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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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História da
Literatura Europeia, uma nova e fundamental disciplina |
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I |
Distinguir História da
Literatura de História Literária é tarefa das mais difíceis porque, muitas
vezes, ambos os termos podem parecer sinônimos, mas esse é um ledo engano
em que muitos historiadores costumam escorregar. Assim, História da
Literatura seria a sequência de narrativas, autores, estilos literários e
teorizadores de poéticas literárias, enquanto História Literária
constituiria a disciplina que estuda a Literatura de um ponto de vista
histórico. Ou ainda a compreensão da Literatura através dos seus contextos
(políticos, econômicos, culturais).
Feitas estas distinções, Maria Luísa Malato,
professora de Metodologia dos Estudos Literários e de Retórica Geral da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mestre e doutora em
Literatura Comparada, partiu para compor História da Literatura Europeia:
uma introdução aos Estudos Literários (Lisboa, Quid Júris, 2008), que
desde o seu lançamento há sete anos tem constituído livro de referência na
área e presença obrigatória na bibliografia dos cursos de Metodologia dos
Estudos Literários e de Retórica nas universidades portuguesas. Aliás,
alguma editora brasileira deveria celeremente também publicar esta obra
para que cumpra o mesmo caminho nas faculdades de Letras das universidades
brasileiras, especialmente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), pois seria um
complemento imprescindível ao que se lê em Literatura Comparada(São Paulo,
Edusp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000), da professora Sandra
Nitrini. Até porque os países de língua espanhola e portuguesa tomaram
como modelo outras literaturas europeias, sobretudo a francesa, ainda que,
a partir de certo momento no século XX, a literatura norte-americana tenha
se tornado para os literatos desta parte do globo um novo polo de atração.
Seja como for, é impossível estudar as literaturas do Brasil e dos países
da América hispânica sem levar em conta as suas ligações com as diversas
literaturas do continente europeu.
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II |
Por que História da
Literatura Europeia? A própria autora se encarrega de explicar, lembrando,
porém, que saber o que é Literatura Europeia, quando nem sequer é clara a
fronteira política ou econômica da Europa, é missão por demais complexa.
Mesmo porque a Europa, “entremeada de sonhos imperiais (os de Roma, de
Alexandre, de Carlos Magno, de Bizâncio, dos Francos ou dos Godos, da Liga
dos Estados de Napoleão ou das anexações de Hitler), tem feito a sua
história à custa da fragmentação de nações e estados”. Ainda assim, Maria
Luísa Malato prevê que, a partir de algumas mudanças que devem se acentuar
na atual segunda década deste século XXI, o fortalecimento da União
Europeia terá de ser feito através do reforço da ideia cultural de Europa.
E que, a partir disso, o próprio poder político incentivará o que antes
parecia menosprezar, ou seja, a ideia segundo a qual existe uma Literatura
Europeia, pois esta, quando contextualizada pela Literatura Comparada,
torna-se uma forma mais complexa e rica de abordagens das próprias
literaturas nacionais. Até porque a Literatura Comparada incluiu-se na
história literária, não sendo, portanto, uma disciplina acadêmica
específica ou autônoma, mas uma forma de atuar no campo da pesquisa. Nesse
sentido, diz a autora, não só o curso de Letras mas também os cursos de
Ciências da Informação, Ciências Documentais e de Jornalismo só terão a
ganhar com uma disciplina que faça seus alunos lerem “diacrônica e
sincronicamente não só as obras literárias que marcaram a cultura
ocidental, mas os textos que os impregnam de uma visão mais alargada da
cultura em que se moverão no futuro”.
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III |
Para escrever este livro,
Maria Luísa Malato tomou como modelo Jorge Luís Borges (1899-1986) e
seu Curso de Literatura Inglesa, as “Notes de Cours” (notas de curso), de
Roland Barthes (1915-1980), no Collège de France, entre 1977 e 1980,
e Porquê ler os clássicos? (Lisboa, Teorema, 1994), de Ítalo Calvino
(1923-1985), obra que oferece uma breve história da literatura em 35
ensaios sobre 35 autores europeus, de Homero (séculos VIII e IX a.C.) a
Cesare Pavese (1908-1950), classificados pelo autor como “clássicos”. Os
apontamentos (notas de curso) de Barthes podem ser encontrados em Como
viver junto (2003), O Neutro (2003) e A preparação do romance (2005),
todos publicados pela Editora Martins Fontes, de São Paulo, em tradução de
Leyla Perrone-Moisés. Como diz Maria Luísa Malato, se neste livro não se
encontram os cem escritores “que você precisa ler” nem são enumeradas as
“mil obras que (você) deve ler antes de morrer”, o leitor vai descobrir um
roteiro seguro dos autores que deve ler para ter uma ideia do que é a
Literatura Europeia, uma história , aliás, sempre inacabada porque em
construção.
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IV |
Maria Luísa Malato é
professora desde 1988 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com
área de investigação em Literatura Comparada, nomeadamente nos séculos
XVIII e XIX (teatro, narrativas utópicas), Retórica Literária, Retórica da
Sensibilidade e Crítica Textual. Além de artigos dispersos em obras
coletivas, é autora também dos seguintes livros: Le XVIIIe Siècle, une
Epoque d’Ombres et Lumières(Mons/Bélgica,
2009); Manual Anti-Tiranos (Porto Alegre, 2009); “Por acazo hum
viajante…”. A vida e obra de Catarina de Lencastre, 1.ª Viscondessa de
Balsemão (Lisboa, 2008); José Daniel Rodrigues da Costa: O Balão aos
Habitantes da Lua. Uma Utopia Portuguesa(Porto, 2006); Manuel de
Figueiredo, uma perspectiva do neoclassicismo português (Lisboa, Imprensa
Nacional-Casada Moeda, 1996); e Camus (Porto, Rés Editora, 1984). É autora
com Paulo Ferreira da Cunha de Manual de Retórica & Direito (Lisboa,
Editora Quid Júris, 2007) e responsável pela introdução e edição crítica
das Obras Completas de José Anastácio da Cunha (Lisboa, Campo das Letras,
2 vols., 2001-2006). Colaborou na História e Antologia da Literatura
Portuguesa. Século XVIII, volume IV (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,
2013); na Biblos: Enciclopédia das Literaturas de Língua
Portuguesa (Lisboa, Verbo, 1995-2005), na História da Literatura
Portuguesa (Lisboa, Publicações Alfa, 2002), e na História de la
Literatura Portuguesa (Madri, Cátedra, 2000). Foi editora também
de Leituras de Bocage (Porto, Núcleo de Estudos Literários da Universidade
do Porto, 2006), que reúne os textos apresentados durante o Colóquio sobre
os 200 anos da morte do poeta (1805-2005). Figura no International
Directory of Eighteenth-Century Studies/Répertoire International des
dix-huitièmistes.
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História da
Literatura Europeia - uma introdução aos Estudos Literários, de Maria
Luísa Malato. Lisboa: Editora Quid Júris. Coleção Erasmus – Manuais
Universitários, 318 págs., 2008, 21,20 euros. E-mail: geral@quidjuris.pt.
Site: www.quidjuris.pt
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Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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