Vítor Oliveira Jorge

Electri-Cidade - Index

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finalmente

 

mar.

sem atrito.

música que se desenvolve

interminavelmente.

 

e em que cada fim

é sempre uma dobra,

um recomeço.

 

mãe. mão. macia.

carícia não apenas

de tudo o que rodeia

o ser;

 

mas sobretudo

carícia que vem de dentro do ser,

que o funde consigo mesmo.

 

pele que se estende

pelas dunas,

num abraço sempre desdobrado

noutro braço, noutro ventre,

noutro sulco

 

onde se deita algo

de muito fundo,

de muito essencial.

 

mar, de cujas bermas

se abre sempre outro mar, e

outro.

 

onde nunca se cansam

oa lampejos da exaltação,

a doçura desdobrada noutra

ainda maior, e inesperada,

e reconfortante

 

tacto

de todo o mundo como corpo

de todo o corpo como mundo

 

felicidade antes

da palavra, da sensação,

do sentimento.

 

acontecimento antes

da sua inscrição.

uma simples ondulação de areia,

e já é demais.

 

uma erva. uma forma de mamilo

saindo da cor. um estilhaçamento

dos órgãos no espaço,

planetas, estrelas, cometas,

santuário.

 

regresso. regresso a algo

há tanto, tanto tempo esquecido,

a algo antes da memória possível,

e impossível.

atravessamento sob o lintel

para um dentro que é fora, exposto,

 

exposto por excelência!

 

cosmos,

a palavra redobra-se sobre si mesma,

faz-se nódulo,

e este desvanece-se

 

na pureza total.

na explosão dos brilhos.

 

nas longas, infinitas

línguas esticadas,

com todas as suas papilas

flutuando como ervas

aquáticas.

 

mar!

mãe. mesa, tão macia,

cama que estende a sua colcha

e a estica nos quatro pontos

cardeais.

 

finalmente!

TriploV, 1.11.2008

Conjunto de 10 poemas para o livro
ELECTRI-CIDADE
(a publicar em 2009)

Vítor Oliveira Jorge. Nasceu em Lisboa em Janeiro de 1948.
Formou-se em História na Faculdade de Letras daquela cidade em 1972.
Desde Setembro de 1974 é docente da Faculdade de Letras do Porto, onde se doutorou em 1982.
Poeta, arquéologo, ensaísta, dirigente associativo, tem tido uma actividade diversificada.