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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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Uma carreira dedicada às
palavras* Entrevista por Raphael Matos
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Publicado no Primeira Impressão,
jornal-laboratório da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade
Santa Cecília (Unisanta), de Santos-SP, nº154,
maio/junho 2015, pág.39.
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Com um novo romance a
caminho, o jornalista e escritor Adelto Gonçalves encerra a carreira como
professor |
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O jornalista e escritor
Adelto Gonçalves traçou uma carreira exemplar. Atuou no campo acadêmico
como professor universitário nos cursos de Jornalismo, Publicidade e
Propaganda e Direito e, como jornalista, teve passagens pelos jornais
Cidade Santos e A Tribuna, na editoria de esportes de ambos
e no Estado de S. Paulo, onde foi subeditor de política.
Por meio do jornalismo, conheceu mais de 30 países e
foi correspondente internacional da revista Época em Lisboa, onde
escreveu uma série de reportagens sobre as comemorações dos 500 anos do
descobrimento do Brasil. Como escritor, recebeu menção honrosa com o livro
Os vira-latas da madrugada, em 1980. No ano seguinte, a editora
José Olympio publicou o livro, que teve bastante repercussão na imprensa.
Na época, a Folha de S.Paulo publicou resenha
do professor Cláudio Lembo, que viria a ser governador
do Estado anos mais tarde. A obra se destaca, pois é uma das poucas que,
dentro do gênero de ficção, têm o golpe militar de 1964 como pano de
fundo.
Após 34 anos, o livro ganhou uma segunda edição
pela Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP, com capa e
ilustrações do artista plástico Ênio Squeff. O livro traz um acréscimo, o
prefácio escrito pelo jornalista Marcos Faerman, que chegou a ser impresso
na primeira edição, mas que foi arrancado página a página por pressões de
“forças ocultas”, já que, à época, a editora estava sob intervenção, conta
o jornalista. Abaixo, a íntegra da entrevista.
Primeira Impressão -
Como o jornalismo influenciou na preparação dos seus livros?
Adelto Gonçalves – O jornalismo me
ajudou a depurar o texto. Quando fiz mestrado em Letras na USP em 1988, já
era jornalista bastante experiente, com livros publicados. À época,
procurei o professor Mario Miguel González, da USP, e deixei com ele um
portfólio de resenhas de livros de autores hispanoamericanos que já havia
publicado. E ele me disse que não precisava de mais nada para começar o
curso de mestrado.
PI - Você recebeu diversos
prêmios por seu trabalho como escritor. Existe algum que deixou uma
recordação especial?
AG – A menção honrosa que ganhei do
Prêmio de Romance José Lins do Rego, da Livraria José Olympio Editora, do
Rio de Janeiro, em 1980, com o livro Os vira-latas da madrugada.
Eu nunca mais havia relido o livro, o que fiz só agora para acompanhar a
revisão para a segunda edição. Fui tentado a reescrever algumas passagens,
corrigir alguns pequenos erros de gramática ou mesmo retirar algumas
expressões em nome do ideal do politicamente correto de hoje, mas, por
fim, optei por deixá-lo praticamente como apareceu em 1981, mantendo o tom
coloquial e "espontâneo" da narrativa, que mais se aproxima da
naturalidade das personagens do beira-cais.
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PI - Qual sua inspiração
para escrever?
AG
– Como intelectual, tenho duas facetas: como ficcionista, estreei
com o livro de contos
Mariela Morta, em 1977, em edição de autor. Além de
Os vira-latas da madrugada, publiquei o romance
Barcelona Brasileira,
que saiu primeiro em Portugal pela editora Nova Arrancada, em
1999, e depois, em 2002, pela Publisher Brasil, de São Paulo.
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O livro saiu
primeiro em Portugal porque, em 1997, quando publiquei
Fernando Pessoa: a voz de Deus,
livro de artigos e ensaios, pela Editora da Unisanta, o ex-embaixador do
Brasil em Portugal, José Aparecido de Oliveira, enviou um exemplar para
Dário Moreira de Castro Alves, outro ex-embaixador brasileiro em Lisboa,
que, à época, estava escrevendo um prefácio para um livro sobre Fernando
Pessoa para a editora Nova Arrancada e citou o meu livro nesse texto.
Então, a Nova Arrancada se interessou pelo meu trabalho sobre Pessoa,
mas acabou optando por publicar o romance
Barcelona brasileira, depois
que informei que era um trabalho inédito. Como pesquisador, tenho ainda
um trabalho inédito, O Reino, a
Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo
(1788-1797), que desenvolvi em 2013-2014 com bolsa de pesquisa da
Universidade Paulista (Unip).
PI - Como foi sua primeira
experiência no jornalismo?
AG – Comecei como repórter de
esportes do jornal Cidade de
Santos, à época em que estava no segundo ano da Faculdade de
Comunicação da atual Unisantos. Fiquei três meses e passei para a seção
de esportes de A Tribuna, de
Santos, onde permaneci até me formar em Jornalismo em 1974. Em 1975, fui
para o Estado de S.Paulo e lá
cheguei a subeditor de Política.
PI - Você já foi correspondente da revista
Época em Lisboa. Teve alguma
dificuldade em se adaptar ao outro país? Sofreu algum preconceito por
ser brasileiro? O que isso trouxe de experiência?
AG – Nunca sofri nenhum
preconceito por ser brasileiro. Pelo contrário. Fui correspondente da
revista Época em Lisboa ao
tempo em que estava lá para pesquisar a vida e a obra de Bocage. Fiz
várias reportagens interessantes para a revista sobre as comemorações
dos 500 anos do descobrimento do Brasil, inclusive uma sobre a casa onde
morou e morreu Pedro Álvares Cabral em Santarém.
PI - Em sua opinião, quais as características de um
bom jornalista?
AG – Em primeiro lugar,
um bom jornalista brasileiro deve dominar a Língua Portuguesa, seu
instrumento de trabalho. Com o tempo, vai aprender a investigar e a
produzir boas reportagens. Infelizmente, o que se vê hoje imprensa
brasileira são matérias mal escritas. Além de acabar com a seção de
revisão, os jornais, para cortar despesas, dispensaram os redatores mais
experientes. O ideal é manter uma redação mesclada de jovens e
jornalistas mais experientes.
PI - O que mais lhe satisfez na carreira de
jornalista?
AG
– Foi a oportunidade de conhecer mais de 30 países. Hoje, sou assessor
cultural e de imprensa do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal
Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, depois de visita que fiz àquela
instituição em 2011. Por indicação do ex-embaixador Dário Moreira de
Castro Alves, escrevi os prefácios de dois livros de contos de Machado
de Assis que foram publicados pelo Centro em edição russo-portuguesa em
2006 e 2007. Os estudantes russos de Português do Centro gostaram tanto
de minha visita que eu e minha esposa fomos recepcionados com
bandeirinhas brasileiras na estação ferroviária de São Petersburgo, um
momento inesquecível. Participei também do livro
Studi su Fernando Pessoa,
publicado em 2010 na Itália. O livro reúne os maiores especialistas do
mundo em Fernando Pessoa (1888-1935) na visão de seu editor, o professor
Brunello De Cusatis, da Universidade de Perugia. Continuo a escrever
resenhas de livros. Sou colaborador desde 1994 da
Revista Vértice, de Lisboa, e
escrevo com frequência para o quinzenário
As Artes Entre as Letras, do
Porto, e para o Jornal Opção,
de Goiânia. Escrevo ainda para sites do Brasil e de Portugal e para uma
revista digital de Moçambique, a
Literatas. Já escrevi prefácios para livros de três autores
moçambicanos.
PI - Dentre os livros que você
escreveu, qual é o seu favorito?
AG – Penso que o
romance Barcelona Brasileira
foi o livro que me deixou mais satisfeito. É um romance que trata do
anarquismo no porto de Santos na década de1910-1920. E vai até a
fundação do Partido Comunista do Brasil em 1922.
PI - Quais são seus próximos projetos?
AG
– Em 2014, encerrei minha carreira como professor universitário. Agora,
moro numa pequena cidade do interior de São Paulo, mas continuo a atuar
como assessor de imprensa na área empresarial. Com a tranquilidade da
vida numa cidade do interior, penso em aproveitar o tempo para concluir
um romance que já tem título:
Memorial Republicano. Aborda um caso de corrupção nos primeiros
tempos da República no Rio de Janeiro. O romance já anda por volta de 60
páginas, mas ficou parado por falta de tempo.
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Os Vira-Latas da Madrugada,
de Adelto Gonçalves Prefácio
de Marcos Faerman e posfácio de Maria Angélica Guimarães Lopes,
ilustrações e capa de Enio Squeff.. Taubaté-SP: Associação Cultural
LetraSelvagem, 216 págs., 2015, R$
35,00. E-mail: letraselvagem@letraselvagem.com.br
Site: www.letraselvagem.com.br
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Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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