E, apesar de tudo, sou ainda o Homem!
Um bípede com fala e sentimentos.
Ao cabo de misérias e tormentos,
Continua
A ser a minha imagem que flutua
Na podridão dos charcos luarentos.
Sou eu ainda a grande maravilha
Que se mostra ao mundo.
O negro abismo que tem lá no fundo
Um regato a correr:
Uma risca de céu e de frescura
Que murmura
A ver se alguma boca a quer beber.
Quanto o grave silêncio da paisagem
Me renega e protesta,
Pouco importa na festa
Deste encontro feliz;
Obra de Arcanjo ou de Satanás,
Eu é que fui capaz
De fazer o que fiz!
Podia ser melhor o meu destino:
Ter o sol mais aberto em cada mão...
Mas, Adão,
Dei o que a argila deu.
E, corpo e alma da degradação,
O milagre é que o Homem não morreu!
Não! Não me queiram na cova que não tenho,
Porque eu vivo, e respiro, e acredito!
Sou eu que canto ainda e que palpito
No meu canto!
Sou eu que na pureza do meu grito
Me levanto! |