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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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Autores
gaúchos divulgados na Itália
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I |
Maior divulgador da literatura de
expressão portuguesa na Itália, o professor Brunello Natale De Cusatis,
titular da cadeira de Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira da
Universidade de Perugia, esteve no Brasil ao final de 2014 para
divulgar os últimos lançamentos da coleção
Letteratura Luso-Afro-Brasiliana
da Morlacchi Editore, de Perugia, e algumas reedições de obras de autores
brasileiros, todas traduzidas e editadas por ele.
Além de dar conferências e cursos na
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de
Assis, De Cusatis participou da Feira do Livro de
Porto Alegre, promovendo o lançamento dos livros
Nel Dolore Sconfinato (Nos Gerais da
Dor), de Maria Carpi (1939), e
Racconti, antologia bilíngue (Contos
Completos), de Sergio Faraco (1940), e da terceira edição da novela
policial Il caso del martello (O caso
do martelo), de José Clemente Pozenato (1938), autores gaúchos
descendentes de italianos.
É de notar que a primeira edição
italiana de Il caso del martello
é de 2008, o que mostra o interesse do leitor
italiano pelo Sul do Brasil, onde se concentra a maior população de
oriundi fora da Itália. Hoje, no Brasil, existem cerca de 25 milhões
de descendentes de imigrantes italianos, metade dos quais se concentra no
Estado de São Paulo e os demais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná.
Responsável por diversas traduções
para o italiano, como, por exemplo, obras do poeta Fernando Pessoa
(1888-1935) e da biografia La vita
plurale di Fernando Pessoa (Milão, Edizioni Bietti, 2014), do espanhol
Ángel Crespo (1926-1995), De Cusatis começou a se interessar pela
divulgação da literatura do Sul do Brasil na Itália há cerca de 20 anos,
quando conheceu o escritor gaúcho Armindo Trevisan (1933). Começou, então,
uma amizade que o levou a traduzir
Versi puri e impuri, antologia poetica (Versos puros e impuros, antologia
poética), de Armindo Trevisan, próximo lançamento da coleção
Lettetatura Luso-Afro-Brasiliane
de Morlacchi Editore, de Perugia, em nova edição ampliada.
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II |
Maria Carpi, nascida em Guaporé-RS,
filha de um italiano da Reggio Emilia, formou-se em Direito em 1962 pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Exerceu a profissão de advogada
do Estado na Defensoria Pública, além de atuar como professora na
Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Porto
Alegre. Atuou também como membro do Conselho Estadual dos Direitos da
Criança e do Adolescente. Atualmente, é membro efetivo da Comissão de Paz
e Justiça, repartição regional da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).
Revelou-se como poetisa já na idade
madura, aos 50 anos, quando publicou
Nos Gerais da Dor, em 1990, pela Editora Movimento, de Porto Alegre,
que lhe valeu o Prêmio Revelação da Poesia/1990da Associação Paulista dos
Críticos de Arte (APCA). Entre outros livros, é autora do originalíssimo
Abraão e a Encarnação do Verbo
(Porto Alegre, AGE Editora), 2009), interpretação poética de uma passagem
bíblica. Seu último livro é O Senhor das Matemáticas (Porto Alegre, AGE Editora, 2012), livro de
prosa poética. De 2011, é A Chama
Azul (Porto Alegre, AGE Editora), traduzido na França como título La Flamme
Bleu (Paris, Lês Arêtes Editions, 2013).
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III |
Sergio Faraco nasceu em Alegrete-RS,
mas vive em Porto Alegre desde
1971. Na juventude, de
1963 a
1965, viveu em Moscou, onde frequentou o Instituto Internacional de
Ciências Sociais. Em 1964, depois de expressar publicamente sua
contrariedade com as restrições de comportamento impostas pela direção do
Instituto, ficou internado três meses num hospital psiquiátrico. Narrou
essa experiência sob o regime comunista no livro
Lágrimas na chuva: uma aventura na
URSS (2002). Ao voltar ao Brasil, em razão de sua estada na União
Soviética, ficou preso por um breve período, à época do regime militar de
direita (1964-1985). Formou-se em Direito em 1980 no Instituto Ritter dos
Reis de Canoas, cidade da região metropolitana de Porto Alegre.
Contos completos é de
1995 (Porto Alegre, L&PM), com reedição em 2004 e 2011. Cronista do jornal
Zero Hora, tem sete livros de
crônicas publicados. É também tradutor e ensaísta. É autor também dos
contos “Travessia” (2002), ‘A dama do Bar Nevada” (2005) e “Um aceno na
garoa” (2006), que foram levados à tela em produções regionais.
Tem mais de 20 livros publicados
entre os gêneros contos, crônicas e ensaios. Seu livro mais famoso é
A Dama do Bar Nevada
(Porto Alegre, L&PM, 1987), de contos. Seus contos foram publicados nos
seguintes países: Alemanha, Argentina, Bulgária, Chile, Colômbia, Cuba,
Estados Unidos, Paraguai, Portugal, Uruguai e Venezuela. É autor ainda do
ensaio Tiradentes a alguma verdade (ainda que tardia),
publicado pela
Civilização Brasileira, em 1980.
Organizou uma antologia de poemas de
autores brasileiros e portugueses que levou o título
Livro dos poemas, publicado em
2009. Sergio Faraco recebeu por três vezes o Prêmio Açorianos de
Literatura (1995, 1996 e 2001), principal premiação cultural do município
de Porto Alegre-RS. Em 1999, recebeu o Prêmio Nacional de Ficção da
Academia Brasileira de Letras. Em 2008, foi agraciado com a Medalha Cidade
de Porto Alegre.
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IV |
Filiado à tradição do romance negro,
O caso do martelo, de José Clemente Pozenato, conta as peripécias de
um delegado provinciano para chegar à autoria do assassinato de Nàne
Tamànca, solteirão de mais de 60 anos, que vivia sozinho num lugarejo
perto de Caxias. Quem matou Nàne Tamànca? – a resposta para essa questão
leva o comissário Hilário Pasúbio a duvidar de tudo e de todos, até chegar
a um final surpreendente, como em toda boa história policial que é capaz
de prender a atenção do leitor até a última linha.
Na novela, o autor até reproduz na
fala de seus personagens algumas expressões do dialeto vêneto, ao mesmo
tempo em que faz uma descrição inesquecível não só da paisagem gaúcha como
das pequenas comunidades em que se movimentam personagens ligadas à
colonização italiana no Rio Grande do Sul. De Cusatis diz que a linguagem
de Pozenato, embora simples, apresenta certo hibridismo, pelo dialeto
vêneto falado na colônia italiana do Rio Grande do Sul
José Clemente Pozenato nasceu em Santa Teresa-RS,
filho de um imigrante italiano, Girolamo, que fez questão de romper com o
seu passado. Sem nunca ter ouvido do pai um palavra do dialeto vêneto,
Pozenato viveu uma infância adaptada exclusivamente à realidade brasileira
e, aos 12 anos, mudou-se para Caxias do Sul, onde entrou num seminário. Só
mais tarde, já como professor de Literatura Brasileira da Universidade de
Caxias do Sul, aprofundou-se no estudo da cultura italiana..
Sua carreira literária começou em
1967 com a publicação de um livro de poesias,
Matrícula, que dividiu com Oscar
Bertholdo, Jayme Paviana e Ary Trentin. Em 1993, já grande conhecedor da
cultura de suas origens paternas, publicou outro livro de poemas,
Cantos rústicos / Cànti rùsteghi,
em português e em dialeto vêneto. Sua obra poética completa até 2000 foi
publicada em Mapa de viagem.
Foi em 1985 que publicou a novela
policial O caso do martelo, que teve uma adaptação para a televisão de muita
repercussão. O sucesso, porém, veio mesmo com o romance histórico
O quatrilho, publicado em 1985
e, mais tarde, transposto para o cinema pelo diretor Fábio Barreto. Em
1996, o filme concorreu ao Oscar como o melhor longa-metragem estrangeiro.
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V |
O professor Brunello destaca a
tradução que fez de quatro autores gaúchos, dois de prosa e dois de
poesia. O interessante é que os textos nos livros são em italiano,
acompanhados do original em português. Por
isso, destaca, “têm também função didática”. Assim, os que se interessam
particularmente por tradução têm a oportunidade de observar as
particularidades de cada idioma, na comparação entre os dois.
Além da coleção
Letteratura luso-afro-brasiliana,
que dirige desde 2007, De Cusatis cuida, desde 2010, de mais duas coleções: Pessoana e
Saggistica luso-afro-brasiliana
(Edizioni dell'Urogallo, Perúgia). Publicou ainda
Fernando Pessoa. Scritti di sociologia e teoria politica (Settimo
Sigillo, Roma, 1994); Fernando
Pessoa: Politica e profezia. Appunti e frammenti 1910-1935 (Antonio
Pellicani Editore, Roma 1996); O
Portugal de Seiscentos na «Viagem de Pádua a Lisboa» de Domenico Laffi.
(Editorial Presença, Lisboa 1998);
Fernando Pessoa, Alla memoria del Presidente-Re Sidónio Pais.
(Edizioni dell'Urogallo, Perugia 2010);
Fernando Pessoa. Economia &
commercio. Impresa, monopolio,
libertà. (Edizioni dell'Urogallo, Perugia 2011), entre outros.
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Nel Dolore
Sconfinato (Nos Gerais da Dor), de Maria
Carpi, a cura di Brunello Natale De
Cusatis. Perugia:Morlacchi Editore, 107 págs., 2014.
Racconti
antologia bilíngüe, de Sergio Faraco,
presentazione, selezione e
traduzione di Brunello Natale De Cusatis. Perugia: Morlacchi Editore,
160 págs., 2014.
Il caso del
martello (O caso do martelo), de José
Clemente Pozenato, presentazione,
selezione e traduzione di Brunello Natale De Cusatis. Perugia: Morlacchi
Editore, terceira edição, 2014.
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Adelto
Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os Vira-latas da Madrugada
(Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um
Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo,
Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia
Brasileira de Letras; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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