a alguns amigos, hoje
Despontou um raio ténue
por entre os castelos brancos
de bruma e
embargou-o a suspeita
de ter sido todo o tempo de
incredulidade um desperdício inútil
de alegria
Desenrolava-se a tarde por meio de sonhos
de infância
anteriores ao apertar do medo
anteriores ao apertar da patologia da
tiranização
anteriores à luva de ferro
que haveria de interpor-se
entre a pele e o amor
raramente deposta
era uma tarde de mais um
25 de Abril mais de trinta anos
depois e havia então
certezas feitas de peitos claros
e mesmo assim se foram
desvanecendo fagocitadas
em jantares antropófagos e
caros
muito caros ao círculo de ferro
que instiga o carrossel do real
país que somos em pertinaz
recusa
infindável submissíssima negação
olhando o espelho
confundia-se a luva e a mão
facilmente a jaula
em vitrine de museu
e o exemplar humano atrelado
atento
ao mínimo detalhe
do horário da exposição
olhando o espelho
o exemplar humano atrelado
perguntará de si
onde ficou
no espaço translúcido
entre a roupa e a pele
adensar-se-á
implacável
a bruma
em castelos
até que desponte um raio ténue
e a suspeita
de ter sido todo o tempo
de incredulidade um desperdício
inútil
e será tarde
e urgente
a sede
da pele doente
se banhar líquida
em volúpia de alegria
onde a terra
em fogo
tiver secado o exalar
da bruma
e houver de nascer
do espelho
um exemplar humano novo
nu
em novo círculo de fogo
Teresa Tudela, 25 de Abril de 2007. |
Teresa Tudela nasceu na cidade do Porto. É mestre em Língua, Literatura e Cultura Inglesa, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade do Minho.
No seu percurso literário mais recente, a autora reúne em volume Sete Transmutações da Casa, Editora Ausência, Porto, 2002. Seguem-se participações em publicações colectivas e on-line; no âmbito de Coimbra Capital Portuguesa da Cultura, participa em O Fulgor da Língua e no poema colectivo O Estado do Mundo; tradução de poetas estrangeiros — Seminários da Casa de Mateus/Quetzal Editores; finalmente, em colectâneas e antologias temáticas, designadamente Na Liberdade, Antologia Poética, Garça Editores, Peso da Régua, 2004; OS OUTROS, Antologia de Poesia Portuguesa: anos 80 e depois, Editora Ausência, Porto, 2004; Algarve todo o mar, Colectânea, Adozinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira (sob a organização de), Dom Quixote, Lisboa, 2005; A Poesia serve-se fria!, antologia da II Bienal de Poesia de Silves, Silves,2005; participação em Júlio de Matos, Herbarium, Blueprints 1980, Dematos Designers, Porto, 2006; participação no número 0 da revista “Folium”, Penafiel, 2006.
Recebe o Prémio Litterarius para Poesia, Maio, 2006.
Ainda em 2006, publica T a Bernardim, na Campo das Letras, poesia acompanhada pelo dizer da autora, em CD oferecido com o livro.
No âmbito académico publica artigos em volumes e periódicos da especialidade e on-line, no domínio de Tecnologias Educativas, Women’s Studies e Cultura, nomeadamente, “Intertexts, Cytexts, a Body Online”, em Identity and Cultural Translation: Writing across the Borders of Englishness, Peter Lang AG, 2006. Publica Propostas de Leitura para Generation X — algumas Implicações da Escrita/Comunicação Mediatizada por Computador, Politema, Porto, 2005, que resulta do seu escrito de mestrado.
Participa com frequência em seminários, conferências, tertúlias e apresentações de livros. Recentemente, participou na Conferência Paisagem e Literatura, organizada pela Associação Portuguesa de Ecologia da Paisagem, no Jardim Botânico da Universidade do Porto, com a comunicação “Simbologia e Apropriação do Meio Natural”; participou em celebrações do Dia da Poesia (2005) em Foz Côa, Penamacor e S. João da Madeira; apresentou o livro Gestos Esquecidos de Fernando José Rodrigues, na FNAC Arrábida; o livro As Asas do Açor de Gabriela Funk, na Casa dos Açores no Porto; fez parte da Mesa Redonda que acompanhou a exposição O Caminho do Leve, de Ernesto Melo e Castro, na Fundação de Serralves; apresentou a comunicação “Entendimento, sabedoria e arte – o contributo poético”, na Conferência Internacional de homenagem a António Gedeão Novos Poemas para o Homem Novo, ISMAI, 2006.
Durante alguns anos, manteve-se ligada à formação de professores, a profissionalização em exercício, a tecnologias de informação e comunicação em exploração educativa, a concepção de software educacional e a projectos e aplicações multimédia, nomeadamente o programa GEOPORT, 1º prémio no VI Concurso Nacional de Software Educacional, DEPGEF, M. E., 1995. Foi sócia fundadora e presidente (1992, ss) da APCL (Associação Portuguesa de Computadores e Línguas). Dirigiu o Departamento Multimédia do Instituto para o Desenvolvimento Tecnológico (1998 – 2001) e dirigiu a Unidade de Cultura do Instituto Superior de Engenharia do Porto (2001 – 2006). Paralelamente, é sócia fundadora do Instituto Verney para o Conhecimento, co-responsável pelo Projecto Jardim de Sophia e autora do sítio Mulheres Portuguesas do Século XX, em linha desde 2000, em: http://www.mulheres-ps20.ipp.pt. |