À medida que a história da civilização avança, as formas de dominação
vão se transformando e se adaptando aos interesses e exigências de cada
época. Mas o exercício de poder nunca deixou de existir. Desde suas
origens, as relações sociais já possuíam contradições e conflitos de
interesses.
A modernidade e o futuro próximo são caracterizados pela transição de
uma forma de dominação designada disciplinar para a dominação de
controle, na qual a diferença básica consiste na expansão do controle
exercido sobre a população de sistemas fechados, como as escolas,
hospitais, empresas para um controle mais sutil e abrangente exercido
sobre a subjetividade, a interioridade de cada cidadão.
Na sociedade disciplinar, há uma supervalorização do trabalho, do
esforço fatigante e da superprodução. A filosofia de vida do trabalhador
é estar sempre se superando e produzir cada vez mais e melhor. Já a
sociedade de controle privilegia a venda e a imagem dos produtos,
valoriza a produtividade independente e se foi preciso um grande ou
pequeno esforço para tal.
A empresa moderna percebeu que o domínio era mais eficiente a partir do
incentivo às pessoas fazerem o que desejam e que também seria
interessante para a empresa, pois os indivíduos são naturalmente
ambiciosos e desejam ser produtivos, eficientes e, assim, aprovados
pelos demais.
A sociedade moderna investe no potencial humano, na inovação, no
trabalhador participativo, comunicativo e motivado a tomar iniciativas
que lhe beneficiem e também à empresa e à venda de seus produtos.
A subjetividade tornou-se um objeto de estudo, investimento e fonte de
novos problemas e doenças na sociedade, conforme os valores - que são
subjetivos - e a autoridade - que representa os limites que cada cidadão
não deve ultrapassar - tornam-se cada vez menos palpáveis e determinados
e tudo começa a ser questionado. As opções de escolha das pessoas
aumentam , assim como os conflitos e responsabilidades relativas ao
livre-arbítrio.
As relações ficam mais complexas, os sexos quase se igualam quanto a
direitos e deveres, não se sabe mais qual papel é de quem e, assim,
surgem também as psicopatologias da modernidade, como a neurose da
excelência, depressão, ansiedade, transtorno do pânico, bulimia,
anorexia…
O corpo humano possui um valor como nunca teve antes.
Contraditoriamente, também é objeto de agressão como nunca. A forma de
dominação deixa de ser repressora e proibitiva e passa a ser incitadora
dos instintos - da ética do dever para a ética do desejo, a mentalidade
torna-se libertária, narcisista, competitiva ao extremo.
A importância da mídia é fundamental no exercício de poder
contemporâneo. O sujeito é cercado por todos os lados por propagandas,
informações que quer e que não quer e fica mais imperceptivelmente à
mercê dessa “era da tecnologia”, pois é preciso aderi-la para sobreviver
na sociedade capitalista. Difícil é conseguir manter-se sujeito dono de
si, com certo controle e consciência de seu tempo, espaço, de sua vida,
sem se entregar de corpo e alma a todas as exigências da cultura.
O filme “O show de Truman” - show da vida no qual o diretor produz um
show 24 horas, sendo o personagem principal alienado da verdadeira
realidade de sua vida e submetido a viver a história que lhe foi imposta
sem ter consciência de que sua vida é um palco de divertimento para o
resto do mundo - é um bom exemplo desse controle sutil e bastante
sedutor dos meios de comunicação. O diretor manipula a curiosidade dos
espectadores, argumentando que Truman vive em um paraíso onde qualquer
um gostaria de viver. No fim do filme, Truman descobre a farsa e chega à
porta que delimita o mundo externo e o que o manteve trancado por todos
os anos. É interessante notar que nessa hora o diretor diz que conhece
Truman mais do que ele próprio e sabe que Truman está com medo e que não
vai sair pela porta porque pertence àquele mundo. É aí que o personagem
rompe a relação de controle e mostra que, apesar de sua vida ter sido
analisada pelo diretor o tempo todo, ele é um sujeito com pensamento e
idéias próprios e capaz de escolher o caminho que deseja seguir.
A sociedade atual vive, portanto, um período de mudanças e
instabilidades, marcado por progressos notáveis assim como novos
problemas. Cabe a cada sujeito não se deixar encaixar em rotulações ou
perspectivas muito pessimistas ou muito otimistas e lutar para construir
uma percepção real, porém não sem esperanças, da vida e poder aproveitar
as oportunidades de prazer que lhe são oferecidas, sempre considerando a
natureza e o contexto em que está inserido. |
Tania Montandon nasceu em Uberaba em 1978,
é autora do livro de poesias "Viagem ao Léu " pela editora Armazém de
Idéias - pequena amostra no
Recanto
das Letras, participou da "Antologia
Digital de Blocos Online VIII",
participa de outra antologia pela Usina de Letras com duas poesias que
ainda não foi publicada, está com um livro "Pensando HumanaMente" pronto
para publicar, é graduada em Psicologia e participa de sites na web
publicando artigos soltos de psicanálise, psicologia, atualidade,
poesias, contos e crônicas. É colaboradora semanal do
Jornal O Rebate,
possui trabalhos em
Blocos Online,
Garganta da Serpente,
Ala de
Cuervo,
Mulheres Escritoras,
Rede Psi,
Revista Maria Joaquina,
Simplicíssimo,
Toca do Escritor,
entre outros. Criou a rede de amigos blogueiros e artistas
Jornal dos Blogs
. Portadora de transtorno esquizoafetivo, encontra na arte, na
literatura e na filosofia a alegria do encontro de subjetividades mais
humanas e menos contaminadas pelo estigma e hipocrisia da sociedade
moderna atual.
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