Ela corria pela ravina
quand’eu lhe gritei:
desce, amor, sou eu.
Ela me perguntou:
o que me trazes,
o que me ofereces?
Trago no meu corpo
o perfume da terra áspera,
o cheiro da terra
na primeira neblina,
para ti eu trago.
Nos meus olhos,
o fruto amanhecente
numa aurora de ouro,
às tuas narinas,
eu trago o fruto.
Trago também, só para ti eu trago
o furor da tempestade,
o tremor do vento do deserto,
que de dia é quente,
que de noite é frio,
e aos teus cabelos não negarei
o arrepio
nem o mergulho,
não negarei...
E na ponta dos meus dedos
um dedilhar suave,
uns tons de sol,
uns tons de lua:
esquadrinharei todo o teu rosto,
pétala a pétala,
numa manhã de rosa.
— Agora vem! Desce, amor!
Foi quand’ela saltou,
desequilibrou-se, nem sei,
de despenhadeiro abaixo,
e suavemente, pela cintura,
nos pousamos:
eram touceiras azuis
dos manjericões de cheiro.
Salvador, Ba, noite leve, 31.10.1995 |