Sentia-se o poeta hostilizado em sua própria casa, pela família, que lhe gritava (só por ele ler, ou estar a concluir poemas...):
- Inútil! Deixa de sonhar, inútil!
Até que uma vez, desesperado, saiu pela janela do seu nono andar, e nunca mais voltou ao lar paterno onde conviviam e atritos tinham três gerações.
- Foi morar com as andorinhas, sob o beiral do telhado — conjecturaram os poucos vizinhos imaginativos.
Semanas depois, contemplou-o a família, voando pelo céu azul, em altíssimos voos arqueados.
E julgaram ouvi-lo e reconhecê-lo, da varanda, apesar da distância, piando de júbilo na toalha arrendada e enrubescida do crepúsculo, dilatado até tarde pelos excessos das cores e das horas solares do verão.
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