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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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Claudio Sesín:
o poeta dos ocasos catamarquenhos |
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EL SIGNO DEL CREPÚSCULO,
de Claudio Sesín. Buenos Aires: Editorial Dunken, 80 págs., 2006. E-mail:
info@dunken.com.ar Site:
www.dunken.com.ar |
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I |
Quem
estuda as letras hispano-americanas nas universidades brasileiras,
dificilmente, entra em contato com a literatura contemporânea dos países
vizinhos. É o que se dá com a literatura argentina, da qual se conhece
Jorge Luis Borges (1899-1986), Adolfo Bioy Casares (1914-1999), Julio
Cortázar (1914-1984), Roberto Arlt (1900-1942), Horacio Quiroga
(1879-1937), Oliverio Girondo (1891-1967), Juan José Saer (1937-2005),
Alfonsina Storni (1892-1938), Juan Guelman (1930), Rodolfo Alonso (1934) e
outros, mas quase nada da geração mais recente.
E não se diga que seja uma geração
muito jovem porque a maioria já passou dos cinqüenta anos de idade.
Não se
pode jogar a culpa sobre os professores. Se hoje este articulista conhece
uma boa parte de autores argentinos só tem a agradecer ao seu orientador
no mestrado, o professor Mario Miguel González (1938-2013), nascido em
Alta Gracia, Córdoba, que sempre se preocupou em falar dos poetas que
apareciam na Argentina, ainda que estivesse radicado no Brasil desde que
fora contratado pela Universidade de São Paulo (USP) em 1968 e fosse
brasileiro naturalizado. Com o desaparecimento de González em fevereiro
último, perderam a literatura argentina e a hispano-americana talvez o seu
maior divulgador no Brasil.
Esse
desconhecimento pode ser atribuído à devastação cultural promovida pelas
ditaduras militares de direita que infelicitaram tanto Brasil como
Argentina e à crise econômica que levou ao fechamento de vários
suplementos e revistas culturais tanto lá como aqui, resultado talvez do
empobrecimento intelectual das classes médias. Na segunda metade da década
de 1970, o Versus, de São Paulo,
jornal-tablóide cultural criado pelo jornalista Marcos Faerman
(1943-1999), era uma espécie de filhote da revista de crítica cultural
Crisis, que circulou em Buenos
Aires de 1973 a 1976 e teve em sua direção, primeiro, Ernesto Sábato
(1911-2011) e, depois, o uruguaio Eduardo Galeano (1940), que, em 1976,
acossado pelo regime do general Jorge Rafael Videla, transferiu-se para
Barcelona e de lá enviava colaborações para o
Versus.
Àquela
época, diga-se de passagem, havia na Argentina, ao contrário do Brasil,
pelo menos alguns empresários que tinham preocupações culturais e
praticavam o mecenato. Era o caso do empresário, advogado e
engenheiro-agrônomo Federico Vogelius (1920-1986), que fundou a
Crisis à época do retorno do
peronismo ao poder e a manteve até que a ditadura militar o atirou ao
cárcere por três anos, período em que passou por várias sessões de
tortura. Em 1986, Crisis
voltaria a circular, também por empenho de Vogelius, mas por poucos meses.
Já as despesas de Versus saíam
das economias domésticas de Faerman e do seu salário como repórter do
Jornal da Tarde, de São Paulo.
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II |
Mas a que vêm estas reminiscências? Vêm a propósito de dizer que, tal como
no Brasil de hoje, há uma poesia em grande efervescência na Argentina e
que, da mesma forma, é pouco conhecida porque, decididamente, houve em
ambos os países um empobrecimento cultural avassalador. Entre os nomes que
constituem a nova poesia argentina, pode-se citar Claudio Sesín, Eduardo
Dalter, Arturo Herrera, José Emílio Talarico, Sofía Vivo, Alejandro
Acosta, Mirta Popesciel, Daniel Chirom, Ricardo Ruiz, Elizabeth Molner,
Gisele Rodríguez e outros.
Um poeta
que constitui um exemplo dessa nova poesia argentina é Claudio Sesín
(1959), praticante de “uma poética renovadora, que retoma o projeto
lírico, sem abandonar o compromisso com a crítica social”, na definição do
poeta e crítico Ronaldo Cagiano, um dos poucos que têm tido a preocupação
de reconstruir as pontes culturais com a Argentina e outros países
latino-americanos.
Poeta de
Catamarca, região noroeste da Argentina, vizinha a Oeste do Chile, de
paisagens montanhosas e crepúsculos deslumbrantes, cuja capital San
Fernando del Valle de Catamarca fica a mais de mil quilômetros de Buenos
Aires, Sesín sempre foi um poeta cercado pelos cumes nevados da
cordilheira e isolado em sua província. Como se tivesse optado por viver
um desterro permanente e que, por isso, reluta em largá-lo. Até mesmo
quando sai de sua terra, a viagem é parte do seu exílio. É o que diz no
poema “El árbol” que faz parte de seu livro
El Signo del Crepúsculo (Buenos
Aires, Editorial Dunken, 2006):
Cuando uno se dirige a la frontera,
el viaje
es una parte del exilio. (....)
(....)
Sentir y hasta querer este destierro.
El
hombre se acostumbra a la tristeza.
Um árbol
infinito con ramas de tinieblas
ensombrece la ausencia, la apacienta.
Donde
voy a llorar, entre qué brazos?
Siempre
es llorar por uno,
este
viajar en sombras por la niebla.
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III |
Como observa o poeta Arturo Herrera no prólogo que
escreveu para este livro, a poesia de Sesín é exatamente oposta à retórica
e contorções lingüísticas que se vê em demasia na poesia pós-moderna. Para
ele, este livro deveria ter como título
Libro de la Permanencia ou apenas
Permanencia porque “a maioria das composições sustenta este conceito
como uma solitária pedra na palma da mão aberta e ao seu redor se modulam
as distintas sensações do tempo”. O título do livro, no entanto, provém do
poema “El signo del crepúsculo” que fecha a obra e que, em sua estrofe
final, diz:
(...) Hoy me dejo llevar a la extensión del tiempo
y voy,
un peregrino de mi suerte,
buscando
qué lugar, qué detalle en penumbras
en quién
sabe qué imagen, qué piel o qué tristeza,
esta
felicidad por los ocasos.
De fato,
a passagem do tempo parece fascinar o poeta e constitui palavra-chave de
El Signo del Crepúsculo, ao lado do sentimento de perda que
acompanha o homem quando encara o ocaso de sua vida e a inutilidade de
acumular tesouros na terra, como se pode ler também no poema “Los
comediantes”:
(...) A veces creo que el tiempo que nos lleva
es un
viejo gitano en sus caprichos,
que nos
compra y nos vende con sus dichos,
y tan
sólo nos deja en nuestras manos,
un sueño
sin edad de algún verano
y el
volver a vibrar del precipicio. (...)
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IV |
Claudio Sesín nasceu em Villa Dolores, Valle Viejo,
mas passou toda a sua infância em Pomán, província de Catamarca. Foi em
1983 que começou a publicar seus escritos em jornais de Catamarca,
especialmente poesia, prosa poética e relatos breves. Desde 1986, integra
o Movimento de Escritores pela Liberação (MEL), de Córdoba, e em 1987
passou a fazer parte da redação do periódico cultural
El Cronopio, daquela instituição. De 1996 a 1997, colaborou com as
revistas Cain e
Gaia, de Catamarca, e Cultura
Abierta, de Buenos Aires.
Em 1993,
publicou o seu primeiro livro de poesia,
La Barbarie, edição de autor. Em
1997, publicou o seu segundo livro,
El Círculo de Fuego, também edição de autor. Em 2008, lançou
El Libro de los Poemas Casuales/O
Livro dos Poemas Casuais (Buenos Aires: Editorial Dunken) em edição
bilíngüe com traduções para o português por Anderson Braga Horta e Antonio
Miranda.
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Adelto
Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São
Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova
Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o
Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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