Sim,
a porteira do caminho do rio
ainda era a mesma.
A direção do rio também;
presumo não tenham mudado o rio.
O benjamim,
disseram, morrera na Seca do 93;
arrancaram-no pelo tronco.
Não replantaram sombra,
nem pássaro.
O banco de aroeira,
racharam-no em lenha de fogo;
O curral das vacas,
também racharam-no.
O chiqueiro das ovelhas,
à esquerda da casa
e o dos bodes,
à esquerda do das ovelhas,
sumiram todos.
O batente da porta-da-frente,
e abaixo dele, outro batente,
onde uma pedra,
com um caneco d’água
lavei os pés,
ainda estão lá,
os batentes;
e nos batentes também estavam
meus rastros em riscos de fogo,
que continuam.
Os canários amarelos,
os mofumbos florados,
não os vi;
nem Flor...
que também não vi.
Os armadores da rede,
na sala-da-frente, sim,
estavam no lugar,
outra vez
prontos para rangir.
E daquelas pessoas,
quando perguntei por elas,
fizeram-me um gesto distante.
Perguntei por mim,
ninguém sabia quem era.
Eu disse:
é um conhecido meu que gostava muito
daqui.
Perguntaram-me quem eu era.
Um amigo — disse —,
e fiz um gesto
ao tempo.
Ficaram sentidos por não saberem
nem de mim, nem do “outro”.
Uma criança pequena começou a gritar,
lá dentro.
A mãe correu
para acudir.
Despedi-me
sem dizer palavra.
Salvador, boca da noite, 14.05.1995 |