A cantilena dos pássaros empolgados
habitando as copas das árvores
ou desenhando severas coreografias nos céus
recorda a todos o tempo em mutação.
Ao alerta estridente
moças de seios empertigados
e rapazes de porte generoso
restituem às praças os tons da sedução.
O reportório dos pássaros
é pacientemente escutado
enquanto o ciclo do azul
instala os hálitos mais nobres.
Esta é a versão bucólica da coisa:
a orgia dos trinados
e os dias de bafo morno
saudando a estação jovem.
A outra, tem a ver
com a flatulência dos pássaros:
os seus distúrbios gástricos
os seus peidos
as suas descargas
sobre carros, calvas, carcaças várias,
gentis anúncios, nada furtivos,
por via anal
de longuíssimas tardes soalhentas
e tépidas noites.
Flores de trampa alada
na sagração da Primavera.
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