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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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Adelto Gonçalves |
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Mendoza e uma esquecida
fórmula cervantina |
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O MISTÉRIO DA
CRIPTA AMALDIÇOADA,
de Eduardo Mendoza, tradução de Luis Reyes Gil. São Paulo: Planeta
Literário, 192 págs., R$ 29,90.
Site: www.editoraplaneta.com.br E-mail: vendas@editoraplaneta.com.br |
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Em 1975, três meses
antes da morte do generalíssimo Franco, a Espanha, entre satisfeita e
perplexa, descobria um romance que, por sua originalidade, contrastava
com tudo o que se escrevia no país àquela época. Chamava-se La verdad
sobre el caso Savolta (Seix-Barral, Planeta Espanha). E seu autor,
Eduardo Mendoza, passava a ocupar um lugar no altar reservado às
promessas literárias. Era o momento em que a literatura espanhola, sem
medo de reconhecer a influência dos grandes escritores do boom
latino-americano, como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Mario
Vargas Llosa, reciclava-se e passava a apresentar um produto novo. |
Trinta e seis anos depois, Mendoza não é mais uma promessa, mas, sim, um autor
consagrado. No total, o autor já deu à luz 17 títulos, tendo vendido
cerca de um milhão e meio de exemplares. Só o recente A assombrosa
viagem de Pompônio Flato (Planeta, 2010), que o autor define como
uma “novela de humor” ou “de avión”, passou dos 500 mil exemplares na
Espanha. Como seus livros “vendem como churros” – para se repetir aqui
uma típica frase mendozina –, ele vive de direitos autorais há três
décadas, privilégio reservado a poucos. |
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Hoje,
além de indiscutível ponto de referência na literatura espanhola,
Mendoza, mesmo a contragosto, é leitura obrigatória em programas
escolares. O mistério da cripta amaldiçoada e El laberinto de
las aceitunas
(Seix-Barral, Planeta Espanha) são renovadores na forma, embora resgatem
a tradição picaresca e até uma esquecida fórmula cervantina – a de
utilizar como paródia uma linguagem anterior à de sua época.
Além de
deixar evidente, a partir de seus próprios títulos, a influência do
gênero policial – mais especificamente, o romance negro norte-americano
–, seus livros resgatam não só a tradição do romance popular como a do
romance gótico, ficção romântica que dominou a literatura inglesa
durante o final do século XVIII e início do XIX, geralmente ambientada
em cenário lúgubre e desolado, no qual se desenrolam enredos de mistério
e terror. Nestas duas obras, é um detetive louco quem “escreve” os
livros não no momento em que ocorrem as aventuras, mas na hora em que
são contadas.
Para tanto,
Mendoza recupera um personagem bem espanhol, o pícaro, uma espécie de
Lazarillo de Tormes (1554), romance de autor anônimo. O pícaro de
Mendoza repete um truque de Miguel de Cervantes que, por sua vez,
colocou Dom Quixote a falar um idioma que já não era o de seu tempo, mas
um castelhano primitivo, reconstruído com erros e tonterías, o
que, hoje, por causa da distância, é difícil de perceber. Assim, o
detetive louco de Mendoza escreve um espanhol de paródia, pois procura
falar de uma maneira elegante e culta, mas que soa ridícula porque já
fora do seu tempo.
É esse tipo
de literatura descompromissada que faz Mendoza popular entre os jovens
leitores, além de ser talvez o maior romancista espanhol vivo. |
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Adelto
Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São
Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova
Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o
Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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