Sempre recusei estatuto de “herói”: no meu
entender, se heróis houve na resistência ao fascismo, será ele o povo
português, que assumiu a resistência na pele, no corpo e no espírito.
Incapaz de se rebelar abertamente contra a opressão, deixou aos que
viveram as prisões políticas, aos que sofreram as sevícias dos esbirros do
regime, o encargo de serem apenas aqueles que, mal ou bem, tiveram maior
consciência política (e tiveram, de alguma forma, oportunidades para
lutar). Não significa que, após a minha saída do Forte de Peniche, não
sentisse uma certa aura que se criara em meu redor – era um antifascista,
um ex-presidiário! Afinal, a mesma aura que eu, antes, divisara nos que
podiam reivindicar o mesmo passado.
A década que veio a seguir foi difícil, pontuada
por crises ideológicas que as circunstâncias precipitaram. Hoje procuro
equacionar os factos, relendo – com os olhos de hoje e sem arquitetar
culpas ou desculpas – as ondas pelas quais passei e nelas esbracejei. Como
já o referi, as circunstâncias permitiram que quase sempre estivesse nas
cristas: fui fruto delas. Vieram ao meu encontro.
De novo nos braços da Dúlia, deveria reorganizar as
condições de vida. Estivemos em casa de Acácio Barradas durante uns dias e
aí me confrontei com uma esdrúxula situação: ao cabo de cinco anos de
prisão, encontrava no regresso a mulher menstruada. Transferimo-nos pouco
depois para um oitavo andar em prédio novo da Reboleira e o meu filho,
quatro anos de idade, frequentava um jardim-escola ao Paço da Rainha:
ficava com os meus sogros em sua casa, na Rua do Telhal. Procurei
trabalho, retornei à Enciclopédia onde fui redator em
part-time,
efusivamente acolhido pelos meus antigos e novos colegas.
Tive a sorte de ser cooptado pelo “Comércio do
Funchal”, o jornal cor-de-rosa. Não me recordo de como comecei esta
colaboração que, desde o início, encobri com um pseudónimo não só por
razões relacionadas com a censura (se escrevesse com o meu verdadeiro
nome, em razão do meu passado político, seria muito mais rigorosa) mas
também por estar em regime de liberdade condicional e ter que me
apresentar à PIDE de quinze em quinze dias.
Das primeiras três vezes que cumpri as disposições
judiciais, não houve problema. Contudo, na terceira quinzena que lá fui,
um agente provocou-me e tratou-me por tu, o que seria politicamente
intolerável. Irritado, retorqui: “não aceito nenhuma provocação vossa.
Exijo que me tratem respeitosamente por senhor. Não sendo assim, façam o
que quiserem, se necessário volto à cadeia, mas nunca mais me apresentarei
à PIDE”. Por razões que desconheço, a recusa em me apresentar não teve
represálias – porventura, a polícia política tinha mais em que se ocupar:
os anos de 1973 e 1974 foram de numerosas prisões, muita repressão, o
movimento estudantil estava em “brasa”, os grupos políticos
multiplicavam-se.
Nessa altura, tinha já reatado a atividade
militante clandestina. Ainda na prisão e através de Dúlia, dera a minha
anuência ao recrutamento proposto pelo Comité Comunista de Portugal, CCP,
que Manuel Quirós (ex-militante do CMLP regressado de Peniche onde
cumprira pena) ativara juntamente com outros companheiros, inclusive a
minha mulher. Dera a entender na cadeia a Francisco Martins Rodrigues a
opção que me fora proposta: acertámos ser meu dever atuar para unir os
grupos então dispersos e cuja orientação interessava conhecer. Mas, desde
logo, as teses defendidas pelo MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido
do Proletariado) foram rechaçadas: condenava-lhe o radicalismo – “chutam
com os dois pés ao mesmo tempo”, criticava-os. Aproximava-me das posições
defendidas pelo PCP-ml (liderado por Eduíno Vilar em Paris), em cuja
órbita estavam Luís Feronha, Vitor Catanho e João Marques de Almeida,
todos vindos da antiga FAP e ex-reclusos de Peniche. Também do grupo “A
Verdade”, uma cisão no PCP-ml, onde sabia que pairava o ex-meu companheiro
no movimento estudantil, Ferraz de Abreu. E ainda do CML de P, conhecido
por “Bolchevista”, liderado desde Itália por Bento Vintém. Com alguma
atenção observava o grupo formado em torno de Carlos Guinote (Comité
Comunista Revolucionário), com o qual – estava eu ainda preso – Dúlia
mantinha contactos. Quanto à URML e ao “Grito do Povo”, cujo “massismo”
criticava, eram com desconfiança seguidos à distância, conhecendo embora a
atuação de alguns destacados elementos, com os quais mantinha relações.
Apesar das clandestinidades, quase toda a gente
sabia onde estava onde e quem era quem, o que facilitava a atuação da
repressão quando e como ela a quisesse. Era um mundo surreal o que
politicamente acometeu os últimos anos do “marcelismo”: a PIDE fechava os
olhos, consentindo uma situação que, aparentemente, controlava.
Objetivamente, a chamada extrema-esquerda não representava perigo. Neste
ínterim, cada qual tentava aperceber-se da posição por mim assumida, onde
eu me enquadrava. A meu favor, jogava o facto de o CCP ser ainda mal
conhecido, de não assumir abertamente um posicionamento definido e todos,
cada um a seu modo, tentarem ganhar-me para o seu lado. Caricatamente, no
termo de mais uma reunião da redação de Lisboa do “Comércio do Funchal”, o
João Marques de Almeida pediu para falar em particular comigo –
desconfiava do que se tratava. Tinha conhecimento das intrigas urdidas,
sabia dos boatos lançados, das invencionices arquitetadas. Aceitei
conversar com ele num café ao pé do Areeiro.
Atrapalhado, o João desbobinou que me poderia ter
chegado aos ouvidos que estivera envolvido na atoarda contra mim atirada:
corria o boato de que eu me ”tinha passado para a PIDE, tinha sido visto
com um inspetor da polícia política num cinema em Lisboa” quando afinal
estava preso no Porto. Jurava-se a infâmia a pés juntos. Resolvi ser
cínico. Respondi-lhe: “Se andaste a dizer isso, não sei nem me interessa.
Se não o disseste, tudo bem; se o disseste, o problema agora é teu – terás
que explicar a toda a gente que isso era um boato sórdido, para
justificares que andas comigo”.
Desde essa noite ficámos amigos: o João foi,
durante anos, quase um alter-ego,
facto que religiosamente cumpriu. As relações com Quirós iam-se
desenvolvendo: aproveitei um conhecimento que tivera com um amigo de Campo
de Ourique (cujo nome não me lembro) para o introduzir como redator nos
“Cadernos da Maria da Fonte”. Meses depois, foi rampa de lançamento para a
criação do CARP-ML (já a minha relação com o Manuel Quirós se desfizera:
em reunião havida na Patameira, perto de Sobral de Monte Agraço, numa casa
arrendada pelos tios da Dúlia, os responsáveis do CCP - entre os quais ela
e eu - expulsámos o Quirós que se retirara da circulação depois das
prisões de militantes dos CCR, dando desse modo a entender à PIDE que
havia com eles algum relacionamento nosso – era um erro conspirativo).
Reestruturámos o Comité e transformámo-lo em União Comunista
Marxista-Leninista.
Dessa reunião saiu como ponto fulcral o conceito de
“vanguarda” do movimento como motor para a construção de um partido - tese
que era, a um tempo, o relembrar da antiga “Iskra” (que dera origem ao
bolchevismo leninista) e a contraposição às teses “massistas” da
generalidade das organizações que se afirmavam maoístas e valorizavam a
máxima lassalliana: “o movimento é tudo, o objetivo é nada”. Daí emergiu o
conceito de “vanguarda vermelha”, o grupo marxista espoletador, a faúlha
(“iskra”, em russo). Caíamos afinal no erro dos demais –
sobrevalorizávamos um aspeto em particular e afastávamo-nos do que por nós
fora apresentada como preocupação fundamental: a unificação dos grupos
dispersos. O sectarismo punha a cabeça de fora.
A reestruturação do CCP e a criação da UC-ML impôs
o que entendia ser necessário: a minha autocrítica. Não me pesava na
consciência ter sido diretamente responsável pela prisão de ninguém
aquando da minha detenção no Porto, embora durante muito tempo estivesse
receoso de que, por tabela, criara condições para a prisão em Espanha da
secretária-geral do seu Partido Comunista marxista-leninista (o que veio a
confirmar-se que não), mas entendia que o meu comportamento nos
interrogatórios não correspondia às exigências. Nas condições da década de
70, esta era uma pedra de toque. Em consequência, fiz a autocrítica à
organização e criei as condições para não pertencer à sua direção, o que
terá sido o começo de um distanciamento que me levaria à rotura.
No primeiro de maio de 1973, fomos almoçar em casa
dos meus sogros e comemorámos o aniversário de casamento. Embora o
casamento oficial, por imposição da PIDE, só se tivesse celebrado a 2 de
maio, escolhemos o dia 1 para o festejar. Depois da festança, dirigimo-nos
ao Rossio para apanhar o comboio para a Damaia, passando pelo largo a fim
de espreitar o ambiente da manifestação para aí convocada. Quando
atravessávamos a praça, fomos interpelados por polícias à paisana: “o que
fazes tu aí?”. Retorqui: “de onde é que me conheces para me tratares por
tu?”. Nada mais disse. De imediato, uma matilha de paisanos caiu sobre mim
à bastonada. Fomos presos, levados para a esquadra da polícia nas
traseiras do teatro D. Maria II onde meia dúzia de sipaios me agrediu com
o punhete dos cassetetes: foi quase meia hora de feroz bordoada enquanto
me exigiam, sem o conseguirem, que me silenciasse. Ao princípio da noite
levaram-nos para o Governo Civil, fui enclausurado numa cela com mais uma
dúzia de detidos, todos arrebanhados no Rossio… pela simples razão de
estarem lá. Até foi preso um neto do ex-Presidente da República Craveiro
Lopes, rapaz novo, que fora a uma loja do Rossio comprar um peixe vivo
para colocar num aquário – chorava como bebé desmamado. Com o frio da
noite, começaram-me a doer os vergões causados nas costas pelas bastonadas
e, no chão da sala onde estávamos detidos, fiz flexões para ativar a
circulação sanguínea e abrandar as dores. Todos me consideraram doido.
No dia seguinte, fomos transferidos para o Forte de
Caxias. Em massa e Dúlia comigo. A filha de José Saramago, a Violante
(militante acirrada do MRPP), que fora presa na manifestação, gritou à
saída da carrinha que nos transportava: “protejam a cabeça com os braços
para não serem agredidos”. A maioria dos presos assim fez. Mas os
pides que nos aguardavam
mostraram-se indiferentes à nossa chegada. Fomos guardados numa ampla sala
das garagens (Caxias estava cheio) e só dois dias depois me levaram a
interrogatório conduzido pelo inspetor Tinoco: “Boa tarde, está mais
gordo!”, declarou ele quando me viu. Respondi-lhe: “E você está mais
velho”. “Não esteja preocupado, sr. Rebocho. Isto não é como o que lhe
aconteceu da outra vez. Só queremos saber o que fazia no Rossio…”.
“Moramos na Reboleira. Íamos apanhar o comboio”. Felizmente, e sem o
combinamos, Dúlia deu-lhe a mesma justificação. Quinze dias após fomos
devolvidos à liberdade.
No dia em que nos libertaram, Tinoco chamou-nos:
“Vão ser libertados. Vimos que não têm transporte, por isso a PIDE vai
levá-los a casa”. “Nem pensem nisso. Entendo a vossa jogada – querem que
nos vejam e nos atirem insinuações. Agradecemos, mas seguiremos pelos
nossos próprios meios”. A nossa libertação, sossegou-me: ou não tinham ido
vasculhar a nossa casa, ou os camaradas tinham lá ido retirar a papelada
clandestina que nela havia. Se me apanhassem essa documentação, como
estava em liberdade provisória, seriam mais três anos de prisão. Também me
tranquilizava quanto a eventuais acusações contra Dúlia que poderiam advir
das detenções dos CCR.
A minha libertação foi festejada pela rapaziada do
“Comércio do Funchal”- principalmente pelo Vicente Jorge Silva que,
episodicamente, viera a Lisboa -, pelos meus colegas da Enciclopédia e
pelos camaradas da UC-ML. Resolvi participar queixa à Judiciária conta as
agressões sofridas no Rossio. O agente da PJ que recebeu a queixa (soube
depois que era um infiltrado da PIDE), referiu-me que os agressores eram
“agentes da autoridade”, ao que retorqui: “se me garante que, neste país,
qualquer energúmeno à paisana, que impunemente agrida um cidadão, é um
agente da autoridade, até concordo. Mas ponha como afirmação sua”. O
processo por mim movido nunca deu em nada. Ficavam, porém, a saber que os
incomodaria enquanto pudesse.
Retomei a atividade. Sentia-me confiante. Nessa
época tinha conceção puritana do trabalho militante, de certo modo em
reação a leituras de Roger Vaillant: “não se entra no comunismo como quem
entra num prostíbulo”, proclamava eu. Fumava desalmadamente, não bebia e
começara a tomar comprimidos de Lipoperdur (para não dormir), que o Carlos
Marinheiro (era delegado de propaganda médica) entretanto me arranjara.
Estava dois e três dias sem ir à cama, lia e escrevia, participava em
reuniões. E estava profundamente apaixonado.
Em 1974, nasceu a nossa segunda filha. Quisemos
chamar-lhe Liberta - estávamos convencidos, tendo em conta o rumo que as
coisas tomavam, que a sua geração já se veria aliviada da opressão
fascista. Fomos registá-la e tivemos a surpresa de os Serviços recusarem o
nome. Ironizei: “Pretendem então que, em Portugal, não podem ser libertas?
Talvez se enganem…”. Era assim o ambiente vivido durante o regime
ditatorial – até para registar o nome de uma criança havia censura (o
mesmo acontecera com o meu registo: era para me chamar Nelson, ao encontro
da tradição britânica da família. Negaram o propósito “porque era um nome
inglês”). Na emergência, perguntei a Ernesto como iria chamar-se a irmã.
Foi ele quem lhe deu o nome de Susana.
Saíram entretanto da cadeia, em Caxias, os detidos
do grupo “O Comunista” (Joffre Justino e José Mário). Decidimos ir a sua
casa em Santo António dos Cavaleiros e apalpar o terreno, tentar saber da
sua disposição. Chegara também a Lisboa, vindo de Moscovo com passagem por
Cuba, um velho exilado, figura mítica da luta comunista – o Chico da CUF
(Francisco Ferreira). Fora, durante anos, a voz do PC na clandestina
emissora “Portugal Livre”. Rompera estrondosamente com os cunhalistas, que
veementemente acusava. Ultrapassando receios, resolvi ir a sua casa, em
Rio de Mouro. Continuava interessado em conhecer minúcias das histórias da
clandestinidade.
Já Dúlia se empregara como revisora do jornal
“República”. A célebre greve da fábrica de limas de Vieira de Leiria (Tomé
Feteira) despertou-nos a atenção e fomos até lá. Com o nome de Luísa
Pimentel, ela preparava um texto para o “Comércio do Funchal” e, quanto a
mim, servia-me do pretexto de a acompanhar para arrebanhar contactos na
fábrica – era o “trabalho” partidário em ação. Fomos com um camarada da
direção do Sindicato dos Técnicos de Desenho que igualmente militava na
UC. Dúlia levou ao colo a nossa filha Susana, recém-nascida. Embora
estivesse sujeito a medidas de segurança que oficialmente me impediam de
sair de Lisboa, nesse momento já eu desafiava quase abertamente as
interdições da PIDE. À noite, no regresso para a capital, cruzámo-nos na
estrada com a coluna militar que fez o fracassado levantamento das Caldas
da Rainha. Era o 16 de março de 1974.
Soube depois que, em reportagem para “O Século”, o
Carreira Bom acompanhara esse movimento
putchista. Depois do 25 de
abril, participei, em casa do meu amigo capitão António Ramos (que
participou no golpe), numa reunião com outros oficiais que vieram na
coluna e, em consequência, foram presos no Forte da Trafaria – Manuel
Monge, Casanova Ferreira e outros – para discutir porque o golpe falhara:
a “conspirativite” levava-os a deduzir que houvera “casca de banana”
atirada pelos radicais do Movimento dos Capitães a fim de aniquilar a ala
que, depois, se denominou “spinolista”. Teria havido compromisso de que
outras unidades os seguiriam, o que não aconteceu – todos ficaram a ver.
Nessa convicção, o regimento saiu em direção à capital. Na reunião no Alto
de Algés, fazia-se finca-pé nesta alegação. Foi, todavia, uma leitura que
nunca encontrou pernas para andar, embora nunca a tivesse totalmente
descartado.
Mudáramos da Reboleira para uma velha casa cedida
por uma tia de Dúlia na Rua dos Barbadinhos, à Graça, mesmo nas traseiras
do Quartel de Sapadores. Colegas da Dúlia, tipógrafos do “República”
(Caldeira, Joaquim Dias, Valente…) visitavam a nossa casa. Tinham em comum
o terem sido militantes comunistas, passado pelas prisões do regime e
identificavam-se de algum modo com as nossas ideias. Daí até ser criada
uma célula partidária de tipógrafos foi um passo. Na altura, procurava
também organizar células clandestinas entre trabalhadores bancários,
ourives e técnicos de desenho.
Caldeira vinha algumas vezes jantar a nossa casa
para comer umas “funchalinas”
(como ele lhes chamava). Eu aproveitava o emprego de Dúlia para contactar
os “velhos” resistentes que ali trabalhavam: na sua revisão, estava uma
lenda do anarquismo português, Francisco Quintal, com quem gostava de
conversar e recolher histórias dos movimentos tendentes a derrubar a
ditadura salazarista. Havia também outro anarquista (de cujo nome não me
recordo), casado com uma basca – combatera na Guerra Civil de Espanha.
Aprisionado pelos franquistas, cortou a língua para não falar nos
interrogatórios dos fascistas.
Na redação do “República” ia também fazendo
conhecimentos: Mesquita Machado, Maia Cadete, Vítor Direito, Álvaro
Guerra… Raul Rego, então diretor do jornal, nada
representava (nem representou) para mim: apenas tinha nome, integrava o
que definia como “jarrões do republicanismo”, com fama de oposicionistas,
mas que serviam para dificultar a luta para subverter o regime. Na
prática, eram ferozes anticomunistas, o que para mim era então crime.
Na noite de 24 de abril de 1974, jantámos em nossa
casa e estivemos a conversar com o Fradique Caldeira até altas horas da
noite. Estávamos animados com uns panfletos do chamado “Movimento dos
Capitães” que nos chegaram às mãos através do “República”. Fomos
deitar-nos tranquilos. Por volta das cinco da manhã do dia 25, despertámos
com o toque do telefone. Era o Caldeira, lacónico: “Urgente. Oiçam o Rádio
Clube Português”. E desligou. Acendemos o aparelho de telefonia: era o
esperado golpe de Estado. A revolução estava na rua.
Nuno Rebocho
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