da mãe, logo após o nascimento, para a ama, em Vila do
Conde, da ama para a casa dos avós em Verdemilho, da casa dos avós para o
Colégio da Lapa no Porto, daqui para casa de uma tia, irmã da mãe.
Finalmente, depois da formatura em Coimbra, vai para a casa dos pais no
Rossio, em Lisboa.
Eis
o que os psicanalistas chamam uma criança “cedida” (...)”.
A partir daí, o biógrafo conclui
que os comportamentos dissimulatórios de Eça, que se transportaram para a
ficção, “afiguram-se resultado de mecanismos de autodefesa, que implicam
um jogo de disfarces, (...) que nem sempre compreendemos e que, por vezes,
nos parecem inteiramente gratuitos”. E observa que o que predomina na
maior parte de sua ficção é “o insucesso amoroso, a impossibilidade da
realização do amor, a desilusão”. De fato, é extensa a lista de amantes
enganados na ficção queiroziana, desde o conselheiro Acácio traído por uma
ex-amante e Jorge por Luísa em
O Primo Basílio
(1878) e Raposão em A
Relíquia (1887) a Pedro Maia em Os
Maias (1888) e tantos outros.
Essa desconfiança em relação a
mulheres talvez tenha contribuído para que a solteirice de Eça durasse até
os 40 anos de idade, quando, depois de algumas “aventuras” nos Estados
Unidos, à época em que fora cônsul em Cuba, e, provavelmente, com a “bela
desconhecida de Angers”, na França, decidiu procurar a estabilidade e a
disciplina que só o casamento poderia oferecer. Casar-se-ia com Emília de
Castro, irmã de seu amigo Luís Benedito de Castro Pamplona, conde de
Resende, de uma família do Porto há muito sua conhecida. E constituiria
família com quatro filhos, enquanto prosseguia a carreira diplomática em
Bristol e Paris, sem deixar de passar curtas temporadas no Porto.
Com o conde de Resende, alguns
anos antes, Eça fizera uma viagem ao Oriente, cujas peripécias e
deslumbramento passaria para um romance de tinturas picarescas,
A Relíquia. Ao contrário do que
dissera seu primeiro biógrafo, João Gaspar Simões, que desconhecia à época
a existência de cartas trocadas pelo escritor com sua esposa, o casamento
de Eça com a aristocrata Emília de Castro, como mostra Campos Matos,
esteve longe de ter sido motivado apenas por conveniências. Emília seria
extremamente ciumenta em sua relação conjugal com o marido.
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III |
A exemplo do que já fizera em
livro anterior (Eça de Queiroz-Ramalho Ortigão, Retrato da “Ramalhal Figura”),
Campos Matos volta a desmistificar a figura de Ramalho Ortigão
(1836-1915), até então considerado um grande amigo de Eça, inclusive pelo
próprio escritor. Assumindo a responsabilidade perante a família de
coordenar e preparar a publicação dos últimos livros do amigo, Ramalho
Ortigão, como constatou o biógrafo, praticamente, nada fez pela obra
inédita do antigo companheiro, que lhe havia sido confiada pela viúva.
Um ano depois da morte de Eça,
Ramalho Ortigão descartaria a publicação de seus trabalhos póstumos,
limitando-se a fazer a revisão das 30 páginas finais de
A Cidade e as Serras (1901),
“trabalho atrabiliário de abusiva intervenção”. Ao contrário do
comportamento dúbio do pretenso amigo Ramalho Ortigão, o milionário
brasileiro Eduardo Prado, desde o primeiro instante em que soubera da
morte do escritor, haveria de assumir uma série de atitudes solidárias com
a família de Eça de Queiroz, inclusive levando-a para a casa onde morava,
na rue Pergolèse, em Villa Said, perto da
famosa Avenida Foch.
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IV |
O arquiteto e historiador da
literatura portuguesa Alfredo Campos Matos, nascido na Povoa do Varzim,
como Eça de Queiroz, tem um vasto currículo queiroziano, que começou com
Imagens do Portugal Queirosiano (1976). Foi autor em grande parte do
Dicionário de Eça de Queiroz,
publicado em 1988, que deu lugar a uma edição aumentada em 1993 e, em
2000, ao Suplemento ao Dicionário de
Eça de Queiroz. Publicou ainda
Eça de Queiroz-Emília de Castro, Correspondência Epistolar (1995) e,
posteriormente, Cartas de Amor de
Anna Conover e Mollie Bidwell para José Maria Eça de Queiroz, cônsul de
Portugal em Havana: 1873-1874 (1999).
É também autor de
Diálogo com Eça de Queiroz
(1999), A Casa de Tormes, Inventário
de um Patrimônio (2000), Viagem no Portugal de Eça de Queiroz (2000),
A Igreja Românica de S. Pedro de Rates: Guia para Visitantes (2000),
Eça de Queiroz, Marcos
Bibliográficos e Literários (1845-1900), catálogo da exposição do
Instituto Camões (2000), Ilustrações
e Ilustradores na Obra de Eça de Queiroz (2001),
O Mistério da Estrada de Ponte de
Lima: António Feijó, Eça de Queiroz (2001),
Sobre Eça de Queiroz (2002),
Sete Biografias de Eça de Queiroz
(2004), Dicionário de Citações de
Eça de Queiroz (2005), Eça de
Queirós, Postais Ilustrados (2006),
A Guerrilha Literária Eça de
Queiroz-Camilo Castelo Branco (2008),
Eça de Queiroz. Correspondência (2008),
Eça de Queiroz-Ramalho Ortigão,
Retrato da “Ramalhal Figura” (2009),
Silêncios, Sombra e Ocultações em
Eça de Queiroz (2011) e Sexo e Sensualidade em Eça de Queiroz (2012), entre outros. No
total, já publicou 33 livros, incluindo livros sobre arquitetura.
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Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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