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:::::::::::::::ADELTO GONÇALVES::::::::::::::
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Cinco séculos de poesia brasileira |
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ANTOLOGIA DA POESIA BARROCA
BRASILEIRA, 157 págs., 2007, R$ 18; ANTOLOGIA DA POESIA ÁRCADE
BRASILEIRA, 126 págs., 2007, R$ 18; ANTOLOGIA DA POESIA ROMÂNTICA
BRASILEIRA, 286 págs., 2007, R$ 22; ANTOLOGIA DA POESIA PARNASIANA
BRASILEIRA, 227 págs., 2007, R$ 22; ANTOLOGIA DA POESIA SIMBOLISTA E
DECADENTE BRASILEIRA, 223 págs., 2008, R$ 22. Apresentação de Paulo
Franchetti. São Paulo: Companhia Editora Nacional/Lazuli Editora. Site:
www.editoranacional.com.br
E-mail: editoras@ibep-nacional.com.br |
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I |
Os professores de Literatura Brasileira tanto do ensino médio como do
ensino universitário já não precisam se preocupar tanto para elaborar
seus planos de ensino nem consultar uma grande quantidade de livros nem
sempre disponíveis nas bibliotecas de escolas ou mesmo de universidades
públicas ou privadas. Foi pensando nisso que a Companhia Editora
Nacional e a Lazuli Editora decidiram editar uma série de cinco livros
sobre a poesia brasileira desde a formação do País até o começo do
século XX, entregando a tarefa a uma equipe de jovens críticos e
professores já com experiência em sala de aula, todos ligados à
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O resultado é uma edição que merece toda a confiança do leitor e que
permite “pensar a história da poesia no Brasil e suas principais linhas
de força, ao longo de cinco séculos”, como assinala na apresentação do
primeiro dos cinco volumes Paulo Franchetti, professor titular de Teoria
Literária na Unicamp, responsável também pela apresentação dos demais
livros.
O primeiro volume da série, Antologia da poesia barroca brasileira, traz
poemas de Gregório de Matos (1636-1696), Bento Teixeira (c.1561-1600),
Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) e Sebastião da Rocha Pita
(1660-1738), selecionados por Emerson Tin, doutorando em Literatura
Brasileira pela Unicamp, responsável também pelo prefácio, por notas
explicativas e de natureza literária, contextual e lexical e por uma
pequena notícia biográfica de cada autor que ajudam a tornar cada poema
mais legível ao leitor pouco versado na produção barroca
luso-brasileira.
Não é preciso dizer que na produção poética do período a primazia é de
Gregório de Matos, o que levou o organizador da antologia a selecionar
40 de seus poemas. Seu contemporâneo Botelho de Oliveira aparece com 20
poemas, enquanto Rocha Pita, consagrado autor da História da América
portuguesa, tem resgatada a sua um tanto esquecida produção na Academia
Brasílica dos Esquecidos. Quem, porém, abre a antologia é Bento
Teixeira, conhecido especialmente pelo poema épico “Prosopopéia”, que
tem como modelo “Os Lusíadas”, de Luís de Camões (1524?-1580). |
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II |
Com seleção e notas de Pablo Simpson, o segundo volume da série,
Antologia da poesia árcade brasileira, dedica os maiores espaços, como
não poderia deixar de ser, a Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) e Tomás
Antônio Gonzaga (1744-1810), mas também contempla parte da produção de
Santa Rita Durão (1822?-1784), Domingos Caldas Barbosa (1738-1800),
Basílio da Gama (1741-1795), Alvarenga Peixoto (1744-1793) e Silva
Alvarenga (1749-1814).
Reúne o que de melhor produziu a poesia árcade e, de certo modo, ajuda-a
a recuperar um lugar que nem sempre lhe foi reconhecido pela crítica,
especialmente a da primeira metade do século XX, que viu com prevenção a
estilização e o apego de seus poetas a cânones não só portugueses como
italianos, esquecendo-se de que, à época, o Brasil não existia como
nação organizada e, na verdade, éramos todos portugueses.
Como assinala Paulo Franchetti na apresentação, o Arcadismo, embora não
tenha recebido a fortuna crítica e a recepção entusiasmada com que o
Barroco tem sido contemplado nos últimos anos, já pode ser visto de modo
mais favorável. Além disso, o próprio movimento de constituição de
agremiações intelectuais, as famosas academias, diz o professor, “parece
mais simpático, quando se considera que o uso dos pseudônimos e a
valorização do talento como único requisito para admissão dos membros
encenavam, na sociedade estratificada do século XVIII, o ideal de uma
aristocracia de espírito e não de sangue”.
Para isso, muito contribuíram os recentes estudos de Jorge Ruedas de la
Serna, Vania Pinheiro Chaves, Ivan Teixeira, Alcir Pécora, Melânia Silva
de Aguiar, Sérgio Alcides, Ronald Polito, Joaci Pereira Furtado, José
Ramos Tinhorão, Luís André Nepomuceno e, se permitem a pouca modéstia, a
biografia de Tomás Antônio Gonzaga que este articulista escreveu. |
III |
Já Antologia da poesia romântica brasileira, com seleção e notas de
Pablo Simpson, Pedro Marques e Cristiane Escolastico Siniscalchi, é um
volume mais encorpado, em razão mesmo da necessidade de abranger maior
número de autores. O período, a rigor, vai de 1836, quando o poeta
Gonçalves de Magalhães (1811-1882) publicou um ensaio na revista Niterói,
editada em Paris, lançando as idéias de um programa para a edificação de
uma literatura genuinamente brasileira, sob a influência da natureza
americana, até meados da segunda metade do século XIX. E configura a
presença do Romantismo em terras brasileiras.
Além do citado Gonçalves de Magalhães, o volume abrange autores díspares
como Sousândrade (1832-1902), autor de “O Guesa Errante“, poema
redescoberto pelos concretistas Augusto e Haroldo de Campos (1929-2003)
a partir da década de 60 do século passado, e Gonçalves Dias
(1823-1864), autor da antológica “Canção do exílio” e de alguns dos mais
importantes poemas da lírica indianista brasileira.
Reúne ainda Luís Gama (1830-1882), com suas sátiras aos comportamentos,
tipos e situações de sua época, Bernardo Guimarães (1825-1884), com sua
poesia erótica e, às vezes, até pornográfica, Álvares de Azevedo
(1831-1952), com sua fina e sepulcral poesia, Laurindo Rabelo
(1826-1864), com sua poesia satírica e fescenina, Casimiro de Abreu
(1839-1860), com sua lírica de tons suaves, Castro Alves (1847-1871),
com seus versos grandiloqüentes em favor dos escravos, Fagundes Varela
(1841-1875), com seus poemas religiosos uns, amorosos outros, de
inspiração regional ou sertaneja, Juvenal Galeno (1836-1931), com seus
versos francamente populares, e Junqueira Freire (1832-1855), com seus
poemas de monge atormentado. |
IV |
Com seleção e notas de Pedro Marques, Antologia da poesia parnasiana
brasileira apresenta poemas de 14 poetas, entre consagrados e outros
menos conhecidos do grande público, mas não menos representativos do
parnasianismo. Entre os consagrados, estão Olavo Bilac (1865-1918) e
Machado de Assis (1839-1908), cuja produção como poeta acabou abafada
pelo êxito de seus romances da última fase. Entre os menos afamados,
estão Luís Delfino (1834-1910), B.Lopes (1859-1916) e Francisca Júlia
(1870-1920), única mulher entre os poetas reunidos.
Lembra Franchetti na apresentação que o parnasianismo, em seu grande
momento, ocupou lugar proeminente em jornais, revistas, conferências
públicas e saraus burgueses, atraindo grande público para a poesia, o
que, aliás, nunca haveria de se repetir, guardadas as devidas proporções
no tempo. É de ressaltar ainda que, desde os primeiros tempos do Brasil
independente, a literatura esteve comprometida com as questões vitais da
nação, tendo assumido a bandeira da causa abolicionista.
Encerrada a questão da abolição da escravatura -- embora a situação dos
ex-escravos nunca tenha efetivamente preocupado o governo e as classes
dirigentes --, e estabelecida a República, desapareceram os grandes
temas épicos. Assim, a poesia refluiu a um exclusivo cultivo artístico,
calcado em movimentos europeus posteriores ao Romantismo.
Embora fique clara a influência do movimento francês, os parnasianos
brasileiros procuraram um caminho próprio, o que explica o fato de terem
caído no gosto da população ou pelo menos daquele público letrado que se
interessava pelas coisas do espírito. Com certeza, tal foi a importância
do lugar que essa geração ocupou na sociedade de seu tempo que a ela se
deve a criação da Academia Brasileira de Letras, como lembra Pedro
Marques na sua introdução.
Se muitas vezes os modernistas atacaram sem medidas o parnasianismo,
isso se deu por conta da necessidade que tinham de oferecer alternativas
para o que consideravam fórmulas gastas dos parnasianos. Mas nunca
deixaram de reconhecer a importância histórica do movimento. |
V |
Com seleção e notas da professora Francine Ricieri, doutora em Teoria
e História Literária na área de Literatura Brasileira pela Unicamp,
Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira reúne nove poetas
de um movimento que, ao não alcançar a repercussão do parnasianismo,
agrupa nomes ainda pouco conhecidos do público. Diz a organizadora em
aprofundado estudo introdutório à guisa de prefácio que esses poetas,
como jamais pretenderam servir à causa nacional, “foram usualmente
representados como alienados, desenraizados, fúteis, irracionalistas,
incompreensíveis, colonizados”.
Seja como for, como observa Franchetti na apresentação, a poesia
simbolista reserva muitas surpresas “e a leitura desta antologia por
certo ajudará a reverter a idéia de desinteresse que se colou à produção
simbolista”. Para que esta frase não fique aqui assim um tanto solta, é
de lembrar que Franchetti, autor de As aves que aqui gorjeiam -- a
poesia do Romantismo ao Simbolismo (Lisboa, Cotovia, 2005), navega por
estas águas com mão de mestre, como diria Massaud Moisés.
Missal e Broquéis, publicados no Rio de Janeiro em 1893, por Cruz e
Sousa (1861-1898), teriam sido a primeira manifestação em livro no
Brasil do Simbolismo ou Decadentismo. Por isso, além de peças de Cruz e
Sousa, que abrem o volume, a organizadora recolheu poemas de Alphonsus
de Guimaraens (1870-1921), B.Lopes (1859-1916), Eduardo Guimaraens
(1892-1928), Maranhão Sobrinho (1879-1915), Pedro Kilkerry (1885-1917),
Da Costa e Silva (1885-1950), Emiliano Perneta (1866-1921) e Alceu
Wamosy (1895-1923). É de notar que B.Lopes aparece aqui também porque
sua poesia tanto tem traços parnasianos como simbolistas.
Desses, o mais visível nos dias de hoje é Da Costa e Silva, em razão do
trabalho de resgate de sua poesia encetado por seu filho, o poeta
Alberto da Costa e Silva, ex-presidente da Academia Brasileira de
Letras, que tratou de republicar a produção do pai, embora Alphonsus de
Guimaraens e Emiliano Perneta também sejam frequëntemente lembrados em
estudos acadêmicos.
Outro bem conhecido seria Augusto dos Anjos (1884-1914), cuja poesia
apresenta recursos e temas relacionados à poesia simbolista, mas a
organizadora preferiu deixá-lo de fora da antologia, argumentando que
incluí-lo seria fornecer do poeta “uma visão que não condiz com a linha
peculiar e tão característica em que sua poesia se definiu”. Até porque
a produção de Augusto dos Anjos guarda igualmente traços parnasianos e
até mesmo pré-modernistas.
Por isso, seria aceitável que alguns especialistas viessem a questionar
a sua exclusão, mas a verdade é que o estudo introdutório de Francine
Ricieri é tão bem embasado e didático e suas extensas notas de leitura
tão esclarecedoras que essa se torna uma tarefa extremamente difícil e
ingrata. |
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Adelto Gonçalves, nascido em Santos,
Brasil, é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa e mestre em
Língua Espanhola e Literaturas Espanholas e Hispanoamericana pela
Universidade de São Paulo (USP). É autor de Bocage: o perfil perdido
(Lisboa, Caminho, 2003), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova
Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Fernando Pessoa: a
voz de Deus (Santos, Universidade Santa Cecília, 1997), Os vira-latas da
madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio, 1981) e Mariela morta (Ourinhos-SP,
Complemento, 1977). É colaborador da revista Vértice, de Lisboa, desde
1994. Escreve também no quinzenário As Artes Entre as Letras, do Porto,
e na Revista Forma Breve, da Universidade de Aveiro, No Brasil, escreve
na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras, no Jornal
Opção, de Goîânia, e na Revista Philologus, do Círculo Fluminense de
Estudos Filológicos e Lingüísticos. É membro da Academia Brasileira de
Filologia (Abrafil). É professor de Jornalismo na Universidade Santa
Cecília, de Santos, e no curso de Direito da Universidade Paulista (Unip),
campus Rangel, em Santos. Ganhou os prêmios Assis Chateaubriand, de
1987, e Aníbal Freire, de 1994, da Academia Brasileira de Letras, e Ivan
Lins de Ensaios, de 2000, da Academia Carioca de Letras e União
Brasileira de Escritores, do Rio de Janeiro.Escreveu prefácios para dois
livros de contos de Machado de Assis publicados em 2006 e 2007 pelo
Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de
São Petersburgo, Rússia, em edição bilíngüe russo-portuguesa. Jornalista
desde 1972, trabalhou em O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Editora
Abril e A Tribuna, de Santos. Foi correspondente em Lisboa da revista
Época em 1999-2000.
E-mail: adelto@unisanta.br |
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