a força das horas
as manhãs às vezes começam ao contrário, como se fossem noites atrasadas.
a cama é então um lugar de conforto e de martírio, confundidos no mesmo corpo,
na mesma penumbra.
há um desalinho no passado e no futuro.
e no presente as pernas cruzam-se sem se encontrarem.
os lençóis suam.
um peso cai das roupas estendidas,
dos dias anteriores,
da opacidade das janelas,
onde
não se roçam pombas,
nem abrem candeeiros.
apenas fragmentos se erguem acima do colchão
à procura.
mas o dia também por vezes limpa,
faz brilhar as roupas interiores,
o seu négligé,
à medida que vai crescendo.
algo vem para a frente.
há uma nitidez
mesmo por detrás das telas.
e as próprias sombras
são promessas, travejamentos
do que vem aí.
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