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NUNO REBOCHO |
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Recordando Ronaldo
Werneck |
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Foi durante a realização do Cineport, Festival do
Cinema da Lusofonia, em Lagos (Portugal), que conheci o Ronaldo Werneck.
Porque é de Minas Gerais, de Cataguases, crismei-o de Ronaldinho Mineiro,
à guisa de réplica do outro Ronaldinho. Claro que o Mineiro, dado que é um
grande poeta, vale muito mais do que o outro, que só chuta na bola e, por
via disso, ganha o que sabe.
Pelas mãos do Mário Alves (da ONG Etnia) tomei
conhecimento e amizade com o Ronaldinho. Começámos então uma andança que
passa por troca de e.mails e de livros e me levaram um dia a João Pessoa,
na Paraíba, a outro Cineport. E aí, entre algum chope e
carne de sol, cimentou-se ainda
mais essa amizade que acabou comigo a, de certo modo, prefaciar-lhe um dos
seus livros de poemas.
Foi por via do Ronaldo Werneck que cheguei a outras
amizades que emolduram atualmente o meu círculo de relações, como sejam o
realizador angolano Zézé Gamboa ou o cabo-verdiano Júlio Silvão, com quem
trabalhei na filmagem sobre Eugénio Tavares, que mereceu um prémio do
Doc-CPLP.
Enfim, devo muito a esta amizade com o Ronaldinho
Mineiro, que inclusive me abriu as portas a outros relacionamentos, como o
poeta de Porto Seguro, Wilmar Silva, colaborando depois numa sua antologia
de escrita lusófona.
Com muita galhofa pelo meio, os meus dias vão se
enriquecendo com estas amizades que fui granjeando pelo mundo e que, de
certa forma, me compensam das tristezas que, infelizmente, recolhi em
Portugal, onde elas, a pouco e pouco, vão minguando à medida que a lei da
morte vai fazendo das suas e a distância vai dilatando esquecimentos.
Gosto de ler os textos do Ronaldo Werneck, se bem que
pouco conheça da cultura brasileira, apesar dos esforços que o falecido
Joaquim Evónio muito caprichou comigo. Pouco mais conseguiu para além de
que eu colaborasse nas antologias “Roda do Mundo”, que se publicavam em
Sorocaba. Mas o Evonio tentou, tentou, tentou ainda que eu fosse avesso a
esses ensaios de descobrir o “Novo Mundo”.
Da devassa por terras brasileiras devo o reencontro com
o José Águalusa, que conheci em Lisboa já lá vão uns anos. Deu para matar
saudades e me animar a outros intentos que a sorte impediu de prosseguir.
Vem isto a propósito do bom do Werneck, o qual – de
quando em quando – vou relendo em meia dúzia de livros que decoram a minha
pequena biblioteca que me acompanha na cidade da Praia, em Cabo Verde, e
onde me vão chegando ecos das memórias que vou espalhando por aí. Vou
nelas homenageando muitas das personalidades que fui conhecendo. E é esse
apenas o seu objetivo.
Nuno Rebocho
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Nuno Rebocho - Nascido em 1945, em Queluz (Portugal), viveu em Moçambique desde os três meses de idade até 1962. Jornalista, poeta e andarilho – bastou-lhe ter estado preso por cinco anos na Cadeia do Forte de Peniche (por cinco anos, motivos políticos), para recusar ser animal sedentário. Viveu a imprensa regional (Notícias da Amadora, Jornal de Sintra, Aponte, A Nossa Terra, Jornal da Costa do Sol, Comércio do Funchal, entre outros), foi redactor da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, das revistas O Tempo e O Modo e Vida Mundial, em diferentes diários e semanários, e é chefe de redacção da Antena 2 da RDP. Colaborador de Acontece en Sorocaba (Brasil) e Liberal (Cabo Verde). Autor de “Breviário de João Crisóstomo”, “Uagudugu”, “Memórias de Paisagem”, “Invasão do Corpo”, “Manifesto (Pu)lítico”, “Santo Apollinaire, meu santo”, “A Nau da India”, “A Arte de Matar”, “Cantos Cantábricos”, “Poemas do Calendário”, “Manual de Boas Maneiras”, “A Arte das Putas” (poesia), “Estórias de Gente” (crónicas), “O 18 de Janeiro de 1934”, “A Frente Popular Antifascista em Portugal”, “A Companhia dos Braçais do Bacalhau” (investigação histórica), está representado em diversas antologias e colectâneas em Portugal, Espanha e Brasil. Tem colaborado em catálogos para exposições de artes plásticas: Ramón Catalan, Deolinda, Carlos Eirão, Alfredo Luz, Edgardo Xavier, João Alfaro, Maria José Vieira, Ricardo Gigante, Ana Horta, Isabel Teixeira de Sousa, Nuno Medeiros, Viana Baptista, Teresa Ribeiro, Rico Sequeira, João Ribeiro, José Manuel Man... Comissariou a Bienal do Mediterrâneo, Dubrovnik (Croácia), em 1999. |
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