Robson Coelho Tinoco em Leitor real e teoria da recepção: travessias
contemporâneas (Vinhedo-SP, Editora Horizonte, 2010), num
primeiro momento, reúne estudiosos renomados na esfera da estética da
recepção e, em seguida, apresenta análises críticas de obras de Machado
de Assis, Aluísio Azevedo, Guimarães Rosa, Gustave Flaubert, Charles
Baudelaire e Murilo Mendes. E o faz com muito fôlego e criticidade ao
discutir obras literárias cujos enredos nem sempre saltam facilmente aos
olhos do leitor, como observa Ezequiel Theodoro da Silva na
apresentação.
Ao valer-se das idéias de Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss
(1921-1997), integrantes da chamada Escola de Constança e expoentes da
teoria da recepção ou “estética da recepção”, a mais jovem e mais
importante manifestação da hermenêutica, oriunda da Alemanha, Tinoco
mostra como é possível estabelecer “estratégias textuais” a partir dos
“repertórios” das experiências de vida e cultura de cada leitor.
“Assim”, explica Tinoco, “é natural que nossas inferências iniciais,
acerca do que vai sendo lido, gerem um conjunto de referências para a
interpretação e compreensão do que vem a seguir, que bem pode
demonstrar, como incorretos, as inferências e entendimentos originais”.
À luz da estética da recepção, Tinoco faz, por exemplo, uma
excepcional análise do conto “O Espelho”, de Machado de Assis, no ensaio
“Leitura e recepção dos heterônimos (possíveis) em Machado de Assis: a
modernidade nos personagens machadianos”, em que defende a idéia de que
existem “muitos Machados”, mortos-vivos e eternos, assumindo sua forma e
espaço nas ruas, nas alcovas, nas repartições, nos templos, nas festas,
nos manicômios.
Para Tinoco,
personagens como Quincas Borba, Brás Cubas e dom Casmurro podem ser
vistos como “heterônimos” de Machado de Assis, ou seja, personagens que
assumem todas as características, principalmente a idiossincrasias, de
seu criador. Mas, ao contrário de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro
de Campos, famosas criações de Fernando Pessoa, os “heterônimos” de
Machado de Assis “tiveram vida dependente um do ouro, com a
particularidade de representar, cada um deles, um outro olhar para
lugares diferentes de onde os outros olhavam”. É o que diz Tinoco, ao
oferecer ao leitor visões interpretativas que abrem novas perspectivas
de leitura para grandes obras. |
Sobre
o autor:
Robson Coelho Tinoco, nascido em Guaratinguetá-SP, em 1960,
é mestre em Língua Portuguesa (PUC-SP) e doutor em Literatura Brasileira
pela Universidade de Brasília (UnB), onde é professor desde 1996 no
Departamento de Teoria Literária. Em 2007, publicou Murilo Mendes:
poesia de liberdade em pânico (Editora da UnB). Em 2009, iniciou seu
pós-doutoramento em Língua Portuguesa, pesquisando práticas e
metodologias de leitura literária no ensino médio de São Paulo e do
Distrito Federal.
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Adelto
Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São
Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova
Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o
Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br |